CRÍTICA – MARY ESTÁ FELIZ, MARY ESTÁ FELIZ

CRÍTICA – MARY ESTÁ FELIZ, MARY ESTÁ FELIZ

Conversar com as gerações posteriores sempre envolve reflexões sobre a passagem do tempo e a vivência do cotidiano. No caso de Nawapol Thamrongrattanarit, o diretor por trás de “Mary está Feliz, Mary está Feliz”, fez a escolha de criar um filme no qual os caracteres do Twitter desempenham um papel essencial na narrativa. De maneira explícita na tela, as palavras emergem para capturar os pensamentos da protagonista. Às vezes, essa repetição pode parecer desconfortável, mas ela também se alinha com a “Geração Z”, que cresceu em um mundo onde esses gestos se tornaram comuns. Essa geração não apenas incorporou padrões de linguagem específicos, mas também desenvolveu formas singulares de comunicação. Além disso, o limite de caracteres no Twitter pode criar zonas ambíguas de relação, semelhantes à relação da protagonista com o mundo e suas ações, para evitar um possível vazio entre sua própria convivência com o mundo.

Logo nos primeiros minutos do filme, as situações em que as duas amigas, Suri e Mary, se encontram parecem carregadas de uma busca por momentos climáticos, já para ter uma movimentação nas redes sociais por meio de mensagens textuais. As cenas iniciais são particularmente cativantes para nós, o público mais jovem, ao evocarem experiências que se assemelham a recortes de uma jornada adolescente, repleta de tentativas de possíveis histórias banais. Na primeira parte, toda a movimentação aparenta evocar essa aparência banal das personagens, transformando toda a obra em um retrato quase perfeito de nós, o público jovem.

A escolha de adotar um estilo de filmagem semelhante a um mockumentary é intrigante, pois adiciona uma camada de realismo e uma sensação de “amadorismo” à narrativa, como também uma forma de participamos da narrativa. Além das intervenções textuais na tela, há também a inclusão do som do teclado, como se a personagem estivesse pressionando a tecla “enter”. Embora os elementos do Twitter nem sempre se conectem perfeitamente, esse som cria uma sensação de início e fim, que pode também representar espaços para uma expressão significativa por parte da personagem. O que ela supostamente sintetizar em suas redes sociais, não significa que participe da sua atual realidade, mas participa de um passado próximo ou um futuro distante, onde é possível visualizar suas emoções em outras abordagens nesse registro de sua história.

Após as intensas aventuras das personagens, elas começam a passar por um período de perdas e amadurecimento, no qual seus tweets adquirem um novo traço. A personagem que costumava compartilhar seus pensamentos espontaneamente agora se limita a perguntar sobre questões burocráticas relacionadas a um teste escolar. Nesse momento, o silêncio prevalece no ambiente, e a expressão melancólica em seu rosto transcende o que é postado ou não em suas redes sociais, revelando camadas mais profundas de significados em torno do seu futuro.

Nos minutos finais, a personagem, que contava com vários apoios humanos ao longo da narrativa, encontra-se sozinha, ocupando o centro da tela, enquanto observa pela janela. Mesmo sendo o elemento central da composição, suas costas ocultam sua expressão facial, e a câmera a filma de trás. Fica incerto se Mary está feliz ou se a sua felicidade é duplicada, conforme sugere o título. Contudo, é evidente que seu confronto com a realidade se aproxima, mesmo que seja por meio de despedidas. Mais uma vez, o quadro sugere mais um sintoma da nossa geração, o medo. Será que Mary observa a janela para contemplar o espaço ou está apenas perdida em seus pensamentos? Como nós, o público mais jovem.

Filme: Mary Is Happy, Mary Is Happy (Mary Está Feliz, Mary Está Feliz)
Elenco: Patcha Poonpiriya, Chonnikan Netjui e Wasupol Kriangprapakit
Direção: Nawapol Thamrongrattanarit
Roteiro: Nawapol Thamrongrattanarit
Produção: Tailândia
Ano: 2013
Gênero: Comédia, Drama e Coming of Age
Sinopse: Mary está em seu último ano de escola. Ela enfrentará mudanças repentinas em sua vida, relacionamentos amorosos e amizades. Tudo isso é baseado em alguns tweets de uma garota anônima.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: GTH e Mosquito Films Distribution
Streaming: Filmicca
Nota: 8,0

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