CRÍTICA – UM FILME MINECRAFT

CRÍTICA – UM FILME MINECRAFT

O anúncio da ideia de realizar um longa baseado num jogo em que não há uma história ou personagens muito definidos logo despertou curiosidade e questionamentos: seria mesmo uma boa ideia? No que isso resultará? Um Filme Minecraft (2025) é uma adaptação que, por possuir uma ampla liberdade temática, poderia ter alguma chance de surpreender ao entregar um resultado inovador e diferente; no entanto, por escolher não arriscar e ficar na zona de conforto, acaba tornando-se um filme extremamente… bobo.

Um Filme Minecraft começa inserindo uma pequena introdução para contextualizar brevemente até mesmo os espectadores que possam não entender muito do universo do jogo, mas tal contextualização acaba não sendo o suficiente para segurar as pontas no restante do longa. Ou seja, é um filme não necessariamente feito para crianças – apesar de ser extremamente infantil e, por vezes, bobo –, mas sim para fãs do game no geral. O filme não é excludente, mas também não é tão convidativo, fazendo brilhar os olhos somente de quem já é familiarizado com todas as referências.

Embora tenha o surpreendente e exagerado número de seis roteiristas envolvidos no projeto, o argumento textual é justamente a parte mais defeituosa do filme, já que não consegue cativar, nem convencer. O roteiro flerta entre o clichê e o medíocre ao apresentar uma motivação um tanto rasa dos personagens, sobretudo por não conseguir desenvolvê-los, acrescentar mais profundidade e relevância a todos eles. O único que possui um background minimamente interessante seria o Garett Garrison (Jason Momoa), que é um gamer veterano, campeão de muitos torneios, um tanto saudosista e de personalidade irreverente. Não dá para negar que algumas cenas com suas peripécias são hilárias, e seu arco de amadurecimento é até bem articulado. Quanto aos demais, além de faltar informações e tempo de tela para uma maior identificação por parte do espectador, falta carisma – e muito.

O menino Henry (Sebastian Eugene Hansen) possui o carisma de uma porta. A mesma expressão para todas as emoções possíveis: curiosidade, frustração, medo, felicidade… o menininho esboça sempre uma única unidade de expressão. É como se estivesse lá apenas para preencher o check-list da necessidade de haver uma criança nesse tipo de projeto, já que um dos principais públicos-alvo a princípio seria esse. As personagens femininas, então, são praticamente descartáveis, bem como ironicamente boa parte dos gamers homens as enxergam no mundo real: quase invisíveis, irrelevantes, ou que nem ao menos deveriam estar ali. Enquanto isso, há um outro arco externo sobre a diretora da escola de Henry, a senhorita Marlene (Jennifer Coolidge), que é uma subtrama completamente aleatória e deslocada no filme, estando ali apenas para talvez acrescentar mais humor nonsense.

A premissa do “precisamos dar um jeito de voltar para casa” é recorrente nos filmes de aventura em geral. A recompensa geralmente fica no percurso, no como eles irão conseguir voltar para casa, ao mesmo tempo em que o ideal é existir uma maior preocupação do espectador com os personagens em questão, e isso em Um Filme Minecraft é praticamente nulo. Talvez, o híbrido de live action com animação tenha sido um dos fatores limitadores, além de criar um quê de vale da estranheza. Afinal, é um tanto arriscada a escolha criativa de inserir humanos em um mundo animado interagindo com personagens em desenho, sem cair no terreno tosco da coisa.

Apesar de tantos tropeços, há um louvável esforço e investimento em trazer muitos easter eggs do game, referências e elementos de todo o universo, sendo inclusive um dos únicos acertos do filme (convenhamos que se ficasse devendo até nesse sentido seria preocupante). É visível que, ao menos, houve interesse em inserir e retratar ao máximo a jogabilidade e possibilidades do game – as ferramentas, os recursos, os bichinhos, os terrenos, quase a nível de fazer uma poluição visual –, entretanto, condiz com a proposta do jogo enquanto faz um apelo nostálgico aos fãs antenados.

