CRÍTICA – WONDERLAND

CRÍTICA – WONDERLAND

Wonderland (원더랜드, 2023) chegou recentemente ao catálogo da Netflix Brasil e, muito esperado a alguns anos pelos fãs de cultura asiática, não supriu por completo as expectativas de seu público. Escrito e dirigido pelo cineasta sul-coreano Kim Tae-yong, o filme conta em seu elenco com nomes bastante populares tanto na TV quanto no cinema da Coreia do Sul.

A narrativa de Wonderland se ambienta em um futuro próximo, onde é possível para as pessoas se conectarem com entes queridos já falecidos. Em uma realidade virtual, escolhida pelo indivíduo que está prestes a morrer ou por seus parentes responsáveis, sua existência permanece viva, como se estivesse em uma viagem ou algo parecido. Wonderland é o nome da empresa e do programa utilizado no processo de “viagem”.

Considerado uma ficção científica dramática, o filme de Kim concentra-se nas histórias de um grupo de personagens que têm suas narrativas entrelaçadas quando uma pane no programa ameaça a existência de outras pessoas residentes da realidade virtual, comprometendo suas relações com seus familiares que estão vivos.

Bae Suzy e Park Bo-gum lideram uma das histórias e esse é o ponto principal de apelo ao público do filme. Seu enredo é uma história romântica e triste, onde uma comissária de bordo convive com seu namorado na realidade virtual por se sentir solitária, uma vez que o rapaz se encontra “legalmente” morto em uma cama de hospital.

O conflito gerado dentro desse núcleo se inicia quando, milagrosamente, Tae-ju (Park Bo-gum) acorda de seu coma. Vivendo entre as duas versões de seu namorado, a virtual e a real, Jeong-in (Bae Suzy) se vê dividida e confusa sobre encerrar o contrato da realidade virtual e ficar somente com a versão real de Tae-ju, ou se manter com as duas versões.

O núcleo mais importante de Wonderland gira em torno de Bai Li, interpretada por Tang Wei (Decision to Leave, 2022). Essa personagem é uma mãe que vive dentro da realidade virtual e se comunica com sua filha criança e com sua mãe, que estão no mundo dos vivos. Enquanto sua mãe se preocupa com a neta que cria expectativas de reencontrar a mãe que está “longe”, a senhora, única responsável pela criança, se questiona se deve ou não contar a verdade para sua neta. A partir disso, o conflito que se desenvolve dentro dessa pequena família passa a envolver todos aqueles que fazem parte de Wonderland, sejam os viajantes ou mesmo os cientistas responsáveis pelo programa.

Há alguns problemas de execução nesse filme que não prejudicam de todo o seu enredo, porém, fica claro que o tratamento em sua edição não parece ter sido dos mais empenhados. Primeiro porque tudo acontece muito rápido. Ainda que seja um filme de quase duas horas, parece não haver desenvolvimento das histórias abordadas. Na verdade, todos os personagens que aparecem em tela tem uma narrativa rasa e previsível, o que não era esperado, uma vez que sua produção levou tantos anos para ser completada.

Um dos maiores problemas, inclusive, se dá por conta dessa demora no lançamento de Wonderland. O filme, que deveria ser lançado no ano de 2021, teve sua data de estreia adiada e de certa forma caiu no esquecimento até 2023, quando alguns de seus atores voltaram a falar sobre o assunto em suas redes sociais. Para mim, outro grande infortúnio no caminho de Wonderland foi o lançamento, no final de 2022, da minissérie Yonder, que tinha um enredo bastante semelhante ao do filme de Kim Tae-yong.

A questão com os filmes de ficção científica é que, muitas vezes, as narrativas dessas produções acabam apelando ao nonsense e quando questionadas, justifica-se tudo pelo seu gênero. Não é exatamente o caso aqui, porém, há diversas falhas no roteiro e na execução de Wonderland que poderiam ser abordadas de maneira diferente. De certa maneira, é como se o filme tentasse se garantir somente por seu elenco, o que infelizmente não é o caso.

O desfecho do filme é previsível e mesmo guardando algumas “surpresas” para as cenas pós créditos, seu enredo não consegue atingir um ponto muito importante em seu público, que é o de gerar identificação e empatia pelos personagens apresentados. Como mencionei antes, a narrativa de Wonderland parece flutuar somente na superfície, com medo, talvez, de um mergulho mais profundo em suas histórias.

Ao fim, a experiência parece não agregar muito, ainda que não seja um filme ruim. Entristece um pouco o fato de que ele poderia ser muito mais, se abordado de outra maneira. Talvez o tempo tenha sido o maior vilão na história de Wonderland. Ou as expectativas. De qualquer forma, infelizmente não é possível – ainda – voltar no tempo e consertar as coisas.


  Filme: 원더랜드 (Wonderland)
Elenco: Tang Wei, Bae Suzy, Park Bo-gum, Jung Yu-mi, Choi Woo-shik, Gong Yoo.
Direção: Kim Tae-yong
Roteiro: Kim Tae-yong
Produção: Coreia do Sul
Ano: 2023
Gênero: Drama, Ficção Científica, Romance
Sinopse: Uma jovem mulher e uma mãe buscam entender o significado da realidade e da humanidade, usando uma inteligência artificial que permite conversar com os mortos.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Netflix
Streaming: Netflix
Nota: 6,0

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