Sou um pessimista inveterado quando o assunto é o ser humano. Nossa ação sobre a terra, salvo as exceções, é predominantemente (auto)destrutiva. Acredito firmemente que estamos condenados ao fracasso enquanto espécie. E um dia seremos gostosamente expulsos de casa — eliminados, quero dizer — por culpa exclusivamente nossa.
Uma dessas ações autodestrutivas tem a ver com o desaparecimento e tráfico de pessoas. Gente que é brutalmente retirada de sua vida cotidiana para se tornar um escravo, um mutilado ou, no limite, um defunto; só para ficar nas três hipóteses clássicas ligadas a esse assunto tenebroso, talvez o mais obscuro e sinistro de todos.
“Pessoas Humanas” trata de uma de suas ramificações: o desaparecimento de pessoas para retirada e comercialização de seus órgãos. Algo que a gente ouve falar e muitas vezes dá de ombros, afirmando que faz parte do folclore do noticiário policial televisivo. Particularmente, acredito que a possibilidade disso acontecer é bastante grande uma vez que envolve pessoas desesperadas, corrupção e muito dinheiro. E onde há dinheiro em excesso, há sempre desvirtuamento de caráter e de conduta. Simples assim.
O ponto de vista assumido pela narração é o de James, filho do chefão da organização criminosa. Assim como a maioria dos personagens masculinos representados pelo cinema contemporâneo, James também é um frouxo, um sujeito que o tempo todo hesita em fazer o trabalho sujo determinado pelo pai.
São dois aspectos, portanto, que dificultam a identificação com o personagem principal. O primeiro tem a ver com o fato de que James é um criminoso sem carisma; o outro, é sua fraqueza psicológica e moral, sua hesitação diante de uma situação na qual ele é um dos agentes centrais.
Ora, um dos princípios fundamentais do cinema clássico, de decupagem clássica, que é o caso de “Pessoas Humanas”, é o efeito janela criado pela identificação com o herói do filme. Não há identificação possível com James. Acompanhei seu drama com certa indiferença, mais interessado no seu entorno, no conjunto de situações e circunstâncias que o envolviam. Não fui, assim, transportado para dentro do filme, não pelas mãos dele. E não acredito que essa era intenção de Frank Spano, diretor do longa-metragem.
Mas “Pessoas Humanas” não é um filme ruim. Mesmo com atuações irregulares, ele consegue criar expectativa e manter a atenção e o interesse do espectador para ver como aquilo tudo vai acabar. Não sei se funciona no cinema como funcionaria numa daquelas sessões de meio de madrugada, bebendo o resto de coca-cola gelada e comendo o último pedaço de pizza que sobrou do jantar.
Filme: Humanpersons (Pessoas Humanas) |