THE BOYS (SEASON 2)

THE BOYS (SEASON 2)

E tinha como evoluir daquela insanidade? “Ô” se tinha! Mas nada que sobe, também não tropeça em alguns degraus, não deixando de atestar seu selo de qualidade de uma produção que sabe muito bem o que veio a fazer.

É estabelecido nessa segunda temporada de The Boys, diferentes focos, porém seu pilar central são os super-terroristas, ou – não que eu esteja sendo ameaçado pelo Homelander – os super-vilões. The Boys expande muito bem o universo que nos foi apresentado em sua primeira temporada. Entendemos mais dos conceitos, hierarquias e relações estabelecidas entre as organizações e seus personagens, estabelecendo desde seu início um mistério que nos leva episódio a episódio, por querer saber a “revelação”. O ponto de tensão, é o quanto “Os Caras” estão em uma corda bamba, isso inclui Kimiko (Karen Fukuhara), membro oficial do grupo no momento. Procurados por todos os cantos, encurralados em uma base de traficantes, vivendo no ápice do desconforto, sem ver uma luz no fim do túnel. Hughie, tenta substituir – e discordar – das tomadas de decisão de Butcher, que eleva sua brutalidade e insanidade, por buscar um meio de resgatar sua esposa. O ponto catalisador é a pergunta: onde está a solução? Rumando a insanidade, perca das motivações e, a falta de diálogo. É interessante essa dinâmica opressora, porém, ela fica travada, às vezes não escorre bem pela garganta – o desconforto é intenso, quando estamos envolvidos nas cenas com nossos anti-heróis – mas falta fruição – afinal, o cerco se fecha tão bem, que muitas dos escapes e soluções que nos são apresentadas, parecem forçadas a favorecer nosso elenco – que simultaneamente parece protegido dos desastres e mortes, salvando a exceção de uma cena em específico – nos esgotos, após a diabólica cena da baleia – que nos deixa prendendo a respiração.

Vale ressaltar, que se mantém, a herança fraca da primeira temporada: “Os Caras” continuam rasos, com exceção de Hughie e Kimiko. Hughie – nosso “protagonista” é trabalhado a todo momento em seus conflitos, desde a primeira temporada, acompanhando a sua jornada dentro dessa diabólica odisseia de violência, loucuras, brutalidade, desgraça e respingos de esperança. Kimiko tem seu lado pessoal explorado, seus conflitos e passado, o que retira sua faceta rasa – expressam sua delicadeza, traumas e a essencial falta de escolhas no arco de sua vida – o que inclui, aliás a apresentação dos seus poderes e a violência toda que sempre foi imposta sobre sua personalidade, não a deixando ser alguém, eternamente se sentindo “algo”. Francês (Tomer Capone) e Leitinho (Laz Alonso) continuam misteriosos, vácuos, que carecem de “passado” e motivação, mas ressalto: suas personalidades, trejeitos e manias – que também constroem os personagens – não são deixadas de lado.

Já no lado oposto da moeda – no elenco dos Super – é inacreditável a sensibilidade do texto, que sabe bem onde colocar e onde não mostrar, para realçar e construir mais a fundo seu elenco. Starlight (Erin Moriarty) e Maeve (Dominique McEliggot) se destacam, tantos pelos conflitos que precisam lidar – principalmente Maeve, que mostra seu lado pessoal, sua relação – destaque para as críticas em torno da indústria e a absorção de mercado seletivo, usando da exposição de sua sexualidade para atingir nichos específicos – basta colocar a bandeira LGBT+ e está tudo conscientizado, famoso “pink money” – cada vez mais “descontente” com o meio de convívio, desgraça e hipocrisia da Vought e seus heróis.

