CRÍTICA – O ESPAÇO INFINITO

CRÍTICA – O ESPAÇO INFINITO

O espaço infinito (2023) é o filme de estreia do diretor e roteirista Leo Bello (O pequeno Pé-grande, 2016; Retratos da Alma, 2016) em longas-metragens. Protagonizado por Nina (Gabrielle Lopes), uma astrofísica passando por um surto psicótico, o longa apresenta uma jornada pela mente em conflito dessa protagonista.

Logo de início percebe-se que O espaço infinito é um filme sensorial. As tomadas longas e silenciosas ocupam grande parte do tempo de tela do longa e o foco da narrativa escrita por Bello é inteiramente na personagem de Nina, uma astrofísica abalada emocionalmente que acaba por ser internada em uma clínica psiquiátrica.

Dividido não linearmente em três partes, o filme nos apresenta a três “versões” da protagonista: a criança e a adulta antes e durante o surto. O texto sutil e sem clichês do gênero parece se aplicar somente à Nina. A representação da loucura acerta aqui por ser sutil e nada exagerada quando se trata da protagonista. De resto, é como se não houvesse tido tempo para exploração dos outros personagens, o que não interfere de todo na experiência ao assistir ao filme.

Uma das falhas mais aparentes de O espaço infinito é a de que muito do seu pouco tempo é utilizado para exibir o surto da protagonista e pouco sobra para o restante da história. Entendo que o foco da narrativa está na condição delicada de Nina, porém, ao inserir no enredo causa e cura para seus problemas, espera-se que haja alguma exploração dos acontecimentos que a levaram ao limite.

A atuação de Gabrielle Lopes é um dos pontos mais fortes do filme. Sua naturalidade frente à câmera – mesmo com as inúmeras cenas de nudez – faz com que a experiência ao assisti-la seja plausível e sua personagem crível nos momentos de crise. O viés científico da narrativa é pincelado de maneira sutil e um tanto rasa, para falar a verdade, porém, não é algo que prejudique seu enredo.

A busca por uma estrela é tanto o motivo da protagonista ter se tornado uma astrofísica quanto o motivo de seu surto e esse tema basicamente se esgota nisso. Nessa busca se encontra o sentido da existência de Nina e a forma com que ela se relaciona com sua única certeza é válida, apesar de demorar a aparecer dentro do filme.

Como dito antes, a criação de Leo Bello é um filme bastante sensorial, portanto, o andar dos acontecimentos é, em grande parte, lento. Em muitos momentos a natureza – utilizada quase que predominantemente como cenário – toma a tela e sua organicidade se mistura à matéria de Nina. As árvores, pedras e água representam para a protagonista o início e fim de tudo e suas memórias e traumas residem ali, a fazendo voltar sempre ao mesmo lugar. As tomadas em meio a esse cenário são belas e poéticas e agregam muito ao visual do filme.

A exploração de luto e trauma poderia ser melhor, uma vez que o tema só começa a aparecer nos minutos próximos ao fim do filme, e a resolução do problema de Nina se dá de maneira rasa e muito ligeira. Ao fim, percebe-se que a naturalidade do enredo de O espaço infinito se esvai, uma vez que o ritmo dos acontecimentos é alterado e a lentidão a que estávamos acostumados no início dá lugar a uma corrida contra o tempo. É quase como se a personagem de Nina só funcionasse quando em surto e sua versão “saudável” não fosse compatível com a história narrada.

É claro que o roteiro de Bello se empenha em mencionar que problemas psicológicos não se curam milagrosamente e que tudo se trata do processo, porém, ainda assim sua abordagem do tratamento de doenças mentais é rasa e cai no senso comum, ao entregar um final de certa forma “feliz” para sua história.

Deixando claro que não pretendo romantizar problemas psicológicos, o que quero dizer é que tratar do tema de maneira tão simples é uma forma de banalizá-lo, o que não agrega muito à luta de quem sofre de verdade com esses problemas. Ainda assim, o primeiro longa-metragem de Leo Bello é bonito e bem atuado e acredito que seu futuro no cinema será frutífero.

O espaço infinito estreia hoje (10/08) nos cinemas brasileiros.


  Filme: O Espaço Infinito
Elenco: Gabrielle Lopes, Welligton Abreu, Luciana Domschke, Adriana Lody, Sergio Sartório, Gaivota Naves, Gabriel Sabino, Isabela Ferrari, Anna-Maria Hefele.
Direção: Leo Bello
Roteiro: Leo Bello
Produção: Brasil
Ano: 2023
Gênero: Drama
Sinopse: Internada em uma clínica psiquiátrica, Nina desencadeia o início de uma jornada em seu próprio inconsciente, uma busca para encontrar um caminho para a realidade compartilhada.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Pandora Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 5,5

*Estreia dia 10 de agosto de 2023 nos cinemas*

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