CRÍTICA – PREMONIÇÃO 6: LAÇOS DE SANGUE

CRÍTICA – PREMONIÇÃO 6: LAÇOS DE SANGUE

Após longos 14 anos de recesso, Premonição está de volta. O sexto filme da franquia que é tão querida por muitos amantes do gênero terror retorna com um projeto que tem altos e baixos, mas que inegavelmente consegue cativar o espectador – seja pela criatividade das novas mortes (razão pela qual a maior parte do público gosta de assistir aos filmes, assumidamente), seja pelo frescor de trazer novas dinâmicas à trama, diferenciando em alguns pontos da famosa premissa que se repetira nos filmes anteriores.

Isso porque em Laços de Sangue, lidamos com a surpresa de que a trágica cena da premonição em questão, que se passa numa altíssima torre na década de 1960, na verdade atormenta os sonhos de Stefani, uma jovem estudante, sendo que o suposto acidente trágico teria sido visto e evitado pela sua avó, Iris. A diferença do fio condutor já começa daí, visto que seu sonho terrível e recorrente nada mais é do que o fruto de sua avó ter frustrado a morte ao conseguir impedir o acidente, salvando assim inúmeras vidas que estavam naquele local. Fato é que a morte, traiçoeira como é, passa a “perseguir” os membros da família de Iris, como forma de puni-la e dar o recado que aquela linhagem nem deveria existir.

Da mesma forma que inúmeras mortes da franquia tornaram-se memoráveis (quem nunca se lembrou de Premonição ao ver uma máquina de bronzeamento artifical, uma escada rolante, caminhões carregando enormes troncos de árvore?), nesse filme, por mais que ande pelo terreno da mais pura incredulidade, novos traumas são desbloqueados. A começar pela cena de abertura, onde acompanhamos todos os arredores daquele ambiente, os mecanismos, a forma como os trabalhadores operam para fazê-lo funcionar e etc; é magistralmente dirigida. Indubitavelmente veio para marcar, sendo disparada uma das melhores cenas de visão da premonição de toda a franquia. Há tensão, há dança, há sangue. A trilha sonora mostra logo de início que veio para ser a cereja do bolo, tendo o poder de engrandecer e incrementar a história de cada cena, ora com músicas mais animadas, ora mais melancólicas, mas sempre com as letras afiadas e condizentes com o que os nossos olhos estão testemunhando.

No entanto, a jornada de Stefani para tentar driblar o destino fatal e salvar seus parentes é um tanto oscilante. Isso porque, quando o roteiro nos faz crer que ela entendeu toda dinâmica da morte e que está a um passo a frente, algum acontecimento trágico seguinte a puxa para trás novamente. Isso por vezes torna a trama agridoce, visto que, em comparação com os protagonistas dos filmes anteriores, Stefani é a que mais possui recursos e informações mais detalhadas a respeito de como esse mal maior age ou pode vir a agir (por mais que não tenha sido a visionária), isso graças ao elaborado livro que sua avó a entregou, onde estudou minuciosamente todo o modus operandi da querida inimiga invencível. Logo, se por um momento isso nos ilude ligeiramente ao deduzirmos que será “briga de cachorro grande”, não demora muito para isso cair por terra, já que todos os próximos passos são equivocadamente calculados, resultando em fracasso (perdoável, porque do contrário não teríamos as tão aguardadas mortes). Mas, afinal, dar tanta ênfase no material do tal livro – que foi tão mal aproveitado – e no enclausuramento da avó por todos esses anos, nada mais seria do que uma firula do roteiro tentando enfeitar algo que não precisava. Às vezes, o menos é mais.

Essa frustração na falta de êxito dos planos acaba fazendo surgir as primeiras generosas camadas de um humor um tanto mórbido – e bem-vindo. Nos filmes anteriores, por vezes, há sim algumas cenas que são aquele famoso “rindo de nervoso”, porém extremamente pontuais, talvez pelo fato de carregarem um tom de mistério e tensão muito mais constante e evidente. Em Premonição 6, essa crescente de ameaça não é tão potente. É quase como se estivéssemos acompanhando a personagem principal somente para ver o quão ela irá fracassar em tentar dar um “olé” na morte, e nos divertir com isso. Isso soa um pouco… sádico, talvez? Que nada! Os fãs de terror costumam ser assim mesmo: enxergamos graça no absurdo! E os realizadores de Premonição sabem bem disso.

Um dos pontos altos desse sexto filme, vale ressaltar, é justamente a criatividade das mortes que, como eu bem disse acima, é uma das principais (por vezes, uma das únicas!) razões pela qual certa parte do público costuma assistir – empolgado – aos filmes. É a marca registrada da franquia, afinal. Em relação a isso, os cérebros por trás deste filme e dos antecessores são sempre muito bem empenhados em entregar muito gore e absurdo. O fato do inimigo a ser derrotado ser invisível, se tratar de um destino inescapável que é de fato impossível de ser vencido – bem como a forma em que a desesperança concreta é retratada em A Morte Cansada do gigante Fritz Lang, por exemplo, onde uma mulher tenta negociar com a Morte para ter seu amante de volta – o longa consegue se esquivar daquele fator limitador que há em muitas franquias de filmes slasher, como Halloween, Sexta-Feira 13, Pânico, entre outros, onde consequentemente acabam apresentando desgaste ao longo do tempo por não conseguirem se reinventar. A morte sendo a única vilã abre um leque de infinitas possibilidades diferentes – sejam acidentes de um aspecto mais cotidiano, mais próximo ao que poderia tranquilamente acontecer com qualquer um de nós no dia a dia, sejam mais absurdas e improváveis, até mesmo para enfatizar o elemento do exagero, do riso involuntário (afinal, qual a chance de morrer de uma maneira TÃO extravagante assim?). Neste filme 6, as tragédias estão mais espalhafatosas e imprevisíveis que o normal: há toda uma construção de cenas a fim de nos dar falsas pistas, para uma conclusão da morte mais inesperada e mirabolante possível. Pensamos uma coisa, nos é entregue outra – tal como a luta constante em vão da protagonista.

O CGI não tão evoluído assim, mesmo sendo lançado num ano que a tecnologia está assustadoramente avançada, não frustra. Sendo isso devido à falta de um orçamento mais ostensivo ou pelo intuito voluntário de assemelhar-se aos efeitos especiais dos filmes anteriores pelo fator da nostalgia como a proposta, de todo modo, a ideia é mais divertir do que perturbar, então conseguimos “relevar”. Quanto à certeza da desgraça anunciada, só ajuda a potencializar o teor pessimista da trama, que por sua vez, anda de mãos dadas com a comédia das construções cênicas. Um bom exemplo é a Stefani extremamente preocupada com os seus familiares, a ponto de querer pegar na mão, ajudar a atravessar uma rua, ficar falando “cuidado” o tempo inteiro – o zelo exacerbado dela para com a integridade física das pessoas ao seu redor acaba nos divertindo espontaneamente.

Talvez o maior tropeço em Premonição 6 seja o fato do potencial dramático ser mal desenvolvido, levando em conta o fato do alvo da morte ser uma família. Tanto que, apesar de ser o filme mais longo em relação aos anteriores, o tempo acaba não sendo administrado bem ao nível de fazer com que o espectador se sinta conectado suficientemente com a maioria dos personagens, já que alguns são carismáticos, outros, nem tanto (os destaques sendo a própria Stefani, o Bobby – o moço que tem alergia – e provavelmente o mais memorável personagem sendo o Richard, interpretado por Erik Campbell, que é um jovem rebelde e tatuado, um tanto inconsequente, com um coração mole). Quanto aos demais, não há um quê de “que dó! Não queria que ele tivesse morrido!” – tamanha indiferença é refletida também pela atmosfera anticlimática que é dada após cada uma das mortes. É seguida uma dinâmica de: tentar salvar alguém; fracasso; pessoa morre; velório; vamos para o próximo que iremos tentar salvar. O tom é tão abrupto que nem mesmo a pitada de humor recorrente ao longo do filme justifica isso. Mais do que meros colegas de escola, aqui se trata de uma família, logo, a uma ausência de um maior peso emocional é quase indefensável, tanto dos personagens entre si, quanto a relação espectador x personagens. O fato de não haver um grande antagonista, algum personagem desprezível de moral duvidosa, nem personagens muito vulneráveis, logo desperta aquele sentimento sádico de: “certo, essa pessoa irá morrer, e eu só quero ver como será a morte dela”.

Um bom exemplo de um momento marcante, ainda que breve, foi a aparição de Tony Todd, já que o ator encerrou um grande legado de sua carreira e vida no mais recente filme da franquia na qual ele participou assiduamente e marcou gerações. A homenagem foi curta, mas teve alma – ao contrário do final, que deixou a impressão de ter sido decidido de última hora, sendo anticlimático. No mais, Premonição 6 é um bom prato para os fãs fiéis da franquia, por conseguir trazer os principais elementos que deram fama aos filmes, por saber rir dos seus absurdos, e por ser consideravelmente inovador em sua maneira de entreter, por mais que tenham tentado entregar um roteiro bem mais elaborado do que conseguiram atingir. Há um aceno nostálgico inegável, mas sem apelar para excessos, de modo que parte do público que não tenha assistido aos filmes anteriores não se sinta excluído – pelo contrário, certamente veremos mais filmes deste “universo” muito em breve.


Filme: Premonição 6: Laços de Sangue
Elenco: Kaitlyn Santa Juana, Teo Briones, Tony Todd, Richard Harmon, Brec Bassinger, Owen Joyner, Anna Lore, Gabrielle Rose, Andrew Tinpo Lee, Alex Zahara, Matty Finochio
Direção: Zach Lipovsky, Adam B. Stain
Roteiro: Guy Busick, Jeffrey Reddick, Jon Watts, Lori Evans Taylor
Produção: Estados Unidos
Ano: 2025
Gênero: Terror
Sinopse: A estudante Stefani é atormentada por um pesadelo recorrente. Cansada, ela decide ir atrás da única pessoa que possa quebrar o ciclo terrível que teria condenado sua família a um destino fatal.
Classificação: 18 anos
Distribuidor: Warner Bros
Streaming: Indisponível
Nota: 6,0

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