Cobertura Festival do Rio | Noites de Paris, ou “Les Passageurs de la nuit”, de Mikhael Hers

Cobertura Festival do Rio | Noites de Paris, ou “Les Passageurs de la nuit”, de Mikhael Hers

“As pessoas estavam eufóricas em Paris na noite das eleições de 1981, pois pairava no ar o sentimento de mudança e esperança. Menos para Elisabeth. Seu casamento está à beira do fim e ela precisará cuidar sozinha de seus dois filhos”.

 

Mikhael Hers mergulha, de forma nostálgica, na Paris onde viveu sua infância e juventude.

Com um roteiro menos focado em acontecimentos, momentos-chave ou juízos de valor, o diretor traz episódios de uma família qualquer. Em uma narrativa simples e agradável de acompanhar, conhecemos um núcleo familiar em um período de mudanças aonde um certo pessimismo paira no ambiente, visto que o pai da família deixa a esposa desamparada: desempregada, recém-curada de um câncer de mama e responsável por   seus dois filhos adolescentes.  Em contrapartida, os novos ares progressistas de Paris traziam certo otimismo.

Talulah entra em cena e, com ela, alguns espectadores podem achar que esta tomaria a frente da narrativa a partir de então, se tratando agora sobre uma a menina perdida acolhida por uma mulher também perdida, em níveis diferentes, até percebemos que ela é só um atravessamento na família e na sua história. Uma passageira. Ou até, como declara Élisabeth: um passarinho.

O filme apresenta cada personagem do núcleo familiar de forma a não tratar profundamente de questões facilmente abordáveis e interessantes, como as descobertas românticas do jovem Mathias, a trajetória errante de Talulah, ou o recomeço da vida sexual de Élisabeth após o câncer e o divórcio. Não ceder a estas tentações na abordagem principal do filme é um grande acerto do diretor, fugindo do óbvio e retratando uma família em tempo real, adequando o cinema às suas mudanças, e o contrário, incrementando a história para o tempo de tela.

Contudo, a beleza da obra está no ordinário e no familiar: na ausência de transformações bruscas e palpáveis e na calma com a qual os eventos se desenrolam. Esta calma se evidencia na fotografia, a partir do uso de um aspecto visual leitoso, dando a impressão de que todo o filme se trata de uma lembrança. Por vezes, o granulado da imagem trazia a sensação de estarmos assistindo a um filme não somente passado, como produzido na década de 1980. Além disso, esses aspectos visuais trazem uma sensação de leveza quase que hipnóticos, como se realmente nada brusco fosse acontecer.

Ressalto, também, a escolha de diminuição da janela de proporção para essas sequências mais granuladas, seguidas das mais panorâmicas de planos fechados nos rostos dos personagens, que davam a sensação de que estávamos dentro se suas cabeças, assistindo às suas memórias.

Em resumo, Les Passageurs de la nuit é um filme conduzido em meio a simplicidade e ao naturalismo. Ele se basta em retratar o trivial nos pequenos efeitos das pequenas escolhas. Talulah, mesmo que breve e passageira, se deixa transformar e transforma a família que toca, tornando certas mudanças mais fáceis e leves de aceitar.


Filme: Les passageurs de la nuit (Noites de Paris)
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Quito Rayon Richter, Noée Abita, Megan Northam, Thibault Vinçon, Emmanuelle Béart
Direção: Mikhaël Hers
Roteiro: Maud Ameline, Mariette Désert, Mikhaël Hers
Produção: França
Ano: 2022
Gênero: Drama
Sinopse: “As pessoas estavam eufóricas em Paris na noite das eleições de 1981, pois pairava no ar o sentimento de mudança e esperança. Menos para Elisabeth. Seu casamento está à beira do fim e ela precisará cuidar sozinha de seus dois filhos”
Classificação: Não informado
Streaming: Indisponível
Nota: 7,5

 

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