THE BATMAN

THE BATMAN

É impossível, diante de tantas obras anteriores, assistirmos ao novo filme do Batman e não ficarmos tentados a fazer comparações sobre o enredo, o ator, os vilões e a todo e qualquer elemento pertinente à produção audiovisual, muito embora eu também concorde que é um ato covarde utilizar uma régua de outro filme para definir se este ou aquele é melhor. Pois ainda que sejam filmes sobre o mesmo herói, o material humano é diferente, não só dentro do filme como na concepção deste também. E uma coisa que posso deixar bem claro é como Matt Reeves consegue criar e sustentar o clima de mistério e suspense por tanto tempo sem parecer, demasiadamente, cansativo.

É nesse ponto, da direção e de tudo que o cerca, que o filme apresenta seu maior trunfo. A iluminação, ou a falta dela, com uso de muita sombra – ao que muitos estão proclamando com neonoir –, sendo utilizada, também, nas principais cenas de luta, funciona bastante para exigir do espectador uma atenção maior para com cada personagem inserido na trama, bem como força-los a enxergar de forma mais profunda tudo o que está ali nas entrelinhas.

Se posso tecer um comentário negativo é ao fato de Reeves, em determinados momentos, não confiar no seu publico e, por isso, tomar a infeliz decisão de ser muito explicativo. Isso, óbvio, gera dois grandes problemas, o primeiro é que acaba com toda a graça do espectador em se sentir parte importante da trama na intenção de descobrir todas as peças faltantes do quebra-cabeça e depois que causa um inchaço no longa desnecessário. Não que haja qualquer tipo de problema com filmes de 3 horas ou mais de duração, o problema está em como esse tempo é preenchido e utilizado.

É interessante notar, porém, que Reeves escolhe não preparar nenhum epílogo nos minutos iniciais do filme, é bem verdade que acompanhamos uma narração em off de Bruce Wayne/Batman, mas em poucos minutos já temos cenas de ação e acontecimentos importantes para a trama, criando assim, rapidamente, uma atmosfera de medo. A própria citação “Eu sou a vingança” torna tudo mais sombrio e, este feito, não vai só para a conta do diretor, é preciso dar créditos a excelente atuação de Robert Pattinson. O desenvolvimento desse personagem é extremamente linear, austero e de uma forma cadenciada necessária para o que é proposto aqui, reflexões sobre quem é e qual a sua missão para com aquela sociedade.

Seu aspecto mais franzino em comparação a outros atores que já interpretaram o herói como foram os casos de Ben Affleck e Christian Bale – o melhor até hoje na minha opinião – serve também para trazer mais a questão da falibilidade humana. E é nessa falibilidade que encontramos a sua relação com Alfred, personagem muito bem construído por Andy Serkys mas que eu gostaria de ter visto mais, no entanto deve ser mais explorada numa eventual, mas não tão eventual assim, continuação para este filme.

Os arcos dos personagens, de uma forma ou de outra, se completam ao fim do filme. Evidente que a história se propõe de uma forma muito maior do que tudo o que vimos nesse primeiro filme. Há outros vilões para explorar. Neste primeiro filme o foco foi completamente no Charada e, de forma muito inteligente, o uso constante das brincadeiras e pistas sendo desenvolvidas, sempre, em mais de uma cena, propuseram que a figura do vilão estivesse sempre presente mesmo sem ser visto. Essa falta de um rosto, alguém para sabermos a quem devotar nosso sentimento de justiça e vingança, causa mais tensão ainda e cria, em nós, um sentimento de que precisamos, o quanto antes, descobrir quem ele é.

É extremamente de bom gosto a fórmula encontrada por Reeves para apresentar certos personagens ou, pelo menos, causar um certo frisson no público. Não havia duvidas sobre o papel de Zoë Kravits (Selina Kyle/Mulher-Gato), mesmo assim é satisfatório vê-la usando suas unhas como garras ao mesmo tempo que é seu apartamento cheio de gatos de rua é um ótimo indicativo para caracteriza-la. Mas a melhor parte é quando o personagem Os (Colin Farrell) é obrigado a andar com os pés e mãos amarrados, levando o riso ao rosto do espectador por, agora, ter a certeza do seu personagem.

Se para com estas composições, o diretor, resolve com simplicidade, o mesmo não acontece com o traje do homem-morcego. Sua vestimenta cheia de artimanhas, parece passar despercebida no interesse do diretor, muito embora haja alguns closes em determinadas partes, mas que de forma solta, não acrescenta em nada para o entendimento do funcionamento, bem como, ao nível de proteção que exerce a seu detentor. Por outro lado, a aparição do batmóvel, um pouco estranha no início, é com muita ênfase e as cenas de perseguição seguintes nos dá uma bela imagem daquela máquina.

The Batman é um filme que está interessado em muito mais do que, simplesmente, renovar a franquia. Há um outro pensamento aqui. Assim como em Joker (2019) do Todd Phillips, The Batman se revela como um estudo de personagem. Bruce Wayne possui demônios dentro de si, muitos, adquiridos após a morte precoce de seus pais e outros provenientes de toda a violência com a qual convive em Gotham. Seu passado é um importante fator que molda sua personalidade, contudo as novas descobertas colocam em xeque quem ele pensava ser. Esse crescimento do personagem é compassado e possui um ritmo próprio e constante. Reeves que já se provou um excelente diretor e roteirista, tendo sempre muito controle sobre seus filmes, entregou justamente o que prometeu em The Batman.


Filme: The Batman
Elenco: Robert Pattinson, Zoë Kravitz, Paul Dano, Barry Keoghan, Colin Farrell, Peter Sarsgaard, John Turturro, Andy Serkis, Jeffrey Wright
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves, Peter Craig, Bob Kane
Produção: Estados Unidos
Ano: 2022
Gênero: Ação, Policial
Sinopse: Dois anos vigiando as ruas como o Batman, causando medo nos corações dos criminosos, acabou levando Bruce Wayne às sombras da cidade de Gotham. Com apenas alguns aliados de confiança – Alfred Pennyworth e o Tenente James Gordon — entre a rede corrupta de oficiais e figuras importantes da cidade, o solitário vigilante se estabeleceu como a personificação da vingança entre os cidadãos de Gotham.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Warner Bros
Streaming: Não disponível
Nota: 7,9

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