Em Super Mario Bros: O Filme (2023), por exemplo, também há infinitas referências, fan service e fidedignidade em relação ao jogo em questão, porém, pelo fato dos personagens centrais já serem extremamente conhecidos e icônicos, houve uma facilitação em relação ao desenvolvimento, identificação e carisma. No caso de Minecraft, a responsabilidade tornou-se maior, pois, como o foco central é o universo em si e a forma como o jogador terá de trabalhar com a criatividade para construir coisas, o filme deveria dar conta de trazer personagens com mais presença, com mais brilho, o que acaba ficando em saldo negativo.

Exceto pelos personagens de Jason Momoa e Jack Black (que, aliás, sempre aparenta estar interpretando a si próprio), os demais são tão apagados a ponto de só (ou mal) servirem para a resolução de algo que virá mais para frente. É notória a carência de um roteiro melhor embasado. Ou seja, a enxurrada constante de elementos do universo do jogo acaba servindo não somente para agregar conteúdo e fazer jus ao nome do filme, mas sobretudo, torna-se uma muleta para mascarar tamanha falta de substância presente nas demais subtramas.

O humor tosco e pastelão incrivelmente não é um ponto a se condenar, visto que, por muitas vezes, funciona tornando a produção até divertida por abraçar a besteirada que reconhece ser. Proporciona inclusive mais ritmo, visto que o filme é consideravelmente longo levando em conta que se trata de um projeto tão afetado pela falta de inspiração de roteiro a ponto de nem com, repito, SEIS pessoas responsáveis para escrevê-lo, ter sido insuficiente para fugir da falta de criatividade – que ironia, porque é justamente tudo o que o Overworld pede; os roteiristas estariam em apuros se fossem transportados para lá.

Ainda assim, certas piadas não funcionam por serem bobas demais, na mesma vibe de um garoto da quinta série tentando fazer graça o tempo todo. Fato é que, quando foca no mundo em si, o filme consegue ganhar mais da atenção e interessante do espectador; por outro lado, quando tenta focar mais em seus personagens, decai tanto a ponto de nos fazer lembrar que estamos diante de mais um blockbuster padrão baseado num game de sucesso. O que eles podem oferecer são somente essas piadas recorrentes, alguns momentos jocosos e só. Não há muito espaço para maior identificação ou importância.

A “ameaça” é extremamente boba. Não há um caráter de urgência para a resolução do problema, ou para derrotar os vilões – que, diga-se de passagem, também não são nada marcantes. O grande barato acaba sendo o trajeto do grupo percorrendo aquele universo gigante e com infinitas possibilidades, fazendo com que o longa consiga, então, conquistar parte do público por seguir o apelo nostálgico, que somente o jogo proporcionaria até então. Em suma, Um Filme Minecraft é um filme empenhado em trazer à tona o máximo de estímulos e elementos do jogo, e até consegue, mas, em sua essência, é bobo, vazio e imemorável.


Filme: Um Filme Minecraft (A Minecraft Movie)
Elenco: Jack Black, Jason Momoa, Sebastian Eugene Hansen, Danielle Brooks, Emma Myers, Sebastian Eugene Hansen, Jemaine Clement, Jennifer Coolidge, Kate McKinnon
Direção: Jared Hess
Roteiro: Allison Schroeder, Chris Bowman, Chris Galletta, Gavin James, Hubbel Palmer, Neil Widener
Produção: Estados Unidos
Ano: 2025
Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia
Sinopse: Quatro desajustados são transportados de repente por um misterioso portal. Eles vão parar em Overworld: um curioso mundo onde a imaginação e criatividade imperam. Para voltar para casa, eles terão que dominar este mundo enquanto embarcam em uma missão mágica com um experiente construtor excêntrico e imprevisível chamado Steve.
Classificação: 10 anos
Distribuidor: Warner Bros
Streaming: Indisponível
Nota: 4,0

 

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