7 filmes para assistir no Dia Internacional da Mulher

7 filmes para assistir no Dia Internacional da Mulher

No mês de março “comemora-se” o Dia Internacional da Mulher, data em que relembramos da luta diária de uma parcela nada pequena dentro da sociedade. As mulheres, que compõem a maioria numérica da população mundial, sofrem cada dia mais com tentativas de apagamento de suas existências, e é um pouco cansativo e frustrante para mim, como mulher, estar falando sobre esse tipo de coisa em pleno ano de 2024. 7 filmes para assistir no Dia Internacional da Mulher

Sabemos que a luta é diária e não somente durante esse mês devemos estar alertas e cientes dos questionamentos e imposições a que somos expostas diariamente, dentro e fora do âmbito familiar. Sem pensar em flores ou caixas de chocolate, criei esta pequena lista de filmes escritos, dirigidos e estrelados por mulheres.

  1. A Hora da Estrela (1985) Suzana Amaral

Adaptado do livro homônimo de Clarice Lispector (1977), A Hora da Estrela narra a história extremamente comum de Macabéa, uma jovem mulher nordestina que, como tantas outras, tenta uma vida melhor no sudeste. Marcélia Cartaxo, uma das maiores atrizes brasileiras em atividade, interpreta a protagonista do filme de Suzana Amaral e não há outra forma de pensar em Macabéa senão como Cartaxo. Sua atuação precisa é o que dá vida à desgraça de sua personagem. É impossível não simpatizar com a “heroína” desta história, ainda que o enredo de sua vida seja tão miserável e cercado de pequenos atos que a tornam “menos gente”. Apesar de ser um filme com bastante drama, A Hora da Estrela não é uma obra melodramática, mas um tapa na cara em forma de filme, da primeira à última cena. Sua sequência final é arrebatadora e este é, sem dúvidas, um dos melhores finais de filmes nacionais que já vi.
A Hora da Estrela não está disponível para streaming, porém, é possível assisti-lo pelo Youtube.

  1. Mil e Um (2023) A. V. Rockwell

Um dos melhores filmes do ano passado, Mil e Um foi o longa-metragem de estreia da cineasta norte-americana A. V. Rockwell. Esnobado em praticamente todas as grandes premiações, a produção que tem lugar nos Estados Unidos dos anos 1990 em diante, tem como protagonista Inez, uma jovem mulher que acaba de ser liberada da prisão e sequestra o próprio filho em busca de reconstruir sua família em meio a uma periferia. Cercado de drama, o enredo de Mil e Um é uma lição perfeita sobre os laços que ligam as pessoas. Ao falar sobre família, não somente a de sangue, mas também aquela que se escolhe, o filme de Rockwell emociona e enraivece o espectador em diversos momentos. Acompanhando a “saga” dessa família no decorrer dos anos, o filme de Rockwell ainda conta com uma grande virada em sua narrativa nos momentos decisivos da obra. A atuação de Teyana Taylor certamente foi uma das minhas favoritas do ano de 2023 e fez muita falta nas últimas premiações.
Mil e Um está disponível para streaming na plataforma GloboPlay.

  1. Kim Ji-young, nascida em 1982 (2019) Kim Do-young

Kim Ji-young, nascida em 1982 também adaptação do livro homônimo de Cho Nam-joo (2016), traz a história de Kim Ji-young, uma mulher sul-coreana recém-casada e com um bebê. Enquanto luta para conciliar as atividades domésticas e os cuidados com sua filha enquanto o marido trabalha fora, Ji-young começa a se sentir sufocada e sem saída, questionando assim os papéis do homem e da mulher dentro da sociedade sul-coreana. Kim Ji-young, nascida em 1982 é um filme sutil e ainda assim impactante, que trata de um tema de suma importância à todas as mulheres. Uma das coisas que eu mais gosto sobre este filme é o seu título, que faz menção a um dos nomes femininos mais populares na Coreia do Sul durante os anos 1980. O título traz a banalidade dessa personagem que não é uma pessoa de extrema importância para a sociedade, uma celebridade, política ou qualquer outra coisa que seja. Kim Ji-young é uma mulher, uma mãe, uma filha e uma neta. Ao passar por momentos absurdos de sua vida, relacionados aos papeis de gênero, o filme de Kim Do-young transforma Kim Ji-young em todas as mulheres, sul coreanas ou não.
Kim Ji-young, nascida em 1982 está disponível para streaming na plataforma Disney+.

  1. Que Horas Ela Volta? (2015) Anna Muylaert

Um dos filmes brasileiros mais queridos dos últimos anos, Que Horas Ela Volta? de Anna Muylaert nos apresentou à personagem icônica Val. Vivida por Regina Casé, essa personagem é um patrimônio brasileiro. Val é a empregada doméstica que vive na casa da família que a emprega, que cuida do filho dos patrões enquanto sua própria filha vive com familiares do outro lado do país, a funcionária que é “da família”, mas que jamais é convidada para qualquer evento familiar ou mesmo considerada em seus atos de gratidão por aqueles que, em seu olhar quase que ingênuo, os vê com carinho por “cuidarem” tão bem dela. Val emocionou e nos fez sorrir também, escancarando para fora do Brasil uma realidade que ainda é muito presente em nosso país. Ao lado de Casé, Camila Márdila como Jéssica irritou muitas pessoas e apresentou outra realