Que Gal Costa foi e sempre será uma das maiores e melhores vozes desse país, quiçá do mundo, todos já sabem. Mas como ela se tornou essa grande estrela? Como ela foi lapidada para chegar no auge de seu talento como intérprete, artista e pessoa? É isso que desperta o interesse do espectador. Quem, de fato, foi Gal Costa, a voz feminina da Tropicália? É isso que Meu Nome é Gal se propõe a responder.
O longa acompanha Maria da Graça, que sai da Bahia e vai para o Rio de Janeiro tentar a sorte em meio à ditadura militar. Ela, juntamente de Caetano, Gil, Bethânia e muitos outros artistas que são preciosidades da música brasileira, dos quais ela já era amiga, formam um grupo de artistas que colaboram entre si. É nesse momento que nasce não só Gal Costa, como o tropicalismo. Bom, isso tudo acontece entre os anos 1960/1970 e a ambientação é impecável. A reprodução de cenários da época, juntamente com a utilização de materiais de arquivo e a complementação dos figurinos e maquiagem, traz toda a atmosfera do que seria a vida de Gal na época. É muito palpável e real.
Como já dito, o filme mostra apenas um fragmento da vida da cantora. Isso poderia ter sido um grande acerto ao demonstrar as facetas da artista de forma intensa em um breve período de tempo. Nesse caso, talvez não tenha sido o momento certo. Gal está descobrindo seu papel dentro de um movimento artístico e político, mas Maria da Graça já é uma pessoa completa, com achismos, ideias e atitudes formadas. Em uma cena do filme, vemos Gal dar uma entrevista e ela diz que não precisa falar sobre sua vida pessoal, já que dizia tudo que queria através das músicas. Acredito que a cena queria demonstrar que ela era uma mulher de atitude e reservada. Entretanto, o longa traz essa exata sensação. A partir dele, não conhecemos profundamente Gal Costa. Trabalha-se a figura dela com uma certa distância, sem realmente adentrarmos em sua vida.
Não sabemos sobre o que é o filme. É sobre a Gal como artista? É sobre a Maria da Graça tentando lidar com o estrelato? É sobre os tropicalistas e a ditadura? As cenas são desconexas. O roteiro parece querer abraçar o mundo. Há uma enorme ênfase na MPB, principalmente na figura de Caetano Veloso, que obviamente tem sua importância na vida de Gal, mas se sobressai de forma incômoda. Atribuem-lhe enorme relevância, muitas vezes deixando de lado a própria Gal. Também, a relação dela com sua mãe parece flutuar pela narrativa sem tanto rumo. Inclusive, vale ressaltar que as atuações, principalmente de Rodrigo Lélis e Chica Carelli, Caetano e dona Mariah, estão excelentes.
Outro pecado do filme é o repertório. Logicamente, a discografia de Gal é impecável. Não há o que discutir. Porém, senti falta de músicas magníficas que conversariam muito bem com a narrativa. “Brasil”, por exemplo, só não ficou de fora do filme porque tocou durante a exibição de gravações reais de Gal que aparecem nos créditos. Créditos esses que são a parte mais emocionante do longa, já que o final é repentino. Se você não é um bom conhecedor da carreira de Gal e não sabe que o “FA-TAL” foi um grande marco da sua carreira, o final será ainda mais frustrante. Quando ela finalmente não parece ser uma mera espectadora de tudo que está acontecendo a sua volta, o filme acaba.
Meu Nome é Gal, apesar de ter problemas na montagem e no roteiro, tem uma boníssima qualidade de produção. É um deleite visualmente. No fim, ele é um filme que respeita a memória de Gal, mas não se aproxima para a conhecermos de perto. Uma pena. Se você é fã da Tropicália e quer ter a experiência de acompanhar a relação entre os membros, aí você sairá um pouco satisfeito, já que o filme não corresponde ao que de fato se propõe.
Filme: Meu Nome é Gal Elenco: Sophie Charlotte, Rodrigo Lellis, Camila Mardila, Luis Lobianco, Dan Ferreira, Dandara Ferreira, Chica Carelli e George Sauma Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi Roteiro: Lô Politi Produção: Brasil Ano: 2023 Gênero: Biografia Sinopse: Meu Nome é Gal contará a trajetória da jovem cantora tímida, Maria da Graça Costa Penna Burgos, que sai da Bahia rumo ao Rio de Janeiro, para se tornar Gal Costa e resplandece diante a magnitude da música popular brasileira do final da década de 1960. Uma trama envolvente e transformadora, que colocará os percalços da artista diante as dificuldades perante uma sociedade conservadora no início da Ditadura Militar, trazendo em tons sutis uma mistura de MPB, bossa nova e guitarra elétrica, além de propor uma transformação completa no visual e nas atitudes. Ainda, o longa deverá trazer a força e determinação de uma das principais vozes da Tropicália, com seus receios mesclado com sua força, que o provocará uma revolução estética e comportamental que transforma toda uma geração, principalmente de mulheres. Classificação: 16 anos Distribuidor: Paris Filmes Streaming: Não disponível Nota: 6,0 |