Há a adição no elenco que surpreende, do quão bem se encaixa e agrega: Tempesta (Aya Cash), que surge no momento de desfalque dos Sete. Uma personagem que, consegue – para dizer no mínimo – incomodar mais do que o próprio Homelander. A sagacidade genuinamente maligna, que a atriz transmite, nos faz desde o primeiro momento que Tempesta aparece, antagonizar com sua presença. Uma manifestação direta, do espírito Trumpista – que vai influenciar e ensinar o próprio Homelander – que joga em nossa cara, tudo o que o cidadão de “bem” norte-americano sabe ser. Não é nada escondido, as críticas são deliberadamente abertas, incluindo o seu “racismo” que é tudo, menos “estrutural”, apesar de retroalimentar também essa estrutura opressora. Uma cidadã exemplar. Seu arco narrativo, junto do Homelander encanta, pois ousam nos limites da ética e moral, transgredindo e impondo novos horizontes, de até onde a produção da série é capaz de ir na exposição e paralelos com as problemáticas antigas, mas tão atuais não só da sociedade norte-americana. Não deixado de lado, o quão profundo, eles vão na personalidade do Profundo (Chance Crawford) – trocadilho bem profundo, diga-se de passagem – trabalhando seus problemas, dilemas e contradições. Aqui alfinetam, aquele lado curioso, peculiar e insano dos cultos que cá e lá surgem nos EUA – mostrando o quanto tudo é industrializável e o quanto todo mundo quer tirar um pedaço do capital que são os Super. Trem-Bala e sua personalidade flutuante, que ainda não encontrou seu eixo, ganha mais notas aqui, visando uma crise existencial que, percorre a temporada inteira, sem uma solução, a não ser se afundar mais e mais nas suas contradições externas e internas.

E, nosso querido e odiado Homelander? Antony Starr continua brilhando, sendo um dos – se não, o maior – destaques de atuação na produção midiática em geral. É incrível, como sempre está na beira do precipício, sua personalidade sendo uma bomba atômica de emoções, visando uma estabilidade – o que o deixa mais insano, violento e impulsivo, do que já nos foi exposto – que nunca chega. Sempre há uma barreira – interna ou externa – que dificulta sua vida e suas decisões. A sensibilidade em transmitir em poucos gestos – olhares, o maxilar tremendo, uma flexão da boca – e, automaticamente, permite a leitura do público de qual emoção perpassa pelo espectro da personagem. Rendem momentos estranhos, narcisistas, violentos e bizarros. Um destaque para a cena final do último episódio da temporada, com um grande e espetacular fechamento.

Aliás, em uma época que a representatividade ganha cada vez mais seu peso, problematizando as estruturas conservadoras e reacionárias, não daria para não comentar sobre uma das melhores cenas Girl Power recentes! Uma enxurrada de porradaria, tão bem pensada e satisfatória, com um roteiro sagaz – que manda aquela piscadela de provocação para a Marvel – que entendeu muito bem como reforçar e criticar as estruturas dentro da proposta ultra-violenta, diabólica e esquisita de The Boys. Para quem assistiu… – Nazi bom, é nazi morto -.

Por fim, o humor é refinado, apesar de manter a boa e velha “escrachada” que marca tão forte a série, mas há uma evolução, uma sagacidade entre imagem/texto que provocou muito mais risadas – inclusive em momentos bem errados, que provocam aquela vergonha-alheia – do que anteriormente. O clima de paródia intensifica aquele ato de rir do reflexo de realidade. Não se pode esquecer, que o lado dos péssimos (mas inteligentes) trocadilhos, cenas desconfortáveis e diálogos piores ainda, são de selo de qualidade, para quem é entusiasta desse gênero humorístico.

No fim, The Boys segue com excelência, mantendo certos desvios de qualidade, no entanto, acima da média com intensidade…

Série: The Boys (Season 2)
Elenco: Karl Urban; Antony Starr; Erin Moriarty; Jack Quaid
Desenvolvedor: Eric Kripke
Roteiro: Eric Kripke
Produção: Hartley Gorenstein
Ano: 2020
Gênero: Ficção Científica; Comédia; Drama; Ação
Sinopse: THE BOYS é uma visão irreverente do que acontece quando super-heróis, que são tão populares quanto celebridades, tão influentes quanto políticos e tão reverenciados como deuses, abusam de seus superpoderes ao invés de usá-los para o bem. É o sem poder contra o superpoder, quando os rapazes embarcam em uma jornada heroica para expor a verdade sobre “Os Sete” com o apoio da Vought.
Classificação: 18
Distribuidor: Prime Video
Streaming: Prime Video
Nota: 8.9

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