THOR: AMOR E TROVÃO

THOR: AMOR E TROVÃO

Thor: Amor e Trovão é o quarto filme da franquia e o segundo dirigido por Taika Waititi. Em “Thor” (2011) e “Thor: O Mundo Sombrio” (2013) os diretores eram Kenneth Branagh e Alan Taylor, respectivamente. Quando “Thor: Ragnarok” (2017) foi lançado, era o terceiro filme do herói dirigido pelo terceiro diretor diferente. Muito embora seja possível ver diferenças entre Thor e Thor: O Mundo Sombrio, é inegável a total discrepância na abordagem de Taika Waititi. Os dois primeiros filmes possuem um ar mais dramático em cima da relação familiar e até mesmo no inicio do romance entre Thor e Jane Foster. Ainda que haja um humor, este é inserido para alívios cômicos apenas. Já em Thor Ragnarok todo esse estilo muda, Waititi abraça o humor despojado, algo que vai sendo fortemente trabalhado para o personagem, também, nos filmes dos Vingadores.

Essa quebra de estilo – do que acompanhamos em 2011 e 2013 para o filme de 2017 – não soou harmônico. Foi até difícil engolir essa mudança repentina no personagem, entretanto agora em Thor: Amor e Trovão, o diretor encontrou o equilíbrio nos flertes que dá nas diversas direções por quais o filme segue. Seja na ação propriamente dita, no drama envolvendo, sobretudo, o vilão Gorr (Christian Bale) e até mesmo na relação cafona entre Thor (Chris Hemsworth) e Jane Foster (Natalie Portman).

O filme adota duas estéticas, uma quando acompanha o personagem Gorr, um vilão que possui sentimentos mas que foi traído por suas crenças inabaláveis e outra quando estamos de frente com o Deus do Trovão. O sombrio e o extremamente reluzente. Mas mesmo nessa diferença há semelhanças. Ambos sofrem pela solidão e pelas perdas inestimáveis que já tiveram em suas vidas. Entretanto é na forma de lidar com essas dores, refletida nas diferentes estéticas do filme – colorido e o preto e branco –, que eles, Thor e Gorr, se diferenciam tanto.

Waititi desafia a nossa crença enquanto sociedade ocidental e, majoritariamente, cristã quando não poupa de criticas todos aqueles deuses que se regozijam pelas façanhas de outrora mas que não são dignos de existir, já que a sua existência pouco interfere na vida daqueles que sofrem. O vilão Gorr é mais uma dessas vítimas que se forja através da dor implacável que sente ao perceber que designou sua fé a alguém sem muitos escrúpulos.

A motivação deste personagem é grande o bastante e, de forma inteligente, antes mesmo de Chris Hemsworth entrar em cena, vemos seca, morte, um ambiente inóspito e um pai e uma filha perecendo naquele lugar. Essa imagem não sai da cabeça mesmo quando o diretor gira a chave e vamos direto para a equipe dos Guardiões das Galáxias salvando mais um planeta, mas não sem uma ajudinha dele, Thor, que agora medita mas ainda é um tanto inconsequente.

Nessa cena em questão somos apresentados a trilha sonora do filme, composta de muitas músicas da banda estadunidense Guns N’ Roses. E a primeira musica não poderia ser outra senão “Welcome to The Jungle”. A escolha da trilha sonora está intimamente ligada com a forma como Waititi conduz o filme. Cada música reflete um pouco o que estamos a assistir. Inclusive as cenas melodramáticas entre Thor e Jane Foster, ainda que mesmo aqui a essência do humor nunca seja perdida.

Outro ponto inteligente do diretor é na escolha que faz em recontar a história de Thor, principalmente, por colocar aquele espectador que não assistiu aos outros filmes e caiu de paraquedas em Thor: Amor e Trovão a par desse fio apresentado e conseguindo assim ter um mínimo de conhecimento sobre o personagem e em como ele chegou até aquele momento. Uma clara exibição de humor de Taika Waititi para fora da tela. Assim como em todo o filme, o diretor faz isso de forma muito bem-humorada e não perde muito tempo em grandes reflexões ou diálogos filosóficos. Ele é extremamente assertivo e faz tudo de uma maneira bem simples, como na encenação de Thor: Ragnarok, na qual o personagem Loki é interpretado comicamente por Matt Damon e Hela é interpretada, igualmente cômica, por Melissa McCarthy.

Como já citei anteriormente é fácil a nossa aceitação pelas motivações de Gorr – O Carniceiro dos Deuses -, pois sua perda é palpável e a sua dor nos alcança. Mas é preciso pontuar a qualidade de ator que dispensa comentário, Christian Bale. Sua versatilidade já é conhecida, seu comprometimento, inclusive físico, para incorporar personagens também, mas aqui, como vilão, ele mesmo dotado de muita leveza em seus movimentos e de uma voz suave, consegue causar empatia e horror. Essa dualidade, mostrando que ninguém é de todo o mal, assim como ninguém é de todo o bem, casa perfeitamente com a proposta do filme e em como é trabalhado seu desfecho.

Thor: Amor e Trovão é um filme muito divertido que sabe bem o terreno que está a pisar. Waititi consegue dosar bem a mão em todos os aspectos, nos passeios entre os gêneros, entre as duas estéticas e entre cenas internas e externas. Se eu fosse pontuar uma falha seria em como desenvolve o arco de Jane como Thor e aquela que empunha agora a Mjölnir, pois tudo se dá de forma muito apressada bem como acontece também com uma discussão sobre gênero com o personagem Axl. Há uma intenção de se discutir algo sério através de um humor, mas acaba resultando em uma inserção fora de contexto que não serve para mais nada além de pontuar aquele momento. Já Hemsworth continua sendo o maior acerto para os filmes deste personagem e aqui o vemos mais do que a vontade no papel, sabe exatamente qual o tom ideal do personagem. O lado debochado que Taika Waititi definiu em Ragnarok casou perfeito com o ator.

Quanto aos bodes, esses são um show à parte. Mas para saber mais detalhes sobre essas estrelas vocês terão de assistir ao filme que estreia hoje nos cinemas.


Filme: Thor: Love and Thunder (Thor: Amor e Trovão)
Elenco: Chris Hemsworth, Tessa Thompson, Natalie Portman, Christian Bale, Russell Crowe, Chris Pratt, Jaimie Alexander, Pom Klementieff, Dave Bautista, Karen Gillan, Matt Damon, Melissa McCarthy
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi, Jennifer Kaytin Robinson, Stan Lee
Produção: Estados Unidos
Ano: 2022
Gênero: Ação, Aventura, Comédia
Sinopse: Thor está em uma jornada diferente de tudo que ele já enfrentou – uma busca pela paz interior, mas sua aposentadoria é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr, o Carniceiro dos Deuses, que busca a extinção dos deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda do Rei Valquíria, Korg e da ex-namorada Jane Foster, que – para surpresa de Thor – inexplicavelmente empunha seu martelo mágico, Mjölnir, revelando-se a Poderosa Thor.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Walt Disney Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 7,5

*Estreia nos cinemas dia 07 de julho de 2022*

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