MINIONS 2: A ORIGEM DE GRU

MINIONS 2: A ORIGEM DE GRU

Em 2010 fomos apresentados a uma animação que, de certa forma, fazia parte do movimento – que dura até hoje – de ressignificação dos vilões. “Meu Malvado Favorito” trazia o personagem Gru, um vilão que queria provar ser o maior vilão de todos e para isso estava obstinado a roubar a Lua, mas ao mesmo tempo percebíamos, nele, um enorme coração como bem visto em sua relação com as três garotinhas órfãs Agnes, Margô, Edith e os Minions, sobretudo com Kevin, Bob e Stuart.

Não é nenhum exagero afirmar que a façanha da franquia – hoje já conta com três filmes – se deve aos pequeninos e amarelados Minions. Mas o que comprova mesmo que estes seres são os grandes responsáveis pelo sucesso da franquia “Meu Malvado Favorito” é o fato de que o diretor Pierre Coffin (Meu Malvado Favorito 1,2 e 3), em 2015, estava a frente da direção, juntamente com Kyle Balda (Meu Malvado Favorito 3), do primeiro filme sobre os Minions. O resultado não poderia ser outro, o longa animado logo se tornou o primeiro filme de animação, sem ser da Disney/Pixar, a arrecadar 1 bilhão de dólares.

Passados sete anos, Minions 2: A Origem de Gru chega aos cinemas. O filme que estava programado para estrear em 2020, como uma comemoração dos 10 anos do filme original “Meu Malvado Favorito”, teve a sorte em não ter este peso sobre si, já que para essa continuação do filme Minions, de 2015, existem mais erros do que acertos.

A história em si já nos leva, de imediato, para o universo da franquia “Meu Malvado Favorito” deixando um pouco de lado quem realmente importa aqui, os Minions. O título, revelando tratar-se sobre a origem de Gru, é o maior sinal de que a obra irá abordar o vilão e não os seus divertidos e leais súditos. Só por isso o filme já perde de inicio um pouco da sua identidade e, cena após cena, essa escolha inicial é reforçada, deixando os protagonistas como coadjuvantes e desenvolvendo apenas o personagem Gru.

Não precisa muito para entendermos que o filme se passa na década de 70. A trilha sonora é marcante e com um suingue característico, a personagem Belle Bottom abre a cena com seu Black e suas roupas coloridas, o filme Tubarão de Spielberg está passando nos cinemas e, além de tudo isso que já foi mencionado, há um ar psicodélico envolvendo boa parte do filme. Essa ambientação funciona de início, mas logo depois é abandonada para que o ritmo, frenético, do filme ocupe todo o espaço. A história que trata sobre o desejo de Gru ingressar em um grupo de vilões chamado de Sexteto não irá deixar lacunas para que cenas mais elaboradas surjam. A ideia é que o público, seja ele infantil ou não, não tire os olhos da tela. Muitos cortes, muitas cores e dessa forma não é de se estranhar pensarmos por alguns segundos se tratar de um dos filmes de Michael Bay (aqueles dos veículos alienígenas).

A verdade é que em momento nenhum o longa consegue engrenar. As cenas entre Gru e os Minions, mesmo aquelas em que existe um sentimento mais trabalhado, como na cena em que Gru vai dormir, dura tão pouco tempo que fica difícil atingir a temperatura certa para criar uma conexão com o espectador. Mesmo assim, vemos novamente que a química do filme fica por conta deles, Kevin, Bob e Stuart. E mais uma vez são eles que tentam roubar por diversas vezes as cenas, mas sem sucesso (Lembrem-se que mesmo o titulo do filme sendo Minions 2, a história é sobre a origem do Gru).

