PAPAI É POP

PAPAI É POP

Primeiro de tudo preciso informar o quanto acho difícil assistir a um filme que tem na sua essência a tentativa de desenvolver o ideal de uma paternidade ativa, mas que recai nos mesmos clichês e muletas de tantos outros filmes que já tentaram trilhar este caminho e foram um fracasso completo do ponto de vista do “alcançar o objetivo”. E isso, comigo, gera duas situações. A primeira é a decepção por conta de um material que poderia ter sido melhor aproveitado e a segunda, e talvez mais preocupante, é a duvida que fica se de fato os realizadores (diretor e roteiristas) têm a plena consciência do papel de um pai, sobretudo, aqueles que se tornaram pais nos últimos anos e que possuem de forma muito mais rápida e fácil o acesso a tantas informações sobre maternidade, paternidade e educação infantil.

Papai é Pop, filme que estreia nesta quinta-feira dia 11 de agosto de 2022, é dirigido por Caito Ortiz (Coisa Mais Linda) e tem como protagonista o ator Lazaro Ramos no papel do personagem Tom. Eu poderia citar que a atriz Paolla Oliveira, assim como Lazaro Ramos, protagoniza o filme – algo que ela não faz –, mas vou deixar essa explicação para depois.

O filme, que é uma adaptação do livro homônimo escrito por Marcos Piangers, segue um roteiro muito similar do longa “Paternidade” (2021), estrelado por Kevin Hart, o qual, curiosamente, também é uma adaptação literária. Ambos colocam a figura paterna como sujeitos patéticos e desprovidos de qualquer bom senso, entretanto estas características que, em qualquer cenário, soariam de forma negativa apenas, em ambos os filmes servem para inserir e alavancar o humor. Um humor que é completamente datado e que não surte, ou pelo menos não deveria surtir, efeito algum no espectador. Na verdade chega a causar uma espécie de vergonha alheia quando uma simples troca de fralda é visto como algo tão conflituoso para o filme, quando na verdade se trata de uma das coisas mais fáceis de toda a maternidade/paternidade.

O tom cômico é sem duvidas desmedido aqui. Ainda que a comédia esteja na concepção do filme, o tema merecia um ar mais sóbrio, como é bem pensado, por exemplo, nos vídeos que o personagem Tom grava para seu canal no Youtube. É bem verdade que o humor quebra barreiras e, assim, facilita a entrega da mensagem. Mas Papai é Pop se tornou, através do que se propôs a fazer e da forma que foi conduzido, só mais um filme de comédia explorando a imaturidade de um pai completamente despreparado para a missão que lhe cai no colo, ser pai.

Uma das poucas cenas deste longa que realmente causa algum tipo de reflexão é quando temos um dialogo entre Gladys (Elisa Lucinda) e Tom, mãe e filho, enquanto este ultimo está a tentar montar o berço. A câmera que simula a visão de Gladys, enquadra Tom, dentro do berço que está sendo montado, dando a impressão de que ele ali é um bebê. Há uma clara ideia do quanto infantil aquele personagem demonstra ser, além da imaturidade já citada aqui nesse texto. Mas em uma só cena há ainda muito mais a se enxergar, como é o caso da própria visão que Gladys tem de seu filho e em como é peça fundamental para a virada de chave do personagem Tom. Contudo novamente o roteiro peca e, aqui, ele dá importância demais a quem tem importância de menos, a figura do pai de Tom.

Repeti durante boa parte da minha vida adulta, quando a ideia de ter um(a) filho(a) estava ganhando forma em mim, que eu teria de ser um pai melhor do que o pai que tive. Esse mesmo mantra existe no personagem de Lazaro Ramos, contudo, assim como no filme Paternidade, quando estamos diante de um filme que desenvolve essa figura paterna como foco principal, parece que o roteiro se permite a escolhas que não deveriam fazer parte de um filme que se propõe a construir uma boa imagem de um pai. No caso do filme da Netflix é estarrecedor como facilmente o personagem Matt decide abandonar sua filha com os sogros por conta de seu emprego. E aqui, em Papai é Pop, o caminho é similar, pois o personagem Tom, na menor dificuldade, se exime de toda e qualquer responsabilidade e deixa para a, já sobrecarregada, mãe, Elisa, aqui interpretada por Paolla Oliveira, tudo relacionado à filha deles.

Um grande erro, em todo o filme que aborde esse tema, está na necessidade de desenvolver por um longo tempo as características de um mau pai para, só depois, através do mínimo esforço, tentar convencer o publico de que aquele personagem, depois de poucas reflexões e ressignificações, se tornou o pai do ano.

Outro enorme equivoco está em tirar a mãe da equação para que, assim, a figura paterna consiga sobressair. Uma escolha reprovável, já que o necessário é que ambos caminhem juntos. Este é o motivo de, no início dessa crítica, ter citado que a personagem de Paola Oliveira, a Elisa, não protagoniza esse filme. Ela precisa desaparecer para que Tom seja visto. Só assim é possível perceber o amadurecimento do personagem – ainda que por um mínimo esforço e uma grande aposta do diretor.

O longa não traz grandes soluções técnicas, ele é na verdade bastante modesto. Sua linguagem é bem simples acompanhando a forma já solidificada para este tipo de gênero aqui no Brasil. O humor é o tom que recai por mais tempo sobre o filme, principalmente, nas diversas cenas entre Lazaro Ramos e Leandro Ramos. Já o drama fica a cargo, exclusivamente, de todo o sofrimento vivido por Elisa em um período tão delicado para uma mãe, o puerpério.

Infelizmente Papai é Pop se coloca em um lugar muito distante de uma voz apropriada para levantar uma bandeira em defesa da necessidade da paternidade ativa. Mesmo com os depoimentos finais, fica muito claro que há muita romanceada em algo que é muito duro. O olhar do diretor, aqui, recai sobre as dificuldades dos primeiros meses de vida de uma criança, mas o trabalho é árduo e constante, mesmo após os 2, 3 ou 4 primeiros anos da criança. O pai não tem que ser pop, não tem que um superpai. Tem que ser, apenas, Pai – em seu significado mais amplo possível.


Filme: Papai é Pop
Elenco: Lázaro Ramos, Paolla Oliveira, Elisa Lucinda, Malu Aloise, Dadá Coelho, Leandro Ramos
Direção: Caito Ortiz
Roteiro: Ricardo Hofstetter, Maíra Oliveira, Marcos Piangers
Produção: Brasil
Ano: 2021
Gênero: Comédia, Romance
Sinopse: Tom (Lázaro Ramos) vê sua vida mudar completamente ao se tornar pai. Aos poucos, junto com a esposa Elisa (Paolla Oliveira), ele vai aprendendo o significado da paternidade e se vê tomado por um amor completamente diferente depois do nascimento de suas filhas. Através de situações cotidianas, o filme apresenta uma representação fiel da relação entre pais e filhos.
Classificação: Livre
Distribuidor: Galeria Distribuidora
Streaming: Indisponível
Nota: 5,7

*Estreia dia 11 de agosto de 2022 nos cinemas*

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