THE LAST OF US – EPISÓDIO 02 – “INFECTADOS”

THE LAST OF US – EPISÓDIO 02 – “INFECTADOS”

Um impossível possível 

A cena de abertura do segundo episódio de The Last of Us, “Infectados”, continua a discussão iniciada na abertura do primeiro ao mostrar o quão possível uma catástrofe como essa realmente é. No primeiro episódio, vimos cientistas algumas décadas atrás discutindo sobre pandemias, com um deles falando que a pandemia que acabaria com os humanos seria uma trazida pelos fungos, o que não era possível ainda, mas, caso a Terra esquentasse um pouco mais, quem sabe o que aconteceria. Em um mundo afundado na crise climática como vivemos hoje, com essa cena os criadores da série já mostraram ao que vieram. 

No segundo episódio, a cena de abertura também foi uma adição que não existia nos jogos e é essencial para estabelecer vários fatos de construção de mundo importantes para a série (de onde veio a infecção, como a infecção é transmitida, o que acontece com o fungo caso o hospedeiro morra, como combater a infecção). Podem parecer meros detalhes, mas esses fatos ajudam a aterrar a história e torná-la mais crível a tangível para quem assiste. 

E mais aterrorizante também, afinal, tudo isso está baseado em ciência real. Como uma possível infecção de fungos se comportaria no corpo humano talvez não, afinal os Estaladores (Clickers) são um pouco criativos demais para isso, mas de resto, eles fizeram muita pesquisa para a série estar o mais embasada na ciência possível, o que permeia toda a história com um certo calafrio (a real probabilidade de algo assim ainda é pequena, mas não zero). 

 

O momento mais esperado 

O episódio continua de onde parou, com Joel, Tess e Ellie saindo da Zona de Quarentena para levar Ellie para os Fireflies do outro lado da cidade. Como agora estão em campo aberto, finalmente podemos conhecer os temidos zumbis e também aprender um pouco mais sobre como o fungo funciona, de uma forma sempre fluida e sem enrolação. 

– SEÇÃO COM SPOILERS, ATENÇÃO! COLOCAREI UM AVISO AO FIM DOS SPOILERS –

E nessa podemos ver, pela primeira vez ao vivo e em cores, os temidos Estaladores (Clickers), o segundo pior pesadelo de todo mundo que jogou o jogo. A caracterização deles, feita majoritariamente toda com prostéticos e não com efeitos visuais, está perfeita. Os movimentos, os sons, a cena toda foi uma introdução perfeita a estes que com certeza ainda trarão muitos problemas. 

E a partir daí foi ladeira emocional abaixo. A morte da Tess no jogo foi chocante, pois ela parecia alguém que ficaria lá por um tempo. Ela tinha tudo para ser uma personagem principal. Mas a morte da Tess na série foi muito pior, além de chocante (para quem não sabia), ela foi dolorida. Em dois episódios, roteiro, direção e atriz conseguiram dar tanta tridimensionalidade para a personagem. Com isso, sua morte foi uma perda muito mais impactante tanto para a audiência quanto para Joel, que ganha outra motivação e outro impulso para sua jornada. 

Gostei também que mudaram para um ataque de zumbis ao invés de um ataque militar como foi no jogo. A briga humanos vs humanos já está sendo colocada aqui e ali, mas o foco todo do episódio foram, como diz o nome, os infectados. Logo, fez sentido que aqui víssemos a comunicação do fungo em ação, para já cimentar esse recurso para uso futuro. 

Por fim, o que falar do “beijo da morte”? Foi poético de uma forma nojenta, humano e carnal, um fim e um começo. Eu achei uma escolha ousada, mas que, para mim, funcionou muito. Foi uma cena icônica que, com certeza, já entrou para uma das mais notórias do ano e só estamos em janeiro. 

– FIM DOS SPOILERS! – 

 

Fidelidade

Falando um pouco sobre a fidelidade jogo vs série, que é um assunto que vai surgir toda semana com certeza, continuo adorando as escolhas feitas pelos criadores. Nesse caso elas funcionam muito pois essa é uma série feita em conjunto com o criador do jogo, com a equipe que trabalhou no jogo, e essa sinergia faz com que as mudanças façam sentido dentro desse mundo. Existe fluidez entre o jogo original e essa atualização necessária para a linguagem da série. Também estão aproveitando que têm mais tempo para desenvolver a história para aprofundar alguns conceitos. 

É tanta sinergia que o criador e diretor criativo do jogo, Neil Druckmann, inclusive dirigiu o segundo episódio! Com isso, temos muitas referências crtl+c/ctrl+v ao jogo, mas também ao significado mais profundo de cada personagem nesse momento da história. Ellie é a esperança, Tess é a fé, Joel é o ceticismo, e muito disso é mostrado com a câmera, com as luzes. Toda a equipe trabalhando na série está de parabéns em todos os aspectos, da direção de arte à caracterização das personagens aos efeitos visuais. 

 

Uma defesa

Aqui eu vou, como sempre, desviar um pouco da crítica para um momento de reflexão mais amplo sobre o tema. Eu discordo um pouco da posição aparente do Fábio em sua crítica sobre o primeiro episódio da série, na qual discute que as adaptações de Resident Evil almejaram uma estrutura “gamificada” que, na sua concepção, significaria esvaziamento dramático das cenas e personagens e foco nos estímulos imediatos da ação. Meu ponto aqui não é sobre Resident Evil (apesar de adorar o primeiro filme, me julguem), mas sobre a subestimação dos videogames ao equalizar “gamificada” à essas características apresentadas de forma negativa. Não sei se foi essa a intenção, mas foi o que chegou em mim como leitora, então queria levantar meu ponto aqui para continuar esse diálogo de forma amistosa. 

