Adaptar jogos de sucesso para o cinema tem sido um movimento de segurança por parte das produtoras e diretores. Alguns conseguem repetir o mesmo sucesso dos games e geram continuações e mais continuações como é o caso de Mortal Kombat, Resident Evil e tantos outros. Atualmente me encontro fora do universo dos vídeo games, mas houve uma época, admito, que já fui bem mais presente e até certo ponto fissurado em jogos como Metal Gear, Tomb Rider, Max Payne e alguns outros, mas, hoje, meu console serve mais como base de algum outro objeto e se encontra coberto de poeira. Mesmo assim, atualmente, é fácil saber qual é o jogo da moda – mesmo sem jogá-lo -, seja no modo online (frisson do momento) ou no modo old school, no qual você joga sem nenhum tipo de conectividade com o mundo lá fora. Dito isso, é notável, até para mim,o sucesso de Uncharted que já possui 4 volumes além de alguns títulos como “spin-offs”, sendo o primeiro da franquia, Uncharted: Drakes’s Fortune, lançado em 2007 e o último, Uncharted 4: A Thief’s End, lançado em 2016.
O filme que vinha sendo especulado desde 2009, passou por diversas alterações em seu comando, tanto na direção quanto no roteiro e foi só em 2020 que toda a produção ficou definida bem como o seu elenco que agora apostaria em um ator, Tom Holland, que não tinha sido, em momento algum, cotado para o papel principal, o protagonista Nathan Drake.
Holland faz um movimento importante nesse filme ao trazer um personagem com alguns trejeitos do seu emblemático Homem-Aranha, mas, aqui, se despe da infantilidade que é própria do herói da Marvel e, se em “O Diabo de Cada Dia” (2020) ele é completamente antagônico ao herói, em Uncharted, um trabalho mais difícil pelas semelhanças imposta ao personagem Drake, ele equilibra bem o humor com a maturidade de um personagem mais velho. E posso afirmar que para este filme isso fez toda a diferença. Ainda que tenhamos a presença de atores como Antonio Banderas e Mark Wahlberg, Holland não se intimida e, ainda que seja o protagonista, ele vai além, mostrando toda sua capacidade física em cenas desgastantes e de muita acuidade.
A química entre Holland e Wahlberg (Victor Sullivan – Sully) é outro elemento facilitador para que o filme caia nas graças do grande público. O filme que não é uma releitura do jogo, mas sim uma proposta de apresentar os mesmos personagens, bem como as suas engrenagens especificas, já possui o apelo do título, mas essa dupla de atores funcionou tão bem que pareciam extremamente familiarizados com toda aquela trama. Holland, é bem verdade, é um grande fã do jogo e é possível ver em determinadas cenas ele emulando movimentos do Nathan Drake original, como a forma de virar os cartões postais.
Uncharted, o game, foi criado através de referências do cinema e agora o sentido da adaptação é justamente o inverso e, por isso, não há como não perceber as muitas referências ao subgênero da aventura que são os filmes de caça ao tesouro. Há muito de Tomb Raider e A Lenda do Tesouro Perdido, o filme passeia um pouco por águas mais misteriosas como em O Código Da Vinci, mas Uncharted se baseia mesmo na franquia de sucesso Indiana Jones. Para a felicidade do diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia e Venom) o convite para dirigir este filme caiu como uma luva, foi um verdadeiro presente e a sua empolgação se faz visível em como ele traz diversas referências a este tipo de filme e ainda vai além quando deixa explicito em um dialogo entre Nathan Drake e Chloe Frazer (Sophia Ali) toda a sua paixão pelo clássico dos anos 80.
A ação, algo precioso para este tipo de produção, é do inicio ao fim. Com as cenas que acompanhamos nos minutos iniciais e que serão reapresentadas mais a frente, Fleischer não economiza e dá o tom do nível de adrenalina que vai apresentar em toda a obra. Em uma costura bastante equilibrada entre as cenas de intensidade física – lutas, fugas e saltos – com o desenvolvimento da trama e dos personagens, percebemos que este tipo de filme estava em falta no mercado.
A trama, como já citei, se vale de muitas coisas que já conhecemos de outros filmes e, por isso, o longa pode aparentar não ser tão original assim e até concordo que não seja. Os vilões – apesar de achar Banderas (Santiago Moncada) subaproveitado – dão conta do recado, se mostram como bons antagonistas para a história contada aqui, mas não saem da zona de conforto. E é bem verdade que o filme utiliza, novamente, a figura do herói órfão – ainda que ele tenha um irmão, Sam -, construção que sempre se repete como é um dos casos de um dos personagens mais famosos do cinema de herói, Bruce Wayne – O Batman.
Mesmo concordando com a falta de originalidade, não posso esconder meu entusiasmo ao ver ação, aventura e comédia trabalhando juntos de forma tão harmônica. Não há um tom que esteja em demasia e nada se perde para que uma ou outra cena seja mais imbuída de graça. Graça esta que fica por conta da dinâmica adquirida, improvisada e surpreendente entre Tom Holland e Mark Walhberg.
Uncharted resgata o que os filmes de caça ao tesouro têm de melhor: nossa ânsia por aventura, por tentar desvendar, junto com os personagens, os mistérios que se apresentam a cada nova cena. É um filme que compreende o universo no qual está trabalhando e atinge o grau exato de imersão. A diversão é garantida.
Filme: Uncharted (Uncharted – Fora do Mapa) Elenco: Tom Holland, Mark Wahlberg, Sophia Ali, Antonio Banderas, Tati Gabrielle, Steven Waddington, Rudy Pankow, Tiernan Jones Direção: Ruben Fleischer Roteiro: Rafe Judkins, Matt Holloway, Art Marcum Produção: Estados Unidos Ano: 2022 Gênero: Ação, Aventura Sinopse: Baseado em uma das séries de videogame mais vendidas e aclamadas pela crítica de todos os tempos, Uncharted: Fora do Mapa apresenta ao público o jovem e esperto Nathan Drake (Tom Holland) e mostra sua primeira aventura de caça ao tesouro com seu sagaz parceiro Victor “Sully” Sullivan (Mark Wahlberg). Em uma aventura épica repleta de ação que se estende por todo o mundo, os dois partem em uma perigosa busca pelo “maior tesouro nunca encontrado”, enquanto rastreiam pistas que podem levar ao paradeiro do irmão há muito perdido de Nathan. Classificação: 12 anos Distribuidor: Sony Streaming: Não disponível Nota: 7,6 *Estreia dia 18 de fevereiro de 2022 nos cinemas* |