CRÍTICA – PINÓQUIO POR GUILLERMO DEL TORO

CRÍTICA – PINÓQUIO POR GUILLERMO DEL TORO

Aqui vamos nos abster de fazer comparações com as outras adaptações da história do menino de madeira (porque sim, existem muitas) e vamos focar na autenticidade da obra de del Toro, com a visão de quem assistiu o Pinóquio de 1940 da Disney quando criança e se encantou. É inegável a importância dessa animação para a história, mas quando assisti a versão de Guillermo del Toro e Mark Gustafson, parecia que estava assistindo o que Pinóquio nasceu para ser: Stop Motion

Animação definitivamente não é “coisa de criança”, no sentido de ser exclusivamente destinado ao público infantil, e del Toro o prova com maestria. Quando fiquei ciente de que a próxima adaptação de Pinóquio seria assumida por ele, diretor de ‘A Forma da Água’ (2017), ‘Colina Escarlate’ (2015) e ‘O Labirinto do Fauno’ (2006), tive certeza de que sua história ia ser mágica, sombria e cheia de camadas. 

E, de fato, neste mundo, a magia existe, sim. Mas também existe o luto, as consequências da guerra e da disputa de poder. O que é recorrente na filmografia do diretor, e não escapa desta animação, é a crueldade dos homens. Em suas obras, eles conseguem transformar qualquer coisa em armas e destruição de acordo com seu interesse. O menino de madeira é fortemente rejeitado quando ganha vida, mas glorificado quando esta se mostra valiosa para a guerra e para o lucro.  

Conceitos de forma descomplicada

Ao ser posto no mundo, aprendendo e absorvendo cada detalhe de onde vive, Pinóquio se depara com a dificuldade de ser aceito. A maneira como descobre o fascismo por ser diferente dos demais é simplesmente genial. Na mente de uma criança, não corrompida pelos discursos de ódio e ainda preservada da lavagem cerebral do autoritarismo, não faz sentido ser excluído por ser diferente. 

Ele se pergunta por que todos gostam do Jesus Cristo de madeira e lhes dedicam canções e preces, enquanto condenam tão fortemente o protagonista. 

Penso que essa abordagem facilita o entendimento dos mais jovens que assistirão ao filme. A simpatia por Pinóquio se mostra importante para absorver o quão duro e cruel foi esse capítulo da história. 

Gepeto

Dentre todos os personagens, minha maior surpresa foi Gepeto. Com desenvolvimento mais profundo e necessário, criamos uma empatia muito grande pelo homem que perdeu o filho para os horrores da Guerra. As sequências iniciais dele e de Carlo são emocionantes e trazem mais camadas para o personagem, tendo mais destaque desta vez. Gepeto é um homem enlutado e obrigado a viver no regime que o fez perder o que lhe era mais precioso, mas que recebe uma segunda chance e tem de aprender o que fazer com esta. Aprecio muito o arco do personagem, que é finalizado de maneira pacífica e natural, trazendo consigo, como um todo, reflexões sobre o amor, as faces do luto e a inevitável morte de tudo que é vivo, amarrando parte das reflexões trazidas ao longo do filme. A temática tão difícil é retratada de maneira dolorosa no começo, porém, concluída de forma otimista e sensível. 

A Técnica

Pinóquio (2022) é uma obra que faz valer cada frame por segundo, cada textura e cada detalhe. A vontade de parar frame por frame para admirar cada milímetro da tela era constante, com tamanha admiração pelo cenário, pelas expressões dos personagens, sua caracterização e o inacreditável e único universo do filme. Enquanto o assistia, pensava que esta era a forma perfeita de retratar a história do menino de madeira que ganhou vida.  

Chega a ser poético como os realizadores utilizam da técnica de stop motion para dar vida ao inanimado e contar uma história, assim como o espírito da floresta dá vida ao menino de madeira. A lição que fica é a de que todos são marionetes nas mãos dos animadores, não só Pinóquio, então não faz sentido distingui-lo dos demais. E, trazendo este ensinamento da animação para o mundo real: contrariando tudo aquilo que pregam os vilões do filme e da vida real, ninguém é superior a ninguém.  

Surpresa boa, Pinóquio de del Toro já é uma das minhas apostas para o Oscar.

 


Filme:  Guillermo del Toro’s Pinocchio (Pinóquio por Guillermo del Toro)
Elenco: Ewan McGregor, David Bradley, Gregory Mann, Christoph Waltz, Tilda Swinton, Burn Gorman, Ron Perlman
Direção: Guillermo del Toro, Mark Gustafson
Roteiro: Guillermo del Toro, Patrick McHale, Gris Grimly  e Matthew Robbins
Produção: Estados Unidos, México, França
Ano: 2022
Gênero: Animação, Drama
Sinopse: Nesta incrível animação musical em stop-motion, o cineasta vencedor do Oscar® Guillermo del Toro reinventa o clássico conto do boneco de madeira que ganha vida.
Classificação: 12 anos
Distribuição: Netflix
Streaming: Netflix
Nota: 9,5

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *