O desejo do diretor Robert Eggers (A Bruxa e O Farol), enfim, se tornou realidade. Ele concluiu, após 7 anos, sua trilogia sobre os contos da Nova Inglaterra. Seu novo filme, O Homem do Norte (2022), conta a história de um príncipe Viking em busca de vingança. Apesar de não ser um filme em que a originalidade seja seu mote, até porque bebe de muitas fontes, inclusive a série de sucesso, Games of Thrones, Eggers e Sjón – ambos assinam o roteiro – conseguiram criar um universo rico e uma história que, inquestionavelmente, nos prende a atenção. Seus quase 140 minutos não se mostra cansativo, a dinâmica muito bem alternada entre cenas de ação, rápidas, e as que careciam de um tempo maior para desenvolver relações, tornam esse filme equilibrado e bastante aprazível. O problema é que este longa parece ter sido idealizado como grandioso demais e não à toa o orçamento para este épico foi muito maior do que o valor somado para as produções dos seus dois primeiros filmes.
O primeiro impacto desse investimento já é sentido ao vermos o grande elenco que aqui temos. Enquanto que em A Bruxa (2015) tínhamos poucos nomes conhecidos e com uma Anya Taylor-Joy em seu inicio de carreira e em O Farol (2019) o filme desenvolvia a relação entre, somente, dois personagens, Thomas Wake (Willem Dafoe) e Thomas Howard (Robert Pattinson), agora o diretor convocou um time de estrelas (Nicole Kidman, Ethan Hawke e Alexander Skarsgård) e, claro, contou com alguns atores com quem já tinha trabalhado e confiava, como foram os casos de Anya Taylor-Joy, agora com uma carreira consolidada e em ascensão, e Willem Dafoe. Uma pena que, para este último, a presença não tenha sido bem marcada no filme. Ficou a impressão de ser, mais uma vez, um coadjuvante de luxo.
O protagonista é Amleth, o qual poderia ser facilmente confundido com Hamlet, de Shakespeare, já que as histórias se assemelham em diversos pontos, e que, aqui, é interpretado por um musculoso Alexander Skarsgård que, mesmo em se tratando de um filme de ação, é possível enxergar, também, sua contundente entrega emocional. Para além da fisicalidade exigida neste tipo de filme, em que as cenas de lutas corporais são sempre elevadas para causar o impacto esperado, ele passará por diversas provações e todas elas serão sentidas fortemente pelo personagem. Ali não há somente uma casca ou um animal em forma de gente, existe um homem que carrega uma dor em forma de mantra:
“Eu vou vinga-lo, Pai;
Eu vou salvá-la, Mãe;
Eu vou mata-lo, Fjölnir.”
As derivações do drama existente – o fio condutor – em O Homem do Norte para nós espectadores, pode parecer previsível demais, mas, ainda que de forma frágil, não deixa de fazer sentido através de como toda a história é contada. A mãe de Amleth, a rainha Gudrún (Nicole Kidman), se mostra de maneira muito evidente, o que é, claramente, uma falha do roteiro. E antes fosse só isso, mas Eggers, com um medo de não ser claro o suficiente para seu público, resolve ser extremamente expositivo ao mesmo tempo em que se esconde atrás de um bobo da corte e de suas insinuações que não deveriam, principalmente para nós, ser levadas a sério. O grande problema é que o diretor não soube aplicar a sutileza ou até mesmo replicar a sugestibilidade tão bem empregada em suas outras obras. Aqui os personagens são o que são e já se mostram nos minutos iniciais da trama. Quanto aos questionamentos que irão acompanhar o personagem Amleth durante sua trajetória, nós temos as respostas que ele não tem e, embora haja novas revelações, nada configura uma mudança na essência de cada personagem.
Outro ponto difícil de comprar é o sentimento que o protagonista começa a nutrir por uma escrava. Tal relação fica no ponto limite de soar como algo forçado. Talvez por conta das atuações e pela química apresentada por eles consigamos aceitar todo aquele amor, mesmo que muito pouco tenha sido desenvolvido para tal.
Como citei anteriormente O Homem do Norte não é inovador e sua história é um tanto batida. Não chega a ser genérica, pois a estética do filme chama atenção. Eggers repete muitos dos seus enquadramentos já vistos em A Bruxa e O Farol, mas aqui parece querer provar uma competência que é desnecessária. Alguns movimentos de câmera, forçando o espectador a perceber o controle que ele, Eggers, tem com o que quer mostrar, parece mais uma vaidade do que uma necessidade dentro da narrativa.
O Homem do Norte não consegue repetir o feito de A Bruxa e O Farol. A essência destes filmes, que eram delicados e íntimos, deu lugar a um virtuosismo que precisava se provar através de uma ampla magnitude em termos de elementos cinematográficos. Eggers, ao mesmo tempo em que possui uma preocupação importante em como cada elemento cenográfico precisa fazer sentido dentro da época e povos retratados aqui, não abre mão de especular sobre diversos caminhos durante a trama que ele mesmo não consegue solucionar de forma assertiva, como é o caso da passagem de tempo que temos logo no início do filme. Simplesmente muito é suprimido e temos de aceitar.
O filme encanta pelo apuro técnico, pelas atuações que, como citei, pendulam entre o choque de testosterona e algo mais cadenciado e pelo universo criado com uma mistura de fantasia e história. Mas, definitivamente, não é o melhor de Robert Eggers.
Filme: The Northman (O Homem do Norte) Elenco: Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Gustav Lindh, Elliott Rose, Willem Dafoe Direção: Robert Eggers Roteiro: Sjón e Robert Eggers Produção: Estados Unidos Ano: 2022 Gênero: Ação, Aventura, Drama Sinopse: O jovem príncipe Amleth está prestes a se tornar um homem quando seu pai é brutalmente assassinado por seu tio, que sequestra a mãe do garoto. Fugindo de seu reino insular de barco, a criança jura vingança. Duas décadas depois, Amleth tornou-se um guerreiro viking furioso, um autêntico berserker, invadindo aldeias eslavas impiedosamente. Classificação: 18 anos; Distribuidor: Universal Pictures Brasil Streaming: Indisponível. Nota: 7,6 |