RANKING OF KINGS

RANKING OF KINGS

Após um tempo (pós-graduação e trabalho devorando de pouco a pouco), nada melhor do que retornar comentando sobre um campo específico da arte que sempre fascina, as animações japonesas! É um prazer essa possibilidade e comentar sobre essa série é de uma beleza inacreditável.

Ranking of Kings é daqueles animes que se tornam quase instantaneamente clássicos contemporâneos, que passa longe da média, destacando-se não só entre as várias obras que são lançadas nas temporadas, mas ocupando posição entre as melhores produções tanto atuais quanto antigas. Por onde começar, então? Pela animação que, além de um espetáculo por si própria, reafirma a força do roteiro e a ambientação com primazia.

Fluída, colorida e caricaturesca, as escolhas de design delineiam a proposta fantástica da história, relembrando um quê de desenho infantil que, propositalmente (mérito do autor do mangá e escolha inteligente de fidelidade por parte do estúdio), nos dá a sensação de que a história será um conto de fadas, já que o medievalismo ficcional é estabelecido, já em seus primeiros quadros, com nosso protagonista Bojji chorando nas mãos da sua mãe gigante. A grande sacada é a contraproposta que vai gerar uma dicotomia com a animação, agindo como um abraço, complementando, onde as lutas são absurdamente bem animadas e lisas, tanto quanto as temáticas adultas que a narrativa carrega, havendo só um “pano de fundo” que parece infantil. Não alivia na violência, acertando nas dosagens de impacto sem brutalizar gratuitamente.

Mas e a narrativa? Espetacular, nos capturando em um ritmo insano que não perde a mão em um episódio sequer. O episódio dois (dos vinte e três) já me desnutriu em lágrimas, do quão bem escrito é, nos embalando na jornada do pequeno príncipe em se tornar um poderoso rei. A jornada do elenco (diga-se que ninguém fica de fora, mesmo que por alguns poucos quadros, nos explica e ambienta os sentimentos de cada personagem estabelecido na narrativa) é rica, cheia de contradições, reviravoltas e conquistas. Cada nova etapa, que vem a alocar novos cenários, também é bem pensada, sem se enrolar em explicações alongadas ou ser sintética demais. Há um olhar preciso, afiado, que sabe onde e o que colocar, sem “encher linguiça” demais. O destaque vale para a dupla de protagonistas, Bojji e Kage, que encantam nas suas interações, que levam a emocionar e encantar sem nunca hesitar, também, em nos deixar apreensivos em momentos decisivos da história. Bojji sendo surdo e mudo, desfavorecido em todos os aspectos físicos (retirando uma peculiar característica que não será pontuada para evitar spoilers), conquista o público com sua inocência, bondade e altruísmo únicos, onde em cada sorriso, cada lágrima, cada ferimento, em cada conquista, nós refletimos suas emoções enchendo o coração com aquele encantamento que somente boas histórias sabem causar.

E a riqueza vem desse estudo do elenco, trabalhando com problemáticas morais, amizade, amores, desafios do amadurecer e da aceitação, em absoluta totalidade do elenco. Uma multifaceta de características, que todos ganham suas tonalidades de cinza, que é assustador pensar o quanto de qualidade há em seu texto e narrativa. Os famosos “flashbacks” dos animes vem na hora certa, pontuando e acertando na construção do elenco, os diálogos e as contradições que promovem os altos e baixos da narrativa são picos absurdos onde você é capturado, episódio por episódio, e sem nem notar, já está no episódio final, chorando, rindo e triste, afinal tudo tem que ter seu final, mesmo que se saiba que uma segunda temporada é mais do que aguardada. Esse peso, comentado anteriormente, nas boas sacadas do que mostrar, narrar e ocultar, reflete nas lutas que sempre geram consequências, não há passo em falso e não há luta sem propósito. Cada passo dado é sacado para engrandecer, destruir ou elaborar o interno dos personagens, versões imperfeitas do que projetamos como clássicos clichês de histórias medievais. Quando se entende isso, cada luta gera desconforto, gera imprecisão sobre para onde vai, quem pode morrer e quem está por trás de toda aquela trama de contos de fada. Até o espelho mágico ganha sua profundidade e importância que nos instiga a ver a resolução do mistério todo que essa primeira temporada apresenta.

É um clássico instantâneo que vale a pena indicar a todos, divulgando as boas histórias que merecem nossos corações. São vinte e três episódios que capturam e voam em uma piscadela de olhos. Ranking of Kings já é uma das minhas animações favoritas do Japão, equiparando as mesmas qualidades dos grandes, havendo tanta complexidade (em sua simplicidade como proposta) quanto Berserk, Neon Genesis Evangelion e muitas outras obras que poderiam ser citadas.

Série: Ousama Ranking
Elenco: Minami Hinata, Yûki Kaji, Ayumu Murase, Rina Satô
Episódios: 23 episódios
Criação: Sōsuke Tōka
Produção: Japão
Ano: 2021-
Gênero: Animação
Sinopse: As aventuras do Príncipe Bojji continuam nesta história épica de poder, linhagem, e do que significa ter um coração nobre. Ele retorna a um reino em perigo, um príncipe possuído, e um espelho misterioso controlando tudo por trás dos panos. Embora seja surdo e não consiga falar, Bojji combate corajosamente os inimigos dentro e fora, e faz aliados das formas mais inesperadas.
Classificação: 14 anos
Streaming: Crunchyroll; Funimation
Nota: 10,0

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *