“Vermelho Monet” é um filme bastante rico visualmente, um tanto exuberante até, que me pareceu acima da média dos filmes nacionais recentes, pelo menos dos que andei assistindo. E há nele algumas ideias interessantes.
Uma delas é a incapacidade do protagonista, o pintor Johannes Van Almeida (Chico Diaz), de enxergar cores. Isso deu à fotografia a possibilidade de explorar o preto e branco de uma forma expressiva, intercalando o ponto de vista do narrador onisciente, terceira pessoa, com o ponto de vista do personagem principal, primeira pessoa, artifício que estreita a identificação com Johannes e nos aproxima ainda mais de seu drama.
Ele, então, passando na frente de um café numa das ruas elegantes de Lisboa, vê Florence (Samantha Müller). Ela tem o cabelo vermelho (o tal vermelho Monet), única cor que o pintor consegue ver ou imaginar. Um estímulo poderoso. Seria a oportunidade dele voltar a enxergar cores? Talvez, mas Florence não volta mais para aquele café. Encontrá-la novamente passa a ser uma obsessão para Johannes.
Era uma ideia bastante boa. Halder Gomes, que escreveu e dirigiu o filme, já tinha algo precioso nas mãos, bastando centrar foco nessa busca e na possível cura do pintor, que vive com a esposa doente. Entretanto, o diretor/roteirista quis mais, e inventou a personagem Antoniette (Maria Fernanda Cândido), “uma influente marchand de arte” — é assim, de modo meio novelesco, que está escrito na sinopse do longa-metragem. E essa escolha, para mim, inundou “Vermelho Monet” de ideias boas demais para um só filme.
Antoniette rouba o protagonismo de Johannes e tira o foco do espectador da trama principal, que é um drama, redirecionando-o para uma trama secundária, policialesca. É uma personagem que caberia muito bem numa série. Não é ruim. É interessante também, mas seria preciso dosar melhor sua importância e participação no filme. É a impressão que tenho.
Embora tenha achado um tanto empostadas em alguns momentos, as atuações, no geral, estão bem. Penso que Samantha Müller tenha sido uma escolha equivocada. A atriz não tem o charme e a graciosidade que a personagem exige. Florence encarna certo ideal de beleza e juventude, uma juventude que Adele (Gracinda Nave), a esposa, não tem faz muitos anos. Johannes não busca apenas um rosto. Ele está a procura de uma musa que desperte nele o sentimento de êxtase, admiração e prazer dos sentidos há muito perdido. A atriz, que interpreta uma atriz em crise, é uma musa sem sal, que convence pouco como inspiração artística, falo por mim.
“Vermelho Monet” é um bom filme. Como disse, está acima da média dos filmes nacionais recentes. Tem um trabalho rigoroso de fotografia e direção de arte. É agradável ao olhar. Um tanto pretensioso, porém. Talvez seu maior pecado seja levar o mundo das artes a sério demais.
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