Acho que os videogames passaram anos provando que podem ser muito mais do que apenas sangue e pancadaria com um fio narrativo risível – podemos voltar bem lá atrás, para os jogos da série A Lenda de Zelda para o Nintendo 64, ou para os Final Fantasy 7, 8 e outros, lá do Playstation 1, e podemos olhar para jogos mais atuais como os próprios The Last of Us 1 e 2, nos quais os zumbis são os “menores” dos problemas. Todos esses possuem muito mais do que só ação e tiros sem nenhuma estrutura narrativa que se preze. Pelo contrário. 

Para quem jogou o The Last of Us 1, inclusive, a série tem uma sensação gamificada que, na minha concepção, significa conseguir viver a imersão que um jogo de videogame proporciona muito mais do que uma série jamais poderia. Várias cenas, ângulos, ações e conversas são levantadas diretamente, frame por frame, palavra por palavra, gesto por gesto, do jogo. E isso não é ruim! 

Meu ponto aqui é, então, em defesa do valor dos videogames. Hoje em dia, além de serem a maior indústria criativa do mundo em termos financeiros, também estão criando mundos que vão muito além daquele sábado à tarde na lan house matando os amiguinhos no Counter-Strike. Hoje em dia temos mundos riquíssimos, com histórias detalhadas e profundas, personagens tridimensionais e mais desenvolvimento do que muita série e filme nem poderiam sonhar.

 

Continuem assistindo 

Voltando da minha divagação, a recomendação óbvia é para continuarem assistindo, ou começarem a assistir. Não precisa ter jogado o jogo para entender, fizeram um trabalho incrível nesse sentido, então vá de coração e cabeça abertos e deixe o Joel e a Ellie te conquistarem assim como vêm fazendo com todo mundo nos games há anos. O caminho é doloroso e tortuoso, mas prometo que vale a pena.

Pôster da série "The Last of Us", do canal HBO. Série: The Last of Us
Episódio: 02
Canal: HBO
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Anna Torv, Gabriel Luna, Merle Dandridge
Direção: Neil Druckmann
Roteiro: Craig Mazin, Neil Druckmann
Produção: Estados Unidos, Canadá
Ano: 2023
Gênero: Ação, Terror
Sinopse: Vinte anos após a queda da civilização, Joel é contratado pra tirar Ellie de uma zona de quarentena perigosa. O que começa como um pequeno trabalho, logo se transforma em uma jornada brutal pela sobrevivência (Sinopse oficial).
Classificação: 16 anos
Streaming: HBO Max
Nota: 9,5

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2 thoughts on “THE LAST OF US – EPISÓDIO 02 – “INFECTADOS”

  1. Oi, Gabi!
    Acho que rolou uma má-compreensão do que eu quis dizer na minha crítica, talvez por culpa de uma falta de clareza em minhas palavras 🙁
    Não quis utilizar essas características (esvaziamento dramático e estimulo imediato) como aspectos negativos de Resident Evil, mas sim como grandes qualidades dos filmes! Sou um grande fã de RE, dos jogos e dos filmes. Não só Paul W. S. Anderson (que costumeiramente aposta nessa “gamificação”) é um dos meus diretores favoritos, mas o quarto filme tá, sem dúvidas, entre os 5 melhores filmes de ação do século XXI para mim.
    Talvez eu tenha passado uma ideia errada do que o termo “gamificação” quer dizer. Se tiver interesse, o professor Arthur Tuoto tem um vídeo no YouTube muito bom sobre “gamificação” do cinema. Com certeza ele, com a bagagem pedagógica dele, consegue esclarecer melhor o termo para quem tiver curiosidade do que eu.
    Mas afinal, é um termo que se refere muito mais ao cinema do que aos jogos. É utilizado para se referir à obras que se apropriam de elementos lúdicos.
    Não é, de maneira alguma, um juizo de valor sobre jogos (até porquê, como eu disse, acho as características do termo positivas). É só um termo síntese utilizado para esclarecer melhor a ideia de um filme que apela pra uma experiência mais imediata e linear com a própria narrativa. Uma obra que abdica de justificativas mais profundas para se pautar nessa força mais imediata mesmo. Usa de características lúdicas para construir sua forma. Alguns filmes até constroem uma estrutura de acontecimentos bem similar a um jogador atravessando por fases ou evoluindo personagens. Se pegarmos a série John Wick, essa estrutura de fases é bem nítida.
    Os filmes da dupla Neveldine e Taylor (que são legais demais, inclusive!), também são um ótimo exemplo desse tipo de cinema.
    Então, no final, “gamificação” é uma palavra que é usada só pra exemplificar um tipo de cinema mesmo. Não tenta colocar, ou retirar, valores do video-game em sí.
    Concordo totalmente com você de que esse apelo mais imediato pela ação não é uma característica tão representativa dos games atualmente. Novamente, é uma característica de um tipo específico de cinema, e não dos jogos. É uma palavra usada pra classificar um subgênero da ação no cinema.
    Até porquê, como você mesma disse (e eu assino embaixo) os mundos eletrônicos hoje são riquíssimos em todos os aspectos! Inclusive, adoro games e TLOU 2 é meu jogo favorito (seguido de pertinho por Death Stranding e Half-Life 2)!
    Enfim, espero ter esclarecido um pouco melhor o que quis dizer com estrutura “gamificada” e o que esse termo costuma referenciar dentro do cinema teórico.

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