A cada ano que passa, o cinema de horror anda se tornando muito mais do que apenas filmes com sustos e figuras sobrenaturais, mas também trazendo reflexões importantes que condizem com a sociedade atual. Apesar disso, não se pode negar que personagens assustadores ainda são uma grande parte dos filmes de terror, se tornando facilmente ícones da cultura pop. No mais novo longa inspirado em um dos contos de Stephen King, O Macaco, temos um pouco dos dois: um brinquedo amaldiçoado que reflete superficialmente um debate acerca de uma masculinidade tóxica. Com tons de comédia, a obra reinventa um gênero que nos últimos tempos costuma manter a mesma fórmula.
Misturando terror com uma comédia ácida, o filme consegue ser engraçado sem perder a estética do gênero do horror. Com muita personalidade, constrói momentos tensos com pequenas piadas que não destroem completamente a atmosfera do filme. Os desastres que seguem o protagonista não são apenas caricatos, mas funcionam como um presságio de que algo muito maior e pior virá a acontecer. Se diferenciando de muitos filmes de comédia e terror atuais que acabam se perdendo em um gênero ou outro, esse longa usufrui da dualidade para se construir algo totalmente diferente.
Independente disso, não podemos ignorar o subtexto por trás de toda essa narrativa de um macaco amaldiçoando um protagonista que se vê sem uma perspectiva de futuro. Ao se tratar de um personagem com problemas para seguir em frente após uma infância traumática, um grande cenário é criado. Sendo por causa da conturbada relação fraternal, a ausência do pai ou até a morte inesperada de sua mãe, os gêmeos Hal e Bill (ambos interpretados por Theo James em suas versões adultas) crescem se afastando de toda e qualquer interação humana, mas seguindo duas vivências completamente distintas. Por meio dessa metáfora sutil, a história transmite ao telespectador como uma mesma base familiar pode desenvolver indivíduos diferentes. No pior dos casos, o apelo para a violência acaba sendo uma forma de descarregar as angústias vividas pelos irmãos, por não saberem lidar com a dor da perda. Enquanto um acaba causando o sofrimento de certa maneira não intencional, o outro busca uma forma de realmente ferir os outros, sendo nesse caso, o macaco.
Apesar de não ser de hoje que o diretor do longa, Osgood Perkins, gere opiniões completamente opostas, não se pode negar que esse filme condiz com a estética cinematográfica que ele segue. Utilizando de debates atuais, as obras que não necessariamente se passam nos tempos de hoje retratam uma sociedade não longe da atual. Ao construir uma relação parental entre o protagonista e seu filho, se passa a mensagem do quão prejudicial a reprodução de comportamentos em gerações futuras pode ser para a evolução de qualquer pessoa. De forma quase lúdica, temos uma reflexão sobre a necessidade de expor e entender as próprias emoções e como lidar com elas, mas acima de tudo isso, a atmosfera de terror não é, em momento algum, ofuscada pelo que a obra deseja passar.
Com isso, é necessário mais uma vez relembrar da atuação de Theo James, que traz vida a esses dois personagens opostos de maneira muito singular. Mesmo com personalidades completamente distintas, ele consegue construir os dois de maneira consistente, de forma que a única semelhança deles seja algo não tão visível quanto a aparência, mas sim a dor de uma infância traumatizante.
O Macaco, portanto, pode ser visto como um filme controverso para muitos, mas faz parte de uma grande crescente de filmes de gênero que andam se tornando capazes de trabalhar suas sutilezas sem esgotá-las. Ultrapassando as barreiras do real e imaginário, se torna uma obra que assim como a vida, é imprevisível para todos que a assistem.
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Filme: The Monkey (O Macaco) Elenco: Theo James, Tatiana Maslany, Christian Convery, Colin O’Brien, Adam Scott, Elijah Wood, Rohan Campbell Direção: Osgood Perkins Roteiro: Osgood Perkins Produção: Canadá, EUA Ano: 2025 Gênero: Comédia, Terror Sinopse: Dois irmãos gêmeos encontram um macaco de brinquedo que pertenceu ao seu pai. Quando percebem coisas sinistras acontecendo à sua volta, os dois se desfazem do boneco e seguem com suas vidas. Após anos afastados, eventos terríveis começam a se desdobrar e os irmãos precisam se reunir para destruir o brinquedo antes que todos que amam morram. Classificação: 18 anos Distribuidor: Paris Filmes Streaming: Indisponível Nota: 8,0 |