NAZISTAS AFRICANOS DO KUNG-FU

NAZISTAS AFRICANOS DO KUNG-FU

Nazistas Africanos do Kung-Fu é um filme Ganês e possui, já em seu título, uma informação muito importante que serve de aviso para o público no sentido de alerta-los para os absurdos narrativos e históricos. O longa dirigido, a quatro mãos, por Samuel K. Nkansah e Sebastian Stein, em momento algum flerta com qualquer lógica histórica ou biográfica.

Stein, além de dirigir, interpreta um Hitler, jovial e sarado, que foge da Alemanha em direção a Gana. E a sua interpretação é a mais caricata possível. Como já citei, não há intenção de levar ao espectador algo próximo ao real, muito pelo contrário, somos apresentados a um universo cômico e contrastante com o que representava aquela figura, símbolo do nazismo. Para começar o filme traz Hitler junto com dois homens de confiança, Hideki Tojo (Yoshito Akimoto), figura que estava à frente do Japão na época da 2ª guerra mundial e Hermann Goering (Marsuel Hoppe) que, aqui, é interpretado por um ator negro subvertendo totalmente a história como ela é conhecida.

Outros filmes já fizeram sátiras com o nazismo e com a figura de Hitler, entretanto, este parece abraçar por completo essa ideia. Se em “Hitler Está de Volta”, filme de 2015 dirigido por David Wnendt, havia um apelo cômico, muito referenciado pelo tipo de filme apresentado em Borat (2006), aquele humor tinha, por trás, algo maior: uma reflexão sobre uma sociedade que não mudou tanto assim desde o fim da segunda guerra.

Nazistas Africanos do Kung-Fu é, durante boa parte da trama, só o humor pelo humor. Seja pelas atuações pífias propositalmente, pelos cenários simples ou, até mesmo, pela história mirabolante envolvendo Hitler e seu plano de formação do 4º Reich, tendo o jovem Addae (Elisha Okyere) como o seu grande adversário.

Addae é o protagonista, um lutador de kung-fu que é tido como o azarão de sua turma. Mas ao longo da trama se descobre como o escolhido e o único que pode combater mais esse avanço das loucuras de Hitler.

Embora o filme não almeje um conceito de qualidade enquanto arte, é importante para o cinema essa representatividade que ele faz enquanto produção. O longa se passa na África, em Gana, e o elenco é praticamente composto só por atores e não atores de lá. Além disso, vemos uma mensagem forte de como o “Branco” é um destruidor, inclusive alienando negros para a sua causa (há aqui uma espécie de White Face, Gana-Arianos), enquanto o povo negro resiste e que, através do personagem Addae – um claro paralelo com o nome bíblico Adão – se mostra como o herói do filme.

O filme na verdade se vende pela curiosidade. Não só pelo titulo que remete a uma grande interrogação sobre do que se trata, como também por ser uma produção originária de Gana, um país, até então, sem muita expressão na história do cinema.

As cenas de lutas são razoáveis, há muitos saltos e malabarismos e pouca ação propriamente dita. Os personagens que atuam como lutadores, são de fato grandes estrelas dos filmes de ação de Gana, e por isso, mesmo que o longa sempre caminhe para um lado de zero seriedade, estas são as poucas cenas sóbrias. Contudo, as lutas finais, no melhor estilo Mortal Kombat, com direito a troca de música para as finalizações – Fatality – são totalmente descabidas. É um verdadeiro show de qualidade extremamente duvidosa, com efeitos típicos de filmes B, dos piores. Mas de alguma forma faz jus a tudo o que o filme construiu. A própria escolha dos lutadores, com direito a um lutador mascarado, típico do México, é um nivelador de como a obra se estabelece diante de um padrão simples, amador e, quase, beirando a uma certa mediocridade.

Mas novamente é necessário fazer algumas ressalvas. Nazistas Africanos do Kung-Fu dispunha de um orçamento irrisório, logo tudo foi feito de uma maneira quase que arcaica. Profissionais de Gana tiveram, talvez, a grande chance de mostrar seus trabalhos para um grande público. Então saber o tamanho do filme, ter bem claro o conceito pelo qual o filme iria navegar foi de suma importância para que o longa não desse um tiro no próprio pé.

Os efeitos especiais são ruins, a trilha sonora se repete, a iluminação é deficiente, mas o universo em que o filme existe é sobre isso, sobre a precariedade de um povo, sobre a falta de oportunidade e a aceitação de uma vida com tão pouco. Por vezes o homem branco pode chegar lá, com um papo sedutor, e conseguir convence-los de que ele é o salvador. É sobre isso que o filme trata e, de forma responsável, ao final, essa mensagem consegue ser passada.


Filme: African Kung-Fu Nazis (Nazistas Africanos do Kung-Fu)
Elenco: Elisha Okyere, Yoshito Akimoto, Sebastian Stein, Kwaku Adu, Ntul Andrew, Samuel Asante, Boateng Walker Bentil, Nkechi Chinedu, Marsuel Hoppe
Direção: Samuel K. Nkansa e Sebastian Stein
Roteiro: Sebastian Stein
Produção: Gana, Alemanha, Japão
Ano: 2019
Gênero: Ação, Comédia
Sinopse: Ao fim da Segunda Guerra, Adolf Hitler e Hideki Tojo fogem em seu submarino e chegam em Gana. Juntos, eles usam práticas do caratê para tentar dominar a população e erguer um novo Reich. Mas só um discípulo do kung-fu africano pode detê-los.
Classificação: 16 anos
Distribuidor:
Streaming: Petra Belas Artes
Nota: 6,3

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