TREM-BALA

TREM-BALA

Trem-Bala (2022), filme pouco badalado em sua campanha de pré-estreia nos cinemas, pelo menos aqui no Brasil, é dirigido por David Leitch e protagonizado por Brad Pitt. Curiosamente ambos já estiveram juntos em muitos trabalhos, a começar por Clube da Luta (1999), no qual Leitch era dublê de Pitt, parceria que se repetiu em outros filmes como Tróia (2004) e Sr. e Srª. Smith (2005).

Neste longa, que chega hoje, 04 de agosto de 2022, aos cinemas brasileiros, Leitch – um diretor já acostumado não só pela experiência como dublê em filmes de ação, mas também por já ter dirigido alguns filmes que exploram muito a coreografia em cenas de luta – constrói, através de muitos movimentos e por uma montagem extremamente delicada e dedicada, um filme genérico ao mesmo tempo em que sabe usar isso a seu favor. Trem-Bala é baseado no livro “Maria Beetle” do escritor japonês Kotaro Isaka. O responsável pela adaptação é o roteirista Zak Olkewicz, nome pouco conhecido que, aqui, assina seu segundo roteiro – o primeiro é o filme “Rua do Medo: 1978 – Parte 2” (2019).

O filme apesar de se passar no Japão, mais precisamente dentro de um Trem-Bala que sai de Tóquio em direção a Kyoto, tem na sua ambientação um clima bem internacional, globalizado, com personagens diversos e de origens bem diferentes. No entanto a cultura japonesa é preservada e conseguimos ver muito disso em tela. Há tecnologia em toda parte, muita luz e a inerente educação das pessoas presentes nos incontáveis vagões daquele trem – o que chega até a dar uma pitada de nonsense, um vez que tiros e mortes estão acontecendo e os vagões continuam com uma tranquilidade inabalável.

Brad Pitt é Joaninha – pelo menos este é seu codinome em sua nova missão que consiste em uma tarefa simples: pegar uma maleta que está dentro de um trem-bala –, ele é um homem que está a tentar ressignificar sua vida e a perceber o mundo sob novas perspectivas. O jeito despachado do personagem, a forma como se move, independentemente de estar em ação ou não, lembra imediatamente um de seus mais recentes personagens, Cliff Booth em Era Uma Vez Em…Hollywood (2019) e, curiosamente, ele era um dublê. É perceptível, já no filme dirigido por Quentin Tarantino, uma veia cômica em todo movimento corporal de Pitt em suas cenas físicas, tanto em sua luta com “Bruce Lee” quanto na apoteótica sequência final. Aqui, por ser o protagonista, o vemos elaborar ainda mais esses movimentos e se aproximar bastante do mestre da ação coreografada, Jackie Chan, tido, oficialmente, como uma referência para muitas das cenas do longa. Um outro filme, este do mesmo diretor, que pode ser reconhecido aqui é Deadpool 2 (2018). As cenas possuem quase que a mesma textura, a violência gráfica é muito semelhante e o humor, em ambos, dão ritmo ao filme.

Apesar de ser um filme de muita fisicalidade, haja vista a escalação de atores como Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Hiroyuki Sanada, Andrew Koji e Michael Shannon, e mesmo que todos eles se encontrem em posições que infiram muita dinâmica às cenas, o filme consegue balancear o ritmo para conseguir desenvolver a trama, ainda que esta seja conduzida pelo absurdo. Claro que a todo momento o filme faz questão de nos lembrar do que se trata, uma história sobre vingança regada por muita carnificina.

É interessante notar como personagens sem elos entre si, tirando Limão e Tangerina, Brian Tyree Henry e Aaron Taylor-Johnson, respectivamente, acabam compondo a trama e tendo seu encaixe através do caminho trilhado pelo personagem de Brad Pitt. Nesse sentido o roteiro e mais uma vez a elogiosa montagem, traçam um fio muito bem conectado com todos para contar esta história absurda que acompanhamos por um pouco mais de 2 horas.

Brad Pitt está ótimo em seu personagem Joaninha, Limão e Tangerina são perfeitos como irmãos gêmeos, mas Joey King, como o personagem Príncipe, rouba a cena toda a vez que a câmera pousa nela. É a única do filme que se permite a explorar outras camadas. Até então a corrida pelos vagões do trem deixava todos os personagens em segundo plano, sendo possível, somente, a exploração de trejeitos e de diálogos rápidos na intenção de avançar na história. Já com Joey King é diferente, sua personagem possui profundidade, sua atuação é performática, mas de um jeito circunspecto e, assim como o personagem de Brad Pitt que conecta todos os personagens da história, é a personagem de King que faz a história caminhar.

Talvez o maior problema, aqui, seja na demora em vermos o grande vilão, se é que podemos defini-lo assim, já que todos ali são forjados através de uma certa maldade e possuem algumas mortes em suas costas. Muito embora os flashbacks funcionem em diversos momentos da história com o intuito de apresentar os personagens e identificar suas motivações, no caso especifico do Morte Branca (Michael Shannon), o nosso distanciamento não é quebrado. Com isso, quando ele finalmente se apresenta, o efeito não é grandioso como deveria ser, afinal o diretor fez questão de segurar essa identidade até os minutos finais. Mas ele consegue atingir o objetivo de desfecho para os personagens Kimura (Andrew Koji) e seu pai (Hiroyuki Sanada).

Além de “Morte Branca”, o filme conta com mais dois personagens subaproveitados e que, possivelmente, dariam histórias próprias: Lobo (Bad Bunny) e Vespa (Zazie Beetz). Ainda que saibamos, através dos flashbacks já citados, um pouco sobre a história do Lobo, este pouco já é suficiente para encara-lo como um personagem, no mínimo, interessante. Quanto a Vespa, ela é uma incógnita, mas rende boas cenas em seu embate com Joaninha.

O cinema não é só feito de arte e, principalmente, nos dias de hoje, o entretenimento, puro e simplesmente, tem falado mais alto em grandes produções, sobretudo com os filmes de heróis. Trem-Bala segue esta fórmula. É um espetáculo do entretenimento. Escala um grande ator com capacidade de lotar salas de cinema só por conta do nome que possui, imprime uma dinâmica ao filme que faz com que as 2 horas passem em um piscar de olhos. Insere muito grafismo e humor e ao fim a fórmula se mostra perfeita. Entretenimento dos melhores. Trem-Bala é uma grande jornada de diversão.


Filme: Bullet Train (Trem-Bala)
Elenco: Brad Pitt, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Andrew Koji, Hiroyuki Sanada, Michael Shannon, Sandra Bullock, Bad Bunny, Zazie Beetz, Ryan Reynolds, Channing Tatum
Direção: David Leitch
Roteiro: Zak Olkewicz, Kōtarō Isaka
Produção: Estados Unidos, Japão
Ano: 2022
Gênero: Ação, Comédia, Suspense
Sinopse: Joaninha é um assassino de aluguel azarado que está decidido a fazer apenas mais um trabalho de forma tranquila depois de ter passado por tantos outros que saíram do seu controle. O destino, entretanto, tem outros planos; e a última missão de Joaninha o coloca em rota direta de colisão com adversários letais vindos de todas as partes do globo; todos com objetivos conflitantes porém conectados; no trem mais rápido do mundo – e ele precisa encontrar uma maneira de desembarcar.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Sony Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 7,7

*Estreia dia 04 de agosto de 2022 nos cinemas*

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