Após constatável decadência enfrentada nos últimos tempos pelo MCU – com o desfecho de Vingadores: Ultimato (2019) – Thunderbolts* surge como a validação de uma tentativa do estúdio de voltar às origens com um clássico feijão com arroz. O novo filme, que é puro suco da essência tradicional da Marvel, traduz o seguinte recado do estúdio: “Ok, fizemos besteira por um tempo, mas agora voltamos!”. E com isso, a aposta na criação de novos laços emotivos com os agora Novos Vingadores. Mas será que o investimento do público será o mesmo?
É como se antes, víamos uma construção – bem ou mal – muito orgânica entre um multimilionário arrogante, um deus nórdico, um monstro esverdeado, uma espiã de treinamento russo e um soldado que congelou no tempo; que formavam uma relação cujo o carisma atingiu proporções tão grandes que a comoção com seu desfecho rendeu um dos filme-evento mais repercutidos do século – feito este que foi parcialmente reprisado com a ampliação para multiverso em Homem Aranha: Sem Volta para Casa (2021) – mas sem nunca repetir tal patamar.
Deixando de lado os multiversos como uma ótima oportunidade de retomar o “aqui e agora” e a vivacidade das vidas em jogo, Thunderbolts emula uma tentativa de retorno natural a esse espírito “bom e velho lar”. Em seus melhores momentos, a experiência chega a ser agradável. Mas se esse retorno simples e relativamente animado ao básico é definitivamente um passo na direção certa para o MCU, essa direção ainda é um “retrocesso”. E se a estreia na Marvel do diretor Jake Schreiber está entre os melhores e mais seguros filmes desde que Thanos encerrou a metade da mega franquia, suas qualidades ainda parecem ecos tênues dos auges anteriores da série, acrescentado à uma certa infantilidade com cenas de luta e incisivamente menos impactante. A montagem também exerce um trabalho quase chulo de tornar duas linhas de acontecimentos em um paralelo (revezando lá e cá) para disfarçar as simplicidades do roteiro previsível da dupla Eric Person e Joanna Calo e tentar dar algum senso de continuidade ao blasé desenvolvimento.
A formação do grupo, honestamente, não é comovente. Mais parece a tentativa artificial de recriar algo que não pode ser refilmado: a espontaneidade. A burocracia da qual floresce o regimento e tramites da vilã que ocasionam o encontro dos pseudo-heróis, é justamente tão engessado que não há como não sentir o calculismo superficial na hora de ver os integrantes reunidos.
O que não faz permitir um impasse maior na hora de ver os Thunderbolts reunidos coexistindo com certa química reside nas atuações, especialmente na de Florence Pugh. Uma atriz com consistente explosão dramática e de talento incontestável desde Midsommar (2019), ela é o coração do filme, e reverbera tudo que há de emotivo no longa, em destaque, a relação com seu pai, o Soldado Vermelho de David Harbour, que se diverte bastante e é o necessário alívio cômico. A melhor cena do filme envolve os dois.
Wyatt Russell como um novo Capitão América amargurado e prepotente funciona surpreendentemente bem, provavelmente por já ser tão esculachado pelos colegas, mas Hanna John Kamen não possui entrega e tempo-espaço para se desenvolver. O retorto de Sebastian Stan é charmoso, e sua função de Nick Fury é funcional, mas opera de acordo com o mecanismo de Julia Louis Dreyfus, uma vilã que essencialmente depende da burocracia e das ações indiretas – por sorte, a talentosa atriz faz um malabarismo cênico que estabiliza com certa empatia. Já o antagonista de Lewis Pullman é um clichê de jovem problemático da escola do professor Xavier – e extremamente semelhante ao antagonista de Ezra Muller em Animais Fantásticos e Onde Habitam.
Thunderbolts é, além de tudo, uma revisita à um espaço-tempo antigo, (ou seja, algo que já foi capturado antes, vide a nua semelhança do terceiro ato com a batalha de Nova York no primeiro Vingadores) à algo que não mais existe, e que hoje possui inclusive uma fotografia muito mais acinzentada (até mesmo em fundos vedes), tentando reviver locações que já se foram juntos com os primários vingadores. O icônico A da faixada (de Avengers) é sempre referenciado aqui, mesmo que na famigerada torre, hoje seja apenas concreto. Thunderbolts é uma revivência muito cercada por concreto, e com pouquíssimo ar fresco.
![]() |
Filme: Thunderbolts* Elenco: Florence Pugh, Sebastian Stan, Julia Louis-Dreyfus, Lewis Pullman, David Harbour, Wyatt Russell Direção: Jake Schreier Roteiro: Eric Pearson, Joanna Calo Produção: Estados Unidos Ano: 2025 Gênero: Ação, Aventura, Drama Sinopse: Depois de se verem presos em uma armadilha mortal, uma equipe não convencional de anti-heróis deve embarcar em uma missão perigosa que os forçará a confrontar os cantos mais sombrios de seus passados. Classificação: 16 anos Distribuidor: Walt Disney Streaming: Indisponível Nota: 5,5 |