“QUEBRANDO MITOS”, de Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira, estreia no dia 16 de setembro

“QUEBRANDO MITOS”, de Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira, estreia no dia 16 de setembro

Seja nas telas, no papel ou nas mídias sociais, o histórico do cineasta Fernando Grostein Andrade se pauta na defesa dos direitos humanos. No documentário “Quebrando Mitos”, cuja direção divide com o ator e cantor Fernando Siqueira, o paulistano de 41 anos destrincha a masculinidade frágil e catastrófica de Jair Bolsonaro, através de um olhar biográfico. O filme, que estreia na página www.quebrandomitos.com.br no dia 16 de setembro, investiga ainda como o governante – cuja candidatura era antes considerada por muitos uma piada – usou o ódio aos LGBTQs como alavanca eleitoral para pavimentar o seu caminho ao poder.

“Masculinidade não precisa ser catastrófica. É importante dizer que isso não é uma crítica ao masculino, afinal sou um homem gay. Não estou falando que os homens não têm que participar do poder. Estou dizendo que o poder precisa ser dividido – cabe mais gente. Quando todo mundo olha uma coisa pelo mesmo lado, todo mundo só enxerga o mesmo ângulo. Quem perde é a sociedade, porque eliminamos assim a inteligência coletiva”, afirma Andrade.

Desde que lançou o documentário “Quebrando o Tabu” (2011) – no qual defende que o tema das drogas deveria ser tratado como questão de saúde e não com punição criminal –, o cineasta anos vem sofrendo ataques de ódio. As ameaças aumentaram em 2017, quando assumiu publicamente a sua orientação sexual no vídeo “Cê Já Se Sentiu um ET?”, veiculado em sua página de Youtube. No curta de 15 minutos, ele expõe de forma bem-humorada o seu processo de autoaceitação com o intuito de ajudar outras pessoas reprimidas em situação semelhante à que viveu.

Em 2018, entretanto, a hostilidade chegou ao limite. Por conta de críticas ao então candidato presidencial Jair Bolsonaro, recebeu uma mensagem que o advertia a parar de falar de política, caso contrário “o seu velório seria com o caixão lacrado”. A ameaça à sua segurança, somada a um longo histórico de intolerância, assédio e acusações, foi o estopim para a sua decisão de deixar o país.

“O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem tinha feito o filme Quebrando o Tabu, me botou em contato com um advogado que apontou risco à minha segurança e relatou que setores do judiciário e da polícia estavam comprometidos com células de ódio”, lembra Andrade. “Disse também que era melhor eu ficar quieto, mas isso é impossível para uma pessoa que é conhecida pelos amigos como um ‘sincericida’”, explica Andrade.

Cerca de dez meses depois de se mudar para Los Angeles, em 2019, sentiu-se na obrigação de fazer um filme contra as posições do governante, já que, segundo ele, “o privilégio vem acompanhado de responsabilidade”. No documentário, que tem co-direção da finlandesa Claudia Virkkila, o diretor revela suas fragilidades em primeira pessoa, com o propósito de estimular e ampliar a discussão entre LGBTQs e seus familiares, além de aproximar indivíduos com visões políticas distintas, ajudando indecisos a votarem conscientemente.

“Grande parte dos LGBTQs têm uma família conservadora e vice-versa. Debater é sempre bom, porém é fundamental qualificar o debate. Para o filme, fizemos uma ampla pesquisa, bem como uma profunda reflexão, e é essa a nossa contribuição às famílias e eleitores”, diz Andrade, que foi nomeado Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial, em 2019, e obteve bolsas de estudo nas universidades de Harvard (programa de liderança) e Virginia (liderança em equidade racial), em 2021.

O documentário traça um paralelo entre a vida de Andrade e a de Bolsonaro, alternando material de arquivo com novas imagens e entrevistas com políticos, jornalistas, pensadores, líderes sociais e ativistas, além de amigos de infância e pessoas próximas ao presidente em exercício.

Ao terminar o primeiro corte, o cineasta consultou colegas de confiança do meio audiovisual, como o cineasta Sérgio Machado e o compositor Antonio Pinto – responsável pela trilha sonora do projeto –, pois ficou com a impressão de que o resultado estava sombrio demais.

“O filme começou totalmente focado na história e vida do Bolsonaro e acabou ficando muito difícil de assistir. Ficou pesado, tinha muita desgraça, muito ódio, muita coisa negativa. O Sérgio e o Antonio sugeriram que houvesse mais cenas delicadas, e o Fernando (Siqueira) achou que essa delicadeza deveria se expressar através da ênfase na resistência e na vida LGBTQ”, recorda Andrade.

Após finalizar a versão inicial do filme, o diretor teve um burnout e achou mais prudente fazer uma pausa. No período, encontrou no piano um refúgio e começou a fazer música com Fernando Siqueira. O que era para ser algo despretensioso transformou-se em um álbum – atualmente em pós-produção – de 13 faixas. Uma delas, a música sobre exilio “California”, criada por Siqueira, foi adaptada para o documentário.

“A maior parte das músicas são compostas pelo Fernando [Siqueira], que toca piano e violão. Eu também compus algumas canções no teclado e, como estudei Engenharia de Som, por conta própria, fiz a produção musical”, revela. “‘California’ não foi feita especialmente para o filme, mas sentimos que se encaixava perfeitamente e acabou sendo um dos destaques da trilha.”

A segunda versão do longa-metragem começou a tomar corpo quando Siqueira – que estudou roteiro na USC (University of Southern California), direção em cursos no Instituto de Sundance, atuação no William Esper Studio e mídias sociais no MIT (Massachussetts Institute of Technology) – se aproximou e apontou a câmera para o cineasta.

“A minha geração tem orgulho de ser queer. Eu cresci com muito mais referências LGBTQs na minha infância e adolescência. Isso tem muita força. Desde que filmamos o ‘Cê já se sentiu um ET?” eu vejo o Fê (Andrade) se sentir cada vez mais confortável em ser quem é. Acho admirável o quanto ele se propõe em desafiar as ‘normas’ que foram impostas pela geração dele”, diz Siqueira.

A iniciativa o ajudou a encontrar novos ângulos, histórias e, acima de tudo, recuperar a autoestima. Em seguida, começou a dividir a montagem com o marido, que passou a oficialmente assinar a direção do projeto.

“Você precisa de muita força para expor a sua história diante da câmera. Temos uma relação de muita confiança um no outro, tanto do que está funcionando do ponto de vista da música como no da montagem, da cena. Viramos uma dupla criativa. O frescor e a leveza da alma dele contribuíram para trazer o lado das flores, porque antes o filme era só balas”, conta Andrade, cuja filmografia inclui, entre outros, a ficção “Abe” (2021) e o documentário “Coração Vagabundo” (2009).

Produzido pela Film Soul, nova produtora de Andrade, o longa-metragem contou com uma série de contribuições valiosas ao longo do processo de três anos de concepção. O roteiro é de Carol Pires (“Democracia em Vertigem”, Greg News”), jornalista especializada em política na América Latina, criadora e apresentadora do podcast “Retrato Narrado – Bolsonaro” (2020), que busca entender como o governante conseguiu se tornar presidente do Brasil. O time de montagem, por sua vez, traz experientes nomes do segmento, como Helio Villela, Suzanne Spangler, Silvia Hayashi, Arthur Andrade e Doug Abel, também produtor executivo de “Quebrando Mitos”, que editou os premiados projetos “A Máfia dos Tigres”, “Sob a Névoa da Guerra” (vencedor do Oscar de Melhor Documentário) e “Farenheit 11 de Setembro”.

“A contribuição que eu faço com esse filme é o resgate da essência em detrimento da aparência e para isso precisamos olhar para a estrutura. É um pedido para retomarmos o eixo da esperança, da luz e da construção, ao invés do eixo do ódio e do medo”, conclui.

Assista aqui o trailer:

 

Fonte: Sinny Assessoria

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