Em se tratando de continuações é sempre bom, ainda que o filme posterior não comece exatamente no momento em que o antecessor terminou, que haja algum tipo de contextualização, para sabermos como tudo se arranjou até chegar até ali. Há aqui um flashback cômico para relembrar parte desse intervalo de tempo, mas esta elipse continua deixando um vazio estranho influenciando negativamente na coesão do filme. Mas há boas saídas, também, quando em um aceno do Gru, percebemos que a relação entre eles ainda não está totalmente amadurecida e que ali é apenas o começo de uma grande vida que irão compartilhar.

Os vilões, aqui, são percalços fáceis de transpor não só para os personagens como também para quem está assistindo. Sem grandes momentos, apenas um ou outro personagem merece destaque. Preciso admitir que amei a Freira e seu automóvel com um grande órgão e seus tubos sonoros atrás. No entanto o sexteto não chega a ser grande ameaça. Mas o pior se dá quando, por escolhas duvidosas, o filme adentra na cultura chinesa e faz disso, na comemoração do ano novo chinês, uma tentativa de marco para o clímax do filme. Todavia o que, de fato, acontece é ainda mais confusão gerada entre as imagens, espaços mal delineados, muitos personagens dentro de um mesmo quadro, ou seja, um verdadeiro carnaval em que fica difícil distinguir o que está acontecendo ali. Por sorte existem algumas pausas de todo este frenesi para que a comicidade com os minions apareça e é na presença deles e somente deles que tudo fica mais leve e fácil de assistir.

Como é sabido Gru acaba se mostrando uma grande figura paterna para as garotas Agnes, Margô e Edith nos filmes “Meu Malvado Favorito”, entretanto esse lado afetuoso era questionável pois pouco se sabia sobre seu passado e quais pessoas e familiares fizeram parte de sua vida. Gru que viveu sempre com sua mãe, não teve dela o que poderíamos chamar de afeto. Mas é através do personagem Sr. Cobra, neste filme, que ele irá aprender sobre admiração, respeito e carinho. Talvez esta seja a grande mensagem do filme e que consegue, ainda que de forma sinuosa, amarrar todos os filmes com esse perfil do personagem. A origem de quem é o Gru que conhecemos se dá por essa afinidade entre ele e o Sr. Cobra, personagem que acaba assumindo uma função de pai para ele, um pai diferente é bem verdade, mas dentro do que é proposto para aquele universo.

Essa ideia de espremer uma história até sua última gota pode até dar certo em termos de bilheteria mas considerando esse filme, propriamente dito, considero um fracasso. Não há nada de novo e fazer um filme sobre os Minions em que o protagonista é o Gru é uma demonstração, maior ainda, de que a ideia era, apenas, lançar mais um “produto” para fazer dinheiro e não para servir como algo maior dentro da história que começou a ser contada em 2010 e que vinha fazendo sucesso até seu último filme lançado em 2017: Meu Malvado Favorito 3”. Uma pena, perderam uma grande oportunidade de mostrar e desenvolver a comunidade e os personagens diversos que compõem os Minions.


Filme: Minions: The Rise of Gru (Minions: A Origem de Gru)
Elenco: Steve Carell, Pierre Coffin, Alan Arkin, Taraji P. Henson, Michelle Yeoh, Julie Andrews, Russell Brand, Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren, Danny Trejo
Direção: Kyle Balda, Brad Ableson, Jonathan del Val
Roteiro: Brian Lynch, Matthew Fogel
Produção: Estados Unidos
Ano: 2022
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Sinopse: Nos anos 1970, muito antes de se tornar o mestre do mal, Gru é apenas um garoto de 12 anos, morando em um subúrbio e planejando dominar o mundo de seu porão, sem muito sucesso até agora. Quando Gru cruza o caminho dos Minions, incluindo Kevin, Stuart, Bob e Otto – um novo Minion de aparelho nos dentes e uma necessidade desesperada de agradar, eles formam uma família inusitada. Juntos, constroem seu primeiro esconderijo, projetam suas primeiras armas e unem suas forças para executar suas primeiras missões.
Classificação: Livre
Distribuidor: Universal Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 6,5

*Estreia nos cinemas dia 30 de junho de 2022*

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