Dia do Orgulho: 6 romances LGBTs

Dia do Orgulho: 6 romances LGBTs

Aproveitamos o Dia dos Namorados para trazer em formato de uma série de vídeos no nosso Instagram – intitulada de Toda Forma de Amor – os romances preferidos dos colunistas e editores do portal. Em junho, no dia 28, também é comemorado o Dia do Orgulho LGBTQIAP+. Pensando nisso, elaboramos uma lista filmes de romance LGBTs, que junta esses dois dias comemorativos que celebram, em suma, o amor. 

Happy Together

romances LGBTs

Wong Kar-wai é um dos diretores mais influentes do cinema de Hong Kong e mundial.  Ainda que In the Mood for Love, a sua grande obra prima, fosse vir apenas no início dos anos 2000, ele já havia entregado filmes espetaculares na década anterior como Chungking Express e Fallen Angels que mostram muito bem a sua visão artística. Contudo é com Happy Together – em português, Felizes Juntos – que ele cria a sua obra mais singular ao abordar um romance de dois homens que viajam para a Argentina a fim de se reconectarem, mas acabam se distanciando ainda mais no processo para no fim se separarem de vez. Sem dinheiro para voltar, os dois continuam morando em Buenos Aires onde Lai (Tony Leung Chiu-wai) trabalha como porteiro de um bar de tango enquanto Ho (Leslie Cheung) começa a viver uma vida promíscua. Constantemente os dois se veem pelas ruas da cidade, mas não tem muito contato.

Felizes Juntos é uma história melancólica sobre solidão, desconexão e reunião – na tentativa de encontrar o que perderam.

Disponível com exclusividade na Mubi

Carol

carol/romanceLGBT

A essa altura do campeonato você muito provavelmente já ao menos escutou falar sobre Carol, filme de 2015 de Todd Haynes. Mas caso tenha passado despercebido, venho aqui passar a palavra do longa, que se tornou um dos mais amados e queridos da década de 2010 e não é por menos. O filme é ambientado no ano de 1952 em Manhattan durante a época do Natal. A história centra-se na personagem título – interpretada por ninguém mais e ninguém menos do que Cate Blanchett –, uma mulher mais velha, casada e com uma filha, que se apaixona quase como a primeira vista por Therese (Rooney Mara), uma aspirante a fotógrafa que trabalha numa loja de brinquedos. Haynes não tem pressa nenhuma em construir esse romance, e nos coloca numa posição contemplativa, onde vemos duas mulheres vividas por atrizes incríveis entregando performances tão poderosas e singelas no que foi um dos melhores filmes de 2015.

Adaptado de um romance dos anos 50, The Price of Salt da Patricia Highsmith, Carol reflete muito bem o que era ser uma mulher LGBT numa época de valores tão conservadores. O texto de Phyllis Nagy é sagaz em seus diálogos que ajudam a construir essa relação e está muito alinhado com a direção de Haynes pela forma em que ele vislumbra esse romance proibido: nos cenários estilizados pelas luzes verdes e filtros amarelados e desbotados que subvertem as linguagens de um filme de época – assumindo um ponto de vista anacrônico através da imagem. É brilhante e certamente um dos filmes mais interessantes dessa lista.

Disponível com exclusividade no Mubi

Deserto Particular

Daniel é um policial que, após cometer um erro que colocou a sua carreira em risco, fica afastado de sua profissão. Os seus dias passam a ficar monótonos e divididos entre cuidar do seu pai e sair de noite. Mas nada empolgante que o faça realmente enxergar um propósito além da escuridão e do enclausuramento do seu apartamento. Como nada parece mais prendê-lo em Curitiba, ele decide partir numa viagem de carro para conhecer Sara, na qual troca afetos virtualmente, no interior da Bahia. No processo de encontrá-la, ele acaba descobrindo muito mais sobre ele mesmo e se religando com a sua própria identidade, enquanto explora a liberdade de quem pareceu nunca experienciá-la por completo.

Para efeito de comparação, se você gosta dos filmes de Pedro Almodóvar, a produção torna-se um filme ainda mais imperdível. Deserto Particular, é um melodrama romântico bastante atual, com uma fotografia lindíssima e atuações impecáveis de seus protagonistas.

