CRÍTICA – O RESORT

CRÍTICA – O RESORT

Filmes de terror são como pedras no meu sapato. Já passei pela fase de achar que todos eles seriam desprovidos de qualidades, mas hoje creio que eu não tenha um dedo bom para escolher quais destes filmes assistir. É bem verdade que alguns eu já até tenha em mente que dificilmente me agraciará com uma boa surpresa e este foi o caso de O Resort, filme de 2021 que está disponível no catálogo de nossa parceira Looke.

Preciso deixar claro que não tenho um grau de exigência muito elevado. Acredito que filmes possam ser mais do mesmo – e até gosto desses –, contanto que sejam bem pensados e executados. Nenhum filme precisa, necessariamente, apresentar algo novo, fora da caixa, para só assim cair no meu gosto. Mas o mínimo que cobro – como se eu tivesse algum poder sobre isso – é que os elementos utilizados dentro daquela narrativa façam sentido e nos conduzam de forma a imergirmos naquela história. E não creio que isto seja pedir demais.

O Resort conta uma história de quatro amigos, dois garotos e duas garotas (padrão), que vão em uma viagem para conhecer um hotel dito como assombrado e cheio de histórias macabras sobre ele. Esta é uma viagem em comemoração ao aniversário da protagonista Lex (Bianca Haase). O filme vai e volta no tempo. Nos primeiros minutos temos uma ideia do mal que existe no hotel e algumas cenas após vemos Lex hospitalizada, sem os seus amigos e sendo interrogada. Não precisamos de muito mais informações para entendermos o que houve. Mesmo assim, para que exista o filme, vamos acompanhar todo o relato de Lex para o detetive que, incrédulo, ouve e anota tudo, mas sequer manda fazerem uma busca no local.

Os diálogos das cenas no quarto de hospital são de uma falta de criatividade e de um total amadorismo que impressionam. Mas os problemas não ficam apenas nisso. Essa falta de criatividade é notada também quando o diretor Taylor Chien lança mão de muitos minutos para ficarmos, juntos com os 4 amigos, assistindo a uma reportagem sobre o hotel. São três minutos acompanhando isso e só isso. É de uma pobreza absurda. E este não será o único momento do filme em que veremos o diretor sem saber como preencher o seu filme. Filmagens aéreas da ilha com uma trilha sonora alta, que mais faz lembrar um comercial qualquer tomarão mais alguns minutos também. Cada cena assim vai frustrando o espectador, pois para um filme de terror, muito embora eu acredite que não precise ter sustos atrás de sustos, o filme vai levando para caminhos bem distantes, provando que o diretor está perdido na trama que está a desenvolver.

Os desenhos dos personagens são extremamente tacanhos. A protagonista Lex é a garota bonita, estudiosa, tem um affair pelo personagem bonitão além de sonhar em se tornar escritora, tal qual Stephen King (seu ídolo). Temos um jovem, Sam (Michael Vlamis), que serviria de alivio cômico, se ele não fosse totalmente desprovido de humor. As tiradas engraçadinhas não funcionam nem como alivio cômico e nem como predecessor de alguma cena mais impactante, como é praxe para este tipo de filme. No final, este personagem, na verdade, é apenas um beberrão sem qualquer objetivo na trama. O papel de galã fica para uma versão barata e loira de Jason Momoa. Chris, vivido pelo ator Brock O’Hurn, é o par romântico da protagonista. Faz suas vontades e está sempre por perto para zelar por ela. E pronto acaba aí a profundidade do personagem. Por último sobrou a personagem Bree, uma garota loira e “burra” – o diretor utiliza claramente desse estereótipo para desenhar esta personagem -, vivida pela atriz Michelle Randolph

 

O Resort é um filme curto, com apenas 75 minutos, mas que com menos de 20 minutos já somos apresentados a todos os problemas citados acima e mais alguns outros. E se não bastasse tudo isso, o diretor, comprovadamente incompetente, arranja um pretexto qualquer, quando os jovens já estão na tal ilha, para filmar as garotas apenas de biquíni, com direito a closes em seus corpos. Mas isso só acontece depois de uma vagarosa caminhada com direito aos personagens Lex e Sam conversando sobre suas crenças, enquanto que lá atrás Bree e Cris conversam sobre qualquer coisa sem sentido e isso fica tudo no mesmo quadro. O som do diálogo que acontece ao fundo atrapalha o que está sendo dito pelos personagens no primeiro plano. E não há nenhum sentido para que isso ocorra. Mas voltando para a cena das garotas de biquíni, não posso, aqui, deixar de pontuar o uso da câmera lenta, trilha sonora de comercial e uma das personagens emergindo da água com um grande sorriso no rosto, para logo após a câmera descer e focar em seu decote. Isto é cinema?

A verdade é que o filme só se mostra como terror mesmo a partir dos 45 minutos e, para uma surpresa real, a construção do medo é bem eficiente. Até mesmo a criatura/entidade, nas cenas em que aparece, soa assustadora. Uma pena que o respiro de qualidade só aconteça no último ato, pois quando chegamos até aqui já estamos tão desgostosos com o filme, que não há mais volta.

O Resort fica muito preso em cenas belas daquela ilha, muito preocupado com as histórias daqueles quatro personagens – embora não consiga aprofundar com nenhum -, deixando de lado a objetividade de um filme de terror. Infelizmente o medo só aparece nos minutos finais, quando já estamos totalmente desapegados com o filme.


Filme: The Resort (O Resort)
Elenco: Bianca Haase, Brock O’Hurn, Michael Vlamis, Michelle Randolph, Dave Sheridan
Direção: Taylor Chien
Roteiro: Taylor Chien
Produção: Estados Unidos
Ano: 2021
Gênero: Terror
Sinopse: Quatro amigos viajam para o Havaí para investigar fenômenos paranormais e procurar um misterioso fantasma em um resort abandonado. Eles ficam maravilhados com a beleza do local, mas logo percebem que é preciso ter cuidado com aquilo que se deseja.
Classificação: 16 anos
Distribuidor:
Streaming: Looke
Nota: 3,0

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