Após o sucesso estrondoso de bilheteria de Terrifier 2 (2022), era evidente que Art, o Palhaço seria marcado como uma figura relevante no cenário dos filmes de slasher por um bom tempo. O filme apresentou a trama de Lauren LaVera, jovem destinada a enfrentar Art devido às visões sobrenaturais de seu pai, que lhe deu uma espada mágica. A evolução criativa entre Terrifier (2016) e Terrifier 2 é notável, pois Leone, além de continuar com temáticas do serial killer e do gore, passou a explorar aspectos oníricos, feéricos e demoníacos sem medo de ser feliz; traz humor, espontaneidade e até uma certa inocência às cenas, como a de um adolescente que cria um roteiro dos sonhos misturando quadrinhos de heróis e filmes de terror. Infelizmente, em Terrifier 3 (2024) parece que a ganância se aliou ao comodismo e o diretor, em vez de apresentar novas ideias, repete a mesmíssima fórmula do anterior, o que é até compreensível no aspecto financeiro, mas frustrante no aspecto artístico.
Para começar, tracemos a fórmula da franquia: de um lado, tem-se Art, sempre em uma onda de episódicos assassinatos em série, todos grotescos e bem gráficos, marca registrada desses filmes de Leone; de outro lado, há uma protagonista mulher que, por alguma razão, cruza o caminho de Art e tenta sobreviver, mas, efetivamente, esse confronto só acontece próximo ao fim da projeção. Claro, essa demora em chegar ao confronto existe para dar tempo de o diretor exercer seu sadismo, e, aqui, entenda esse termo sem juízo de valor, na elaboração das várias cenas chocantes de assassinatos. Ao longo dos filmes, inclusive nesse terceiro, Leone é capaz de impactar com isso, e o trabalho de maquiagem e desenho de som é essencial para tal, mas uma mera exibição de cenas de gore em sequência não sustenta um filme. Tanto é que prefiro Terrifier 2 a Terrifier justamente porque adiciona os elementos da fantasia, que criam cenas que entretém, mesmo quando há doses exageradas de violência, por arrebentarem os limites da realidade. A questão é que esses elementos são inseridos em função da protagonista Lauren LaVera e sua trama, apesar de recheada de símbolos diversos, tem uma estrutura simples: descobrir como derrotar Art; mas Leone, como fica evidente em Terrifier 3, não está interessado em resolvê-la.
A personagem quase consegue derrotar o infame palhaço no filme anterior, por pouco não o faz. Sendo assim, não há muito espaço para que essa jornada se estenda em uma sequência, ela só precisa descobrir a maneira de derrotá-lo e fazê-lo. Porém, Terrifier 3 insere novos personagens, em especial Gabbie, sua prima, que dilatam a trama principal apenas para serem abatidos por Art e, pior, no caso de Gabbie, para adicionar um objetivo à jornada de Lauren numa futura sequência: salvar a prima. Ora, se problemas narrativos em Terrifier 2 poderiam ser relevados porque o “trem fantasma cinematográfico” era divertido, não é mais possível fazer vista grossa a esse desleixo, já que nem concluir uma trama simplória o diretor se presta a fazer, sendo mais uma exibição de uma fórmula rentável do que um filme autêntico.
Além do mais, não consigo compreender como Terrifier 3 custou 2 milhões de dólares, sendo que Terrifier 2 custou apenas 250 mil dólares e parece ser muito mais inspirado. Na verdade, é claro, quantidade de dinheiro não equivale diretamente à qualidade de uma produção, mas não deixa de ser impressionante como a ambição vista em várias sequências no filme de 2022, como a do emblemático delírio no Clown Cafe ou a do confronto final no parque de diversões, parece ter desaparecido. É possível, com algum esforço, argumentar que essa contenção se deve à temática natalina de Terrifier 3, para fazer as cenas na intimidade das casas decoradas, mortes ao lado de símbolos religiosos, e tudo mais. Ainda assim, essa perversão de espaços existe desde sempre no cinema de horror, e o filme anterior simplesmente soube trabalhar isso melhor. Até a trilha sonora de Paul Wiley, que havia feito um trabalho excepcional em emular uma sonoridade do horror oitentista, está completamente apagado com trilhas genéricas, nada memoráveis.
É uma pena que Terrifier 3 tenha ido para esse caminho tão seguro, acovardado até, eu diria, o de repetir a mesma estrutura uma e outra vez, tão conhecido nas franquias de terror mainstream. Pelo visto, o ator de Art, David Howard Thornton, já havia indicado que Leone tinha planos de “pelo menos um, talvez dois, mais em mente”, e eu não sabia disso quando fui à cabine desta sequência. Agora, minhas expectativas são de filmes que tentam espremer até a última gota do que sobrou de interessante e, se realmente for assim, me sentirei como uma das vítimas de Art, passando por um processo de tortura lenta e agonizante, torcendo para que a saga de Lauren LaVera, enfim, acabe.
Filme: Terrifier 3 Elenco: Lauren LaVera, David Howard Thornton, Antonella Rose, Elliott Fullam, Victoria Heyes Direção: Damien Leone Roteiro: Damien Leone Produção: Estados Unidos Ano: 2024 Gênero: Horror, Suspense Sinopse: Após sobreviver ao massacre de Halloween do Palhaço Art, Sienna e seu irmão lutam para reconstruir suas vidas despedaçadas. No entanto, justo quando pensam que estão seguros, Art retorna, determinado a transformar sua alegria natalina em um pesadelo. Classificação: 18 anos Distribuidor: Diamond Films Streaming: Indisponível Nota: 4,0 |