O que acontece quando um diretor sem inspiração resolve emular Martin Scorsese? Bem, a dica está dada: se você não possui qualidade para gerar o mínimo de visão própria, é melhor nem tentar. The Alto Knights, do fraco diretor veterano Barry Levinson, mostra os impactos que a ausência de uma mão criativa na direção pode causar. Ainda mais, se levar em conta um projeto protagonizado por um dos maiores atores da história do cinema, e no gênero mais confortável para ele.
Robert De Niro, de forma icônica, sempre teve sua aura moldada nos filmes de máfia, e esse é indiscutivelmente seu legado. Mas, infelizmente, na gororoba chamara Alto Kinghts, o diretor parece estar tão invejoso dos sucessos de Martin Scorsese que decide pôr tudo no liquidificador e contar com a presença de seu astro para pô-lo em rota. O problema é que o desleixo é tamanho que, em diversos momentos, parece que estamos diante de uma paródia.
Incredulamente, o roteiro é uma adaptação escrita por Nichollas Pilleggi – você pode até não reconhecer esse nome, mas acredite se quiser, estamos falando do mesmo roteirista de Os Bons Companheiros (1990) e Cassino (1995). E é árduo encobrir esse fato como verdade, pois nessa suscetível onda de problemas que envolvem o projeto Alto Knights, o peão está no roteiro. Pileggi possui 93 anos, acredite se quiser, e belo seria poder elogiar seu trabalho. Mas fato é que todo o argumento de Alto Knights é datado e formalmente ultrapassado demais.
Todos os elementos batidos, que já floram explorados e revisitados no subgênero máfia, estão aqui, e de forma muito saturada. Como se não bastassem os primeiros segundos enfadonhos de projeção, com direto à um tom novelesco e inverossímil, temos aqui uma preguiçosa narração em off, quebras da quarta parede, diálogos “tragicômicos”, montagem com fotos de arquivo, audiências, etc. Porém, nessa mistura de liquidificador, absolutamente nada se salva. Na verdade, apenas emburrece o espectador, que certamente se entediará com as duas horas de novelão paródico, mal editado e enjoado.
O que chama atenção, diante de tanta coisa genérica, é que, pasmem, De Niro interpreta aqui dois personagens. Isso mesmo. Se a trama pontua a rivalidade entre dois mafiosos, estes dois são vividos pelo De Niro. Não foi revelado o motivo ousado da escolha. Afinal, um Joe Pesci seria muito bem vindo como Vito, o mafioso nervoso e mais explosivo. Curiosamente, é nessa explosão, mesmo lembrando uma sátira em alguns momentos, que De Niro se sai mais eficaz, divertindo com sua tradicional fala enfática. Já o mafioso calminho, o Frank, é nada mais do que um piloto automático blasé.
É curioso também que, nessa mistura de caricatura com drama direto sem autoralidade, Levinson também tem forte dificuldade em manter qualquer coerência estética. Enquanto os primeiros dois terços do filme possuem uma edição picotada, o último ato parece ter sido dirigido por outra pessoa, pois é dado espaço para planos abertos e mais longos. Isso só fomenta a ideia de que o projeto pode ter sido um descarte da Warner nas mão de um pseudo aclamado diretor que possui lampejos de bons momentos, mas que está apenas entregando um produto reciclado, à beira de um teor paródico (principalmente de O Irlandês, com direito ao mesmo tipo de narração), com uma montagem espantosa e constantemente chato.
![]() |
Filme: The Alto Knights (The Alto Knights: Máfia e Poder) Elenco: Robert De Niro, Debra Messing, Cosmo Jarvis, Kathrine Narducci, Michael Rispoli, Michael Adler Direção: Barry Levinson Roteiro: Nicholas Pileggi Produção: Estados Unidos Ano: 2025 Gênero: Drama, Crime Sinopse: Dois dos mais notórios chefes do crime organizado de Nova York disputam o controle das ruas da cidade. Antes melhores amigos, ciúmes mesquinhos e uma série de traições os colocam em um curso de colisão mortal. Classificação: 16 anos Distribuidor: Warner Bros Streaming: Indisponível Nota: 4,0 |