CRÍTICA – UM PRÍNCIPE

CRÍTICA – UM PRÍNCIPE

Explorando temas como busca de identidade e conexão com a natureza, o diretor e trabalhador rural Pierre Creton apresenta em “Um Príncipe” a jornada de Pierre-Joseph, um jovem que ingressa em um Centro de Treinamento e Aprendizagem na Normandia. Durante sua estadia, ele conhece diversas pessoas que desempenharão papéis significativos em sua vida, como Françoise Brown, a diretora do centro, Alberto, seu professor de botânica, e Adrien, seu patrão, que o guiará na descoberta da sexualidade e no processo de aprendizado.

O filme adota uma linguagem poética, com narração em off, que muitas vezes confere uma atmosfera documental à trama, misturando a elementos quase que fantasiosos ao adicionar o personagem Kutta e um castelo misterioso. Pierre utiliza várias metáforas para aprofundar as questões existenciais dos personagens. Logo na cena de abertura, observamos uma pá cavando a terra para o plantio, como se essa conexão com a natureza simbolizasse a própria ligação de Pierre-Joseph consigo mesmo.

Do ponto de vista técnico, “Um Príncipe” é uma obra impressionante. A direção de Pierre Creton utiliza planos estáticos para transmitir a sensação de busca por estabilidade do protagonista, além de alternar entre duas razões de aspecto (uma mais ampla e outra mais fechada) para ressaltar o confinamento emocional que afeta essa busca. Mesmo nos momentos em que a razão de aspecto é mais aberta, Creton inclui objetos que delimitam o quadro, como a porta de uma estufa, que isola Joseph junto às plantas, ou as bordas de um espelho.

Uma outra cena interessante ocorre quando Pierre-Joseph está escrevendo em cima de uma mesa, em um ambiente rural próximo à cabana de caça de seus pais. Ele começa a narrar que, após a morte de seu pai por leucemia, decidiu passar um tempo morando lá. Sua mãe foi contra essa decisão. O protagonista então descreve como aquele ambiente agora está repleto de animais. Ele encontrava paz e tranquilidade naquele lugar, onde as lembranças relacionadas à caça aos poucos estavam desaparecendo. Apenas os porta-retratos restavam, e ele os virava para baixo como uma forma de conceder dignidade aos coelhos. Essa escolha de se confinar naquele local, buscando reviver suas memórias, ao mesmo tempo em que se desvincula de antigas tradições, é outra temática abordada. Pierre-Joseph transforma a cabana de caça em um espaço de contemplação, e os animais que antes fugiam agora se aproximam. Ele se conecta com a natureza a medida em que se conecta consigo mesmo.

No entanto, o filme peca ao tentar abordar diversos temas que acabam sendo abandonados ou carecem de maior desenvolvimento. Além disso, há elementos que tentam ser subversivos, mas acabam sendo confusos e desnecessários. Um exemplo claro disso é a introdução da fantasia na trama, como no caso de Kutta, mencionado desde a primeira cena, mas que só aparece no final. A expectativa criada em torno dele acaba sendo frustrada, deixando uma sensação de desnecessidade. Parece que Pierre Creton quis fazer uma obra que abrangesse o maior número possível de temas, mas acabou sobrecarregada e subdesenvolvida.


Filme: A Prince (Um Príncipe)
Elenco: Manon Schaap, Antoine Pirotte, Françoise Lebrun, Pierre Barray, Pierre Creton, Mathieu Amalric
Direção: Pierre Creton
Roteiro: Pierre Creton
Produção: França
Ano: 2023
Gênero: Drama
Sinopse: Pierre-Joseph ingressou em um Centro de Treinamento e Aprendizagem para se tornar jardineiro. É lá que ele conhece uma série de personagens: Françoise Brown, a diretora, Alberto, seu professor de botânica, Adrien, seu patrão, que será decisivo em seu romance de aprendizagem e o abrirá à sua sexualidade. Quarenta anos depois chega Kutta, o filho adotivo de Françoise Brown, de quem ele sempre ouviu falar e que nunca conheceu. Mas Kutta, que se tornou dono de um estranho castelo, parece estar procurando por algo mais do que apenas um jardineiro.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Andolfi
Streaming: Indisponível
Nota: 6,0

Filme exibido no Festival de Cannes de 2023

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