CRÍTICA – SING SING

CRÍTICA – SING SING

Baseado em uma história real, Sing Sing (2023) segue a trama de John “Divine G” Whitfield, um escritor que busca provar sua inocência enquanto participa do programa de reabilitação de teatro da RTA no Centro Correcional Sing Sing. Não se engane, o filme tem diversas camadas e apresenta muitas discussões relevantes, mas em sua essência é sobre o poder que a promoção das artes pode ter na vida das pessoas.

O filme abre com uma cena do primeiro ato de Sonho de Uma Noite de Verão, onde Divine G, interpretado por Colman Domingo, faz a parte de Lisandro enquanto declama seu amor por Hérmia. Desde o primeiro momento, fica claro a dimensão do que o teatro significa para Divine G e qualquer um que já tenha subido no palco consegue compreender esse sentimento singular.

Um filme que fala sobre teatro com certeza tem que ter atuações fortes e Sing Sing definitivamente não decepciona. Colman Domingo, que sempre traz atuações fortíssimas, continua em seu alto patamar, fazendo transparecer as emoções de Divine G de uma forma única, principalmente quando contracena com o resto do elenco. Clarence Maclin, que começou a sua carreira na atuação justamente em Sing Sing pelo programa da RTA, faz de Divine Eye uma versão ficcional de si mesmo, que transita entre sua persona de gângster e sua vontade de atuar.

O elenco de apoio também tem diversas oportunidades de brilhar, o tom cômico da peça (que se torna uma mistura de piratas, faraós, viagem no tempo, cowboys e até mesmo Freddy Krueger) contribui para a criação de uma abertura para que todos tenham os seus momentos. Sean San Jose se destaca no papel de Mike Mike, conseguindo trazer de uma forma natural uma sensação de intimidade e aprofundamento nos momentos em que se relaciona com outros personagens.

O filme é cheio de momentos tocantes, porém o desenvolvimento da amizade de Divine G com Divine Eye é definitivamente o subenredo mais impactante. As tensões iniciais sobre a escolha da peça e as audições para Hamlet acabam se dissipando e dando lugar a uma trajetória de transformar o teatro em um escape, para se expressar da pressão de estar sendo subjugado por um sistema carcerário injusto, da luta contra o racismo e preconceitos, da falta de contato com seus familiares e de ter sua liberdade restrita.

Uma das coisas mais impressionantes sobre esse longa é a sua produção. Sing Sing é o primeiro filme a ter um lançamento simultâneo nos cinemas e em mais de mil prisões dos Estados Unidos. Também se superou ao ser o primeiro a usar o modelo de equidade salarial, ou seja, todos envolvidos no filme receberam o mesmo salário diário além da participação nos lucros do filme, independente de sua posição..

O programa do Rehabilitation Through Arts (Reabilitação pelas artes), ou RTA, foi criado em 1996 em Sing Sing por Katherine Vockins e atualmente funciona em dez prisões de Nova Iorque de segurança média ou máxima, trazendo diversas formas de arte para os detentos. Segundo o site do RTA, menos de 3% de seus membros retorna à prisão, o que é um contraste enorme com o padrão nacional de 60%, e que comprova efetivamente a importância da cultura na vida das pessoas.

Acima de tudo, Sing Sing é sobre mudanças. Em quase duas horas de filme conseguimos compreender o peso que o teatro tem e a sua contribuição para a conexão entre as pessoas. O cuidado nas escolhas de atores que conhecem a realidade das prisões e que passaram pelo grupo de teatro da RTA, intensifica o afeto pela história e se torna um  convite para se permitir sentir, criar e compartilhar sua arte com o mundo.


Filme: Sing Sing
Elenco: Colman Domingo, Clarence Maclin, Sean San Jose, Paul Raci
Direção: Greg Kwedar
Roteiro: Greg Kwedar, Clint Bentley
Produção: Estados Unidos
Ano: 2024
Gênero: Drama
Sinopse: Preso por um crime que não cometeu, Divine G encontra um propósito ao atuar em um grupo de teatro junto com outros detentos, incluindo um novato desconfiado.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: A24
Streaming: Indisponível
Nota: 8,5

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