2022 foi o ano de The Bear. A série da Hulu – lançada em junho do ano passado – distribuída no Brasil pelo streaming da Star+ e estrelada por Jeremy Allen White (Shameless, 2011-2021), Ayo Edebiri (Abbott Elementary, 2021-), Ebon Moss Bachrach (Justiceiro, 2017-2019) – entre outros – foi sucesso de crítica e público, alçando para si troféus em algumas das principais premiações da TV, e acaba de ganhar uma segunda temporada – que ainda não assisti.
Confesso que me arrependo um pouco de ter assistido à primeira temporada desta série com “atraso”, muito depois de todo o hype que foi destinado a ela. Ainda assim, a experiência foi das melhores e muito me apeguei aos personagens e à narrativa caótica de The Bear.
O enredo aqui não é dos mais complexos, na verdade, ele se apoia em uma narrativa bastante simples, que começa com o protagonista Carmen (Jeremy Allen White) herdando o restaurante – lanchonete, para ser mais exata – à beira da ruína que fora de seu irmão mais velho Michael, que cometeu suicídio. Daí em diante, somos apresentados a um Carmen tentando reerguer não só a si próprio, mas também a todo o universo de seu falecido irmão.
A grande mudança na vida desse personagem não está somente no fato de que sua relação com o irmão nos últimos anos não fora das melhores e quase não houve contato entre eles, mas sim no fato de que Carmy, antes um jovem prodígio em um dos “melhores restaurantes do mundo”, agora precisa se adaptar à cozinha simples de uma lanchonete onde o prato principal são sanduíches de carne. Como se ele próprio estivesse passando por um processo de se transformar em Michael, ou pelo menos algo parecido com ele.
De um modo geral a cozinha do Chicago Beef muito se assemelha às cozinhas dos grandes restaurantes onde Carmy antes havia trabalhado. O caos de várias pessoas trabalhando, gritando e fazendo de tudo ao mesmo tempo é o mesmo e reflete o caos próprio da mente do protagonista.
Um dos pontos mais fortes de The Bear está justamente em mostrar esse caos que acompanha, basicamente, todos os personagens em tela. Vale dizer que a química entre o elenco é bastante efetiva e funciona muito bem com o roteiro. Destacam-se Ayo Edebiri e Ebon Moss Bachrach como Sydney e Richard, respectivamente. Ambos os personagens são dotados de personalidades tão fortes e ímpares que não conseguem se entender quase nunca, gerando grande parte dos embates que vemos nessa temporada.
Uma característica que muito me agrada no enredo de The Bear é a maneira a qual se apresentam estes personagens mais centrais da história. É relevante o fato de que nenhum deles é o exemplo de personagem principal. Todos tem suas falhas de caráter que de muitas formas não são embelezadas para parecerem personagens sofridos que estão tentando “apesar de tudo”. Vale dizer que o elenco secundário, que conta com Abby Elliot, L-Boy, Liza Colón-Zayas, Oliver Platt, Edwin Lee Gibson, Corey Hendrix, entre outros, também atua muito bem e é de suma importância para o enredo fluir e funcionar da maneira que vimos acontecer.
A aparição de Jon Bernthal aqui foi uma surpresa, uma vez que nem imaginava que o ator havia participado da série. Suas cenas, ainda que tenham sido poucas, agregam muito à narrativa ao mostrar um pouco do personagem que é o motivo de tudo o que acontece nos oito episódios da primeira temporada de The Bear. Assim como todo o resto do elenco, a escolha de Jon Bernthal como Michael, irmão de Carmen, é mais do que acertada e nos deixa ansiosos para um pouco mais de sua presença na segunda temporada – vale lembrar que Jon Bernthal e Ebon Moss Bachrach haviam trabalhado juntos na primeira temporada de Justiceiro na Netflix e assim como na série de super-heróis, sua química em tela é visível, ainda que o personagem de Bernthal não se mostre tanto.
O ritmo dos episódios da primeira temporada é, talvez, minha parte favorita de The Bear. É quase impossível terminar de assistir a um episódio e não querer começar outro logo em seguida. Destaco aqui os dois últimos episódios – principalmente o penúltimo, intitulado “Review”. Este é o momento mais frenético da série e ainda que seja um dos mais curtos, com cerca de 20 minutos, são exibidas tantas facetas daqueles personagens que poderia dizer que nesse único episódio está a essência de The Bear. O episódio seguinte, último da temporada, encerra o primeiro ciclo de maneira singular, com direito a momentos de grande emoção e muito se entende, após terminá-lo, todo o alvoroço causado pela série.
The Bear é, em suma, uma série de acertos. Entre personagens com personalidades que amamos odiar, uma coisa é certa: nada é mais realista do que a representação desses indivíduos que estão à beira de colapsar, cada um ao seu modo. A crueza do roteiro e o texto ácido de The Bear, aliados às atuações concisas, a consagram como uma das melhores séries norte-americanas do ano passado. Resta descobrir se a qualidade dessa produção se manteve em sua segunda temporada.
Série: The Bear (O Urso) Elenco: Jeremy Allen White, Ayo Edebiri, Ebon Moss Bachrach, Jon Bernthal, Abby Elliot, L-Boy, Liza Colón-Zayas, Oliver Platt. Direção: Christopher Storer, Joana Calo. Roteiro: Christopher Storer, Sofia Levitsky-Weitz, Karen Joseph Adcock, Catherine Schetina e Rene Gube, Joana Calo. Produção: EUA Ano: 2022- Gênero: Comédia, Drama Sinopse: Um jovem chef se junta a uma equipe de cozinha medíocre para transformar uma lanchonete. Classificação: 16 anos Distribuidor: Hulu Streaming: Star+ Nota: 8,8 |
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