Não é de hoje que Roland Emmerich, através de seu “Cinema catástrofe”, tenta transmitir uma ideia de “reset” da humanidade. Para o diretor só uma catástrofe apocalíptica com poucos sobreviventes salvaria o planeta de sua destruição total, o que é até um contrassenso.
Moonfall: Ameaça Lunar traz uma trama que gira em torno da Lua fora de órbita e em rota de colisão com o planeta Terra. Os protagonistas Brian Harper (Patrick Wilson), KC Houseman (John Bradley) e Jocinda Fowler (Halle Berry) são os encarregados da missão de salvar o planeta.
Há muito tempo se tem a curiosidade pelo que há lá fora: Água? Matéria orgânica? Vida inteligente? O mundo sempre olhou para os céus tentando entender a magnitude de nossa existência. A ciência tentou encontrar caminhos para explicar o que até então era inexplicável. E em 1961, a Apollo 11, pousava na superfície lunar, para, em uma demonstração de poder em plena Guerra Fria, e através do Astronauta Neil Amstrong, fincar a bandeira estadunidense em nosso satélite natural.
Emmerich começa o filme com essa pequena aula. Traz esses relatos, mas deixa uma ponta para o que viria a ser discutido mais adiante, em uma cena envolvendo a personagem Fowler e Holdenfield (Donald Sutherland), e que é amplamente fecundada através da cultura das teorias da conspiração.
O filme, na verdade, usa um pouco da Teoria da Lua Oca, na qual ela seria uma grande espaçonave criada por outros seres. Emmerich explora bastante toda essa atenção à Lua. Brinca com os efeitos de sua aproximação com a Terra e, claro, o primeiro grande momento se dá com às grandes cheias das marés, mas é, justamente, nessa cena que há a primeira grande quebra de confiança no filme, pois é nítido o uso de maquete para demonstrar á agua avançando pela cidade.
Como é de se esperar de um filme catástrofe de um diretor que já fez Independence Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012, Moonfall vai usar e abusar do perigo constante, e essa rotina se faz valer justamente pelo ciclo da Lua em volta da terra, que a cada nova volta, dura menos tempo.
Os conflitos pessoais, algo comum para este tipo de filme, afinal são estes personagens, com seus passados e traumas que, geralmente, salvam o mundo, mas não sem antes passar por um tipo de reflexão sobre a real missão deles enquanto vivos, são explorados aqui também. Mas é nessa preocupação com o lado humano que muitos filmes derrapam, pois, na tentativa de mostrar mais do que uma simples ficção cientifica e nessa busca por um filme que também dialogue com a realidade, há um peso enorme nas relações que, ou soam forçadas ou se encontram fora de tom. Se no início Emmerich flerta com a construção de duas mulheres fortes, independentes e que criam seus filhos sozinhas, o diretor as abandona, sobretudo a personagem Brenda Lopez (Carolina Bartczak), em nome de um desenvolvimento maior dos protagonistas homens, principalmente o personagem Brian, que por um trauma – a perda de uma amigo – em uma missão no espaço no ano de 2011, nunca mais conseguiu se perdoar. Este sentimento até nos conecta com personagem. O vemos falho, mas quando o diretor lhe dá todas as chances para se provar como um belo pai e se omite em relação a personagem Brenda, fica claro que há, aqui, um movimento totalmente direcionado a esta figura paterna. Algo que também podemos perceber na relação entre Brian e Houseman.
Outro ponto altamente discutível é a inserção de situações que dificilmente aconteceria em um mundo real. E não estou nem me referindo às cenas, obviamente, absurdas da perseguição de carro. Me refiro às incongruências em como os personagens lidam de formas distintas em certas cenas. Fowler chega a fazer um discurso de derrota minutos antes de um êxtase pela salvação. Sendo ela uma personagem que sempre foi racional e muito fria – em uma determinada cena ela não esboça qualquer reação com o que ocorre com a tripulação que está investigando a Lua –, essa personagem está sempre pensando em como resolver o problema, gastando todas as possibilidades antes de jogar a toalha.
Emmerich joga o eterno conflito entre o Criador e a Criatura, Humanos versus Máquinas. E deixa bem claro que é preciso dar alguns passos para trás para enxergarmos a realidade em nossa volta. Quando faz o movimento, dentro do filme, da necessidade de equipamentos sem tecnologia, deixa claro a mensagem de que essa é a única rota de saída. E quando, através do personagem Brian, espatifa o celular de Houseman, se movimenta em direção a um comportamento ainda mais radical.
Mesmo com essa crítica preenchendo bem a trama, ainda sobra tempo para um discurso pró ciência e uma cutucada no governo e na ala militar que, não surpreendendo ninguém, acha que tudo pode ser resolvido com um cataclisma nuclear.
O filme todo é extremamente genérico. Quem já assistiu aos outros filmes catástrofe do diretor Emmerich vai conseguir reconhecer muitos elementos já trabalhados pelo diretor. Mas especialmente este filme, ao mesmo tempo em que há uma preocupação com o destino da humanidade, Emmerich não nos dá o vislumbre da dor sofrida. Esse direcionamento em ser frio e correr com o filme em detrimento de alonga-lo para conseguir mostrar os impactos diretos na população, cobrou o preço da indiferença. John Bradley é o único que consegue realmente ser carismático, não à toa seu arco é o mais bem definido pelo diretor e, curiosamente, o grande responsável pelos momentos mais interessantes deste longa.
Filme: Moonfall (Moonfall: Ameaça Lunar) Elenco: Patrick Wilson, Halle Berry, Charlie Plummer, John Bradley, Carolina Bartczak, Eme Ikwuakor, Michael Peña, Donald Sutherland Direção: Roland Emmerich Roteiro: Roland Emmerich, Harald Kloser, Spenser Cohen Produção: Reino Unido, China, Estados Unidos Ano: 2022 Gênero: Ficção Científica, Ação Sinopse: “Moonfall” mostra uma força misteriosa que tira a Lua de sua órbita e a coloca em rota de colisão com a Terra. Poucas semanas antes do impacto e com a humanidade à beira da aniquilação, a ex-astronauta da NASA Jo Fowler (Halle Berry) está convencida de que tem a resposta para salvar o planeta, mas apenas um colega do passado, o astronauta Brian Harper (Patrick Wilson), e o teorista K.C. Houseman (John Bradley), acreditam nela. Os improváveis heróis correm contra o tempo para montar uma missão ao espaço, mas lá descobrem que a Lua não é o que parece. Classificação: 14 anos Distribuidor: Diamond Films Streaming: Não Disponível Nota: 5,7 *NOS CINEMAS* |