Após assistir a produção “Ruim Para Cachorro”, senti a necessidade de pesquisar mais sobre o perfil do autor, Josh Greenbaum, e do roteirista, Dan Perrault, para compreender as fontes de inspiração que deram origem a esse conteúdo, porque nunca se sabe de onde podemos buscar inspiração e a falta dela. A obra se revelou uma experiência singular em minha vida, durante a exibição, eu me via perplexo diante da forma como todos os elementos se juntavam para formar um longa-metragem. O título “Ruim Para Cachorro” é sugestivo e reflete a qualidade do filme, não apenas narrativamente desagradável, mas também apresentando diversas falhas na construção do humor, inclusive chegando a transparecer uma certa sexualização dos próprios cachorros. Não posso negar que, quando se trata de animais, especialmente cachorros, somos facilmente sensibilizados pela narrativa, criando laços afetivos logo nos primeiros minutos. Até o prólogo, a obra se mostra interessante, equilibrando habilmente o humor com os aspectos dramáticos da trama. No entanto, o que se desenrola depois disso permanece inexplicável, deixando-nos questionando os motivos por trás da apelação para o grotesco e a falta de sensibilidade.
A sinopse do filme é intrigante, abordando a história de um cachorro abandonado por um dono abusivo. Em vez de sentir repulsa por esse dono, o cachorro nutre um estranho sentimento de amor, assemelhando-se a um relacionamento tóxico. Além disso, o filme aborda questões profundas, como a falta de confiança, desenvolvimento pessoal, liberdade, solidão e relações de amizade. Entretanto, parece que o diretor negligenciou o desenvolvimento adequado dessas subtramas em favor de piadas, o que resultou em um conteúdo superficial. Se compararmos isso com produções como “Barbie” (peço desculpas, quis dizer Margot), que consegue equilibrar com maestria elementos de entretenimento e uma linha dramática envolvente, “Ruim Para Cachorro” acaba sendo excessivamente expressivo, agressivo e problemático. Todas as questões levantadas no filme acabam sendo relegadas ao segundo plano, servindo apenas como pano de fundo para piadas e momentos constrangedores.
Após a exibição do filme e o aparecimento dos créditos finais, nos encontramos sorrindo, incapazes de acreditar no que foi feito com uma ideia inicialmente interessante. Os zooms excessivos nas partes íntimas do cachorro e as piadas que tratam de questões relevantes em 2023 foram, sem dúvida, pontos negativos. No entanto, é inegável que o filme conseguiu arrancar algumas risadas, uma vez que o humor muitas vezes se apoia em situações ridículas.
Talvez, se conseguirmos desconsiderar a estética do que consideramos bom, possamos enxergar “Ruim Para Cachorro” como um manifesto contra o mau tratamento dos animais e o abandono deles. No entanto, se não conseguirmos fazer isso, a experiência pode não ser tão agradável. Além disso, é importante que o cinema brasileiro pare de escalar não-dubladores para seus filmes. Se o filme se saiu tão mal, parte da culpa pode recair sobre a dublagem, que não contribuiu para o desenvolvimento das cenas. Pareceu, em certa medida, como mais um espetáculo dos quatro amigos, o que é lamentável. No Brasil, a vida de um profissional do cinema não é fácil, e quando pessoas não totalmente envolvidas nos projetos são escolhidas, isso soa como amadorismo e desrespeito à classe.
Agradecemos pelo convite a experiência audiovisual e sensorial, mas o filme não apresenta compromisso com várias questões voltadas ao cinema, apenas para aqueles que apreciam um humor mais descompromissado e filmes com classificação indicativa para maiores de 16 anos, especialmente se forem fãs de comédias de baixo teor.
Filme: Strays (Ruim Pra Cachorro) Elenco: Will Ferrell, Jamie Foxx, Isla Fisher, Randall Park, Will Forte, Brett Gelman, Rob Riggle, Sofía Vergara, Josh Gad Direção: Josh Greenbaum Roteiro: Dan Perrault Produção: Estados Unidos Ano: 2023 Gênero: Aventura, Comédia Sinopse: Quando Reggie, um ingênuo e otimista Border Terrier, é abandonado por Doug, o seu insensível e rude dono, ele continua convencido de que o seu melhor amigo nunca o abandonaria intencionalmente. Mas assim que Reggie conhece um vira-lata chamado Bug, um vadio que adora a sua liberdade e acredita que os donos não prestam para nada, Reggie finalmente percebe que estava numa ‘relação tóxica’ e começa a ver Doug como o verdadeiro imbecil sem coração que é. Classificação: 16 anos Distribuidor: Universal Pictures Streaming: Indisponível Nota: 3,0 |