Longa de Aly Muritiba foi o escolhido para representar o Brasil no Oscar 2022 na categoria de Melhor Filme Internacional – conquistada pelo longa japonês Drive My Car – e entrou na extensa lista de longas brasileiros injustiçados pela cerimônia.

Disponível no HBO Max

Fire Island

Se você gosta de uma comédia romântica bem clichê e divertida, então Fire Island é a produção perfeita para você. A história gira em torno de um grupo de amigos gays que viajam de férias para a ilha que dá nome ao filme, localizada nos Estados Unidos e conhecida como um “refúgio” de festas e pegação. O filme é uma releitura criativa de Orgulho e Preconceito de Jane Austen, mas o roteiro de Joel Kim Booster vai além disso e também funciona quase como uma versão moderna de The Boys in the Band. É verdade que Fire Island não tem o texto revolucionário de Matt Crowley, e tampouco tem essas pretensões, mas a sua existência enquanto obra nada mais é do que uma extensão do legado da obra e da evolução de narrativas LGBTs no cinema.

Ancorado no pilar de representatividade, o longa-metragem de Andrew Ahn acompanha um grupo de homens de classe média baixa e fora dos padrões – 1 negro gordo, 2 afeminados e 2 coreanos (sendo a amizade destes dois últimos a que dita essa comédia romântica). É lindo “se ver” e se sentir representado de uma forma que os homens brancos de classe média alta de The Boys in the Band não conseguem. É lindo ver histórias em que LGBTs não estão na trama só para sofrer, mas sim vivenciar o amor digno das melhores romcom, que quando você menos esperar estará arrancando lágrimas tão sinceras quanto risadas. 

Disponível no Star+

Rafiki

Além de ser o nome do personagem de O Rei Leão, “rafiki” significa “amiga” em suali. A sua definição conversa muito bem com o sábio babuíno conselheiro da Disney, mas é em Rafiki, produção queniana de 2018, em que ela ganha mais contornos profundos. O filme de Wanuri Kahiu conta a história de amor e amizade de duas jovens – Kena e Ziki – que, embora sejam de famílias políticas rivais, conseguiram se manter juntas no decorrer dos anos. A narrativa se desenrola seguindo as cartilhas de romance proibido, tal qual Romeu e Julieta pelo contexto familiar. Contudo, proibição não fica apenas no âmbito familiar, como também se manifesta em forma de lei. O Quênia é um dos 28 países da África subsaariana que criminaliza a união de pessoas do mesmo sexo (alguns até com pena de morte). Sendo assim, elas precisam escolher entre viver o romance e desafiar as Leis e valores homofóbicos do Quênia ou seguirem cada uma o seu caminho a fim de terem uma vida segura. 

Vale destacar que Rafiki foi banido pelo governo do Quênia e consequentemente proibido de ser exibido por lá. Sua estreia mundial ocorreu em Cannes no ano de 2018 e em outros festivais pelo mundo. O que nos lembra que mesmo com diversos direitos conquistados através da luta pela igualdade, ainda há, infelizmente, um longo caminho pela frente.

Disponível no pacote Globoplay + Telecine

Retrato de uma Jovem em Chamas

Em 2019, o mundo conheceu Parasita, o primeiro filme internacional a ganhar o Oscar de Melhor Filme e diversas outras categorias principais. No entanto, pouco foi falado no filme que foi, junto do longa coreano, uma das melhores produções daquele ano e um dos melhores filmes de romance da década de 2010 (se não, o melhor). Dirigido  e escrito por Céline Sciamma, uma realizadora que desde o seu primeiro longa-metragem discute o despertar sexual na adolescência como em Lírios D’Água e estudos de gênero em crianças atrelados ao coming-of-age, a exemplo de Tomboy e Garotas. Com Retrato de uma Jovem em Chamas, ela trabalha pela primeira vez com esse despertar entre duas mulheres: a jovem pintora Marienne que é contratada para pintar um retrato de Héloïse para o seu casamento arranjado sem que ela saiba. Assim, ela passa o dia observando Héloïse e de noite pintando a luz de velas.

O que Sciamma faz aqui é poesia em seu estado mais puro, articulando metáforas e rimas visuais interessantíssimas que enriquecem o seu olhar e conferem ainda mais sentimento à relação das duas personagens. 

(Se a minha opinião vale de algo, é o meu filme preferido da lista).

Disponível no pacote Globoplay + Telecine

 

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