É interessante notar como em menos de uma semana dois filmes, bem distintos entre si, estreiam e fazem o mesmo movimento de se apegar ao passado e de, através dele, construir partes de suas narrativas. Estou falando de Top Gun: Maverick que estreou na semana passada e de Jurassic World: Domínio que estreia hoje nos cinemas.
Títulos de sucesso, como estes citados, tendem a cair nas graças do grande público pura e simplesmente pela força que possuem. Top Gun tem Tom Cruise como seu garoto propaganda e Jurassic World, bem como Jurassic Park, possui a chancela de Steven Spielberg. Entretanto se ambos os filmes fazem essa volta ao passado de forma similar, preciso destacar que o resultado é bem diferente entre eles. Top Gun: Maverick é uma verdadeira carta de amor ao primeiro filme e àqueles que contracenaram lá, já em Jurassic World: Domínio parece ser mais um capricho do diretor Colin Trevorrow, uma ideia sem propósito mas que para alguém acabou fazendo muito sentido.
A grande discussão aqui é o enfrentamento desta nova realidade, o embate entre a possibilidade e a impossibilidade de coexistência entre os seres humanos, principalmente, e os dinossauros. Entretanto tais conflitos são deixados em segundo plano para um desenvolvimento tacanho de um vilão que não deixa marcas nenhuma em momento algum do filme. Atrelada a esta falta de antagonismo, recai sobre o filme uma grande falha, nenhum conflito dura o tempo bastante para que o espectador de alguma maneira torça por aqueles personagens. O filme que tem um pouco menos de duas horas e meia vai o tempo todo colocando os personagens Owen Grady (Chris Pratt), Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) e Maisie Lockwood (Isabella Sermon) em situações de apuro, mas que se resolvem tão facilmente que a tensão nem chega a se consolidar na tela e muito menos para o público.
E já que falei em segundo plano, é exatamente isso o que demonstram ser todas as cenas com os dinossauros, pois o filme recai na trama fácil, desenvolve as relações de pais super protetores que não dão liberdade ao filho, aborda a imagem de um cientista messiânico mas dotado de uma visão deturpada e incapaz de enxergar aquilo que está a sua frente e assim o filme se distancia da discussão central, a de um lugar para todos. Mas o pior é que vários desses elementos estão ali jogados sem qualquer elaboração mais profunda. E, como já citei anteriormente, o maior exemplo disso é o personagem Dr. Lewis Dodgson (Campbell Scott). Este vilão é desprovido de qualquer caracterização que o faça ter sentido para aquilo que ele representa dentro da história. O seu ar desorientado contrasta com a falta de escrúpulo e sua inércia na tomada de decisões cria um abismo para quando precisamos acreditar que ele é dotado de uma inteligência muito acima dos demais.
Outro ponto discutível é como o filme se apega ao reducionismo quando se propõe a trazer como o grande, e talvez único, problematizador daquela sociedade o enxame de gafanhotos modificados que destroem hectares e mais hectares de plantações em questão de segundos e isso, claro, sendo uma ação deliberada e de interesses claros ao mesmo tempo em que se tornam confusos quando é dada a oportunidade em tela para que Dodgson converse sobre seus métodos com o Dr. Wu (BD Wong).
Alguns atores são extremamente mal aproveitados. Justice Smith (Franklin Webb) e Omar Sy (Barry) tem seus papeis resumidos a cenas pouco entusiasmadas que sequer possuem suas existências de forma modificadora da trama, ou seja, com eles ou sem eles, a história poderia se dar da mesma maneira. Contudo há um frescor notável na escalação do ator Mamoudou Athie (Ramsay Cole). Este tem tempo suficiente para se colocar como peça fundamental, ainda que sua cena final com Dodgson seja extremamente cafona, e desenvolve fortes elos com os personagens com quem contracena. É, talvez, por esse motivo que eu gostaria de tê-lo visto mais no filme.
Mas é na relação entre Owen Grady e Claire Dearing – muito mais do que na relação deles com a Maisie Lockwood – que alguma força é encontrada aqui. De todo modo a construção se dá em cima de certos clichês: “A garota indefesa prestes a ser devorada por um dinossauro, e o mocinho a salva segundos antes dela virar comida do bichano”.
Por mais que valha a pena ver a equipe de Jurassic Park reunida e aqui representada pelos atores Sam Neil (Alan Grant), Laura Dern (Drª Ellie Sattler) e Jeff Goldblum (Dr. Ian Malcolm), me parece presunçoso demais achar que isto fosse suficiente para tornar o filme em uma atração épica, já que esta obra fecha um ciclo e encerra a segunda trilogia sobre um mesmo universo já desenvolvido antes lá na década de 90.
Jurassic World: Domínio é voltado para o puro entretenimento, mas como nós sabemos não é esta a proposta do Cinema. O Cinema está aqui para transformar. E o que posso dizer é que, após a sessão de Jurassic World: Domínio, saímos da mesma forma que entramos.
Filme: Jurassic World Dominion (Jurassic World Domínio) Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Laura Dern, Sam Neill, Jeff Goldblum, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, Isabella Sermon, Campbell Scott, BD Wong, Omar Sy, Justice Smith Direção: Colin Trevorrow Roteiro: Emily Carmichael, Colin Trevorrow, Derek Connolly Produção: Estados Unidos Ano: 2022 Gênero: Ação, Aventura, Ficção Científica Sinopse: Em Jurassic World Domínio, sequência direta do longa de 2018, – Jurassic World: Reino Ameaçado – quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, os dinossauros agora vivem – e caçam – ao lado de humanos em todo o mundo. Contudo, nem todos répteis conseguem viver em harmonia com a espécie humana, trazendo problemas graves. Esse frágil equilíbrio remodelará o futuro e determinará, de uma vez por todas, se os seres humanos continuarão sendo os principais predadores em um planeta que agora compartilham com as criaturas mais temíveis da história em uma nova era. Os ex-funcionários do parque dos dinossauros, Claire (Bryce Dallas Howard) e Owen (Chris Pratt) se envolvem nessa problemática e buscam uma solução, contando com a ajuda dos cientistas experientes em dinossauros, que retornam dos filmes antecessores. Capítulo final da trilogia iniciada por Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros. Classificação: 12 anos Distribuidor: Universal Pictures Streaming: Indisponível Nota: 6,3 |