DESAPARECIDOS

DESAPARECIDOS

Desaparecidos (Vanishing, 2021) é um filme de co-produção francesa/coreana, dirigido pelo cineasta Denis Dercourt e baseado no romance The Killing Room de Peter May. O longa estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 4 de agosto e conta com os atores Olga Kurylenko, Yoo Yeon-seok e Ye Ji-won.

É difícil começar uma crítica sobre um filme que na verdade se parece mais com um trailer de 88 minutos. Começando pelo começo, em Desaparecidos, acompanhamos várias histórias interligadas que se encaminham para construir uma narrativa de crime. Logo no início assistimos, ao mesmo tempo, o processo de entrega de um órgão para transplante em um hospital e um corpo sendo encontrado por crianças em uma nascente de rio. Após isso, vemos um detetive investigar a cena do crime e uma especialista forense vinda da França palestrando sobre suas novas descobertas na área em Seul. A partir dessa introdução, já temos o necessário para entender o que se desenrolará dessas histórias.

Um dos principais problemas de Desaparecidos, que se pode notar já em sua primeira parte, talvez esteja na confusão em se “escolher” o tema central do filme, bem como seu gênero. Ainda que todos os núcleos estejam entrelaçados de forma adequada, é possível notar saídas fáceis de roteiro e pouco aprofundamento na construção dos personagens. Entendemos que nem sempre é possível montar, em um filme, uma história de fundo para cada personagem, porém, aqui, as relações se dão de maneira rasa, o que prejudica a identificação com esses indivíduos que nos são apresentados.

Uma das coincidências mais bizarras dessa narrativa está no fato de que, ao mesmo tempo em que a polícia investiga corpos não identificados de vítimas de homicídios, a personagem de Olga Kurylenko, Alice, está de passagem pela Coreia do Sul palestrando justamente sobre uma nova técnica de identificação de corpos. Mais coincidência ainda é o fato de que o legista responsável pela investigação policial conhece a pesquisadora e lhe pede que ajude a polícia com o trabalho. Até um romance foi jogado no meio da história, completamente fora de contexto e sem explicação. Basicamente ele só acontece por conta da aparência de Olga Kurylenko e do detetive Jin Ho, interpretado por Yoo Yeon-seok, uma vez que, antes das primeiras “faíscas” de atração acontecerem, seus personagens só interagem uma vez e na frente de um corpo em decomposição no laboratório.

Uma vez que a investigação avança, percebemos os contornos deste thriller e as ligações entre histórias e indivíduos. Ainda que o roteiro nos leve em uma direção dramática e apelativa ao apresentar os traumas do passado da protagonista, fica difícil para o espectador sentir empatia por ela, uma vez que mal sabemos a causa desse trauma, exceto pela única vez em que ele é mencionado em uma linha ou duas de fala. Ainda falando sobre empatia, em Desaparecidos é difícil senti-la por qualquer um dos personagens centrais, muito por conta dessa preguiça do roteiro em desenvolvê-los e apresentá-los melhor.

Talvez o maior problema com esse filme seja o tempo dele. Em sua ficha técnica ele conta 88 minutos, porém, se não calcularmos os minutos de créditos iniciais e finais, o tempo de tela é menor ainda. No caso de Desaparecidos, alguns minutos a mais poderiam, talvez, fazer diferença. Digo talvez por que não sei ao certo se tempo era tudo o que faltava nessa produção. Em alguns momentos é como se os atores estivessem ali somente por obrigação. O carisma dos dois protagonistas se esconde em meio às linhas monótonas e desleixadas do roteiro.

Para aqueles que estão habituados às produções sul-coreanas, alguns rostos ali não serão novidade, e temos até uma pequena participação de Anupam Tripathi (O Ali, da aclamada série Round 6). Uma das jogadas arriscadas da direção desse filme é a de colocar somente uma atriz de conhecimento global no elenco. Inclusive, é curiosa a gama de idiomas que podemos ouvir em Desaparecidos. Enquanto Alice se comunica em francês e inglês, ouvimos também os idiomas coreano, mandarim, e até o português, tanto brasileiro quanto o de Portugal, em algumas cenas. Assim como o restante do filme, também temos uma confusão de línguas em tela.

Ainda que seja um filme curto, Desaparecidos demora a engatar. Mesmo que estejamos cientes da história e dos acontecimentos, fica difícil manter a atenção. O seu início arrastado não está em sintonia com o final acelerado demais. A última parte do filme acaba sendo demasiado corrida, e tudo acontece ali, no último ato. Bem como o restante do longa, seu fim acontece de maneira rasa e fácil demais. Tudo se resolve como mágica e temos um “felizes para sempre”. Os últimos minutos conseguiram ainda ser mais decepcionantes que o restante do filme. Quando se esperava que o fechamento dessa história mal contada fosse, de alguma forma aliviante, aquela faísca de romance retornou, com direito à uma daquelas cenas clichês de filmes românticos.

Por fim, posso dizer que a experiência de Desaparecidos não foi marcante para mim, como espectadora. Em minha concepção, o resultado da produção fica aquém do esperado. No entanto, vou deixar a tarefa de dizer se Desaparecidos vale o ingresso e o tempo nas mãos dos espectadores que estarão nos cinemas para acompanhar o lançamento desse filme.


  Filme: Desaparecidos (Vanishing)
Elenco: Olga Kurylenko, Yoo Yeon-seok, Ye Ji-won, Choi Moo-sung
Direção: Denis Dercourt
Roteiro: Denis Dercourt (adaptado do romance The Killing Room de Peter May)
Produção: Coreia do Sul, França
Ano: 2021
Gênero: Mistério, Thriller, Crime
Sinopse: Alice Launey é uma especialista forense francesa ainda assombrada por seu passado que vai a Seul, Coreia do Sul, para apresentar seu trabalho. Ela vai conhecer Jin Ho, um detetive que pede sua ajuda em um caso de assassinato. Envolvida no tráfego de rede, ela terá que enfrentar seus medos.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: A2 Filmes
Streaming: O filme estreia nos cinemas em 4 de agosto.
Nota: 4.5

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