THE BOYS (SEASON 1)

THE BOYS (SEASON 1)

Uma das palavras que define bem, a trajetória dessa série, é insanidade. É quase um teste para a produção midiática Norte-Americana: qual é o limite do absurdo e da violência? The Boys, veio para transpor e se colocar muito acima de bastantes produções, conquistando – usando das palavras de Butcher (Billy Bruto) – na sua proposta diabólica, atuações incríveis e debates, no mínimo, sensíveis.

Adaptando direto dos quadrinhos de Garth Ennis (Punisher MAX, Hellblazer, Crossed, Preacher e etc.), é exposto um universo satírico dos super heróis – uma clara paródia com os famosos personagens tanto da DC quanto da Marvel – onde, eles claramente, não são o referencial heroico arquetípico que se vê na arte em geral. Nessa primeira temporada, acompanha-se os Sete (referência clara a Liga da Justiça) e os The Boys (Os Caras) que buscam meios de vingança e justiça contra os atos – no mínimo – maléficos dos super nessa realidade.

E, desde os primeiros minutos, do primeiro episódio, a série vem desintegrando através do absurdo. A violência do exagero, buscando impacto e se inserir no incômodo do que é visto. Será padrão pela temporada toda – e para piorar – expandindo para outras áreas, afinal o mais leve aqui, é a violência em si – sangue e miolos são “de boa” – as atitudes e ações morais de grande parte do elenco deterioram conforme os episódios, esticando-se numa linha que fere qualquer ética e moral. É de bater palmas a ousadia da equipe de produção, que se aproveita de temas políticos e religiosos, para alfinetar todo mundo com muitos tapas imorais e vomitando a hipocrisia da sociedade daquele universo, refletindo diretamente a sujeira da nossa. Nem os católicos passam intocados por aqui, com cenas marcantes, demonstrando valores homofóbicos (famosa “cura gay”), o papel da mulher virgem e intocada (“mulher de bem”) e tudo que há de bom no pacote conservador do “homem de bem”, tão exaltado hoje pelas mídias alternativas de uma direita – para não dizer mais – tóxica.

Com o suporte das atuações do elenco, como um todo – dando destaques, é claro, para Antony Starr (Homelander – Capitão Pátria) e Karl Urban (Butcher – Billy Bruto) – tudo fica mais incrível. Não adiantaria de nada toda essa exposição ultraviolenta, se os personagens fossem opacos e vazios. Homelander – paródia direta do Superman – é de encher os olhos, do quão bem trabalhado é em sua riqueza de expressões e sentimentos. A cada nova guinada que a história toma, vemos a queda desse símbolo e sua caminhada ao absoluto do vazio. É a jornada do louco, onde se constrói no público, a pergunta – quando ele vai perder por completo do senso de humanidade? – por mais, que seus atos sejam desumanos e imorais, há um ser fragmentado, destruído e recheado de traumas internos, que procura se conectar a alguém ou algo. Vive de um egocentrismo intenso, é o mito de narciso esclarecido. Enche o peito, lembrando o porquê de um bom ator ser tão importante.

O conflito dos diferentes duplos que são estabelecidos – o famoso conflito do Herói e do Monstro – salta pela história da série. Existem tantos opositores que contrastam um com os outros, tanto externamente quanto internamente, personagens que flutuam aos diferentes polos morais – uma série recheada de tons de cinza. Billy Bruto, é um grande ícone dessa ambiguidade moral. É um dos personagens mais conflituosos, sendo uma explosão de ódio e, muitas vezes mais próximo do “diabólico” do que um exemplo de herói que combate os vilões – já nos Super, existe Starlight (Erin Moriarty) que é uma real heroína, em um conflito existencial por adentrar aos Sete e perceber que nada parece com o que lhe foi vendido, buscando meios de manter sua moralidade e altruísmo. Assim, existe essa quebra do padrão que nos é vendido – de que todos os super são “escrotos” e Os Caras são os “bonzinhos”.

E, temos, ainda acima disso tudo, a Vought – Corporação Empresarial que administra e cuida dos Super – em todas as áreas. Dá suporte de equipamentos, marketing, encontra e repassa missões e, é claro, lucra com tudo isso. Ai entendemos, o quanto os Super são produtos que vendem muito, muito bem! Aqui é onde se estabelece a principal parte que trabalha com a hipocrisia e as mentiras do meio, o quanto é – imagem x realidade – tudo falso. A Vought incorpora todos os valores de um capitalismo selvagem, que domina e conquista sem nenhuma moral, ascendendo sobre pilhas e mais pilhas de vítimas dos seus produtos, porém sendo um pilar da indústria – que vende bonecos, quadrinhos, filmes, bebidas, parques, comidas e etc. – que procura, aumentar suas garras e, nessa primeira temporada, conseguir inclusive colocar seus heróis no meio do exército dos Estados Unidos.

O ponto fraco da primeira temporada, é o pouco equilíbrio que há entre os diferentes eixos narrativos de elenco. É – desde que os Super são apresentados – bem mais interessante e curioso, quando o foco são eles, há aquela sensação instigante de não só saber o que de absurdo pode vir, mas também por explorarmos suas personalidades, suas características, deixando eles mais Profundos – e, mais polêmicos ainda conforme são expostos. Enquanto, Os Caras, nos instigam pela simples proposta de qual seu próximo passo em relação aos super, porém foca-se centralmente em Hughie, protagonista do elenco humano, que cai de gaiato na violência toda desse universo. Falta conteúdo nos outros personagens, que não sabemos tanto nessa primeira temporada.

De restante, prepare a pipoca e vá enfrentar essa divertidíssima e polêmica série da Amazon – agora ainda mais, com o quanto a terceira temporada caiu na boca do povo. Vale seus bons minutos, mas já alerto! Ao dar seu primeiro play, não haverá se não diante de você aquela famosa maratona, por sempre querer saber o que vai acontecer no próximo episódio…

Série: The Boys (Season 1)
Elenco: Karl Urban; Antony Starr; Erin Moriarty; Jack Quaid
Desenvolvedor: Eric Kripke
Roteiro: Eric Kripke
Produção: Hartley Gorenstein
Ano: 2019
Gênero: Ficção Científica; Comédia; Drama; Ação
Sinopse: THE BOYS é uma visão irreverente do que acontece quando super-heróis, que são tão populares quanto celebridades, tão influentes quanto políticos e tão reverenciados como deuses, abusam de seus superpoderes ao invés de usá-los para o bem. É o sem poder contra o superpoder, quando os rapazes embarcam em uma jornada heroica para expor a verdade sobre “Os Sete” com o apoio da Vought.
Classificação: 18
Distribuidor: Prime Video
Streaming: Prime Video
Nota: 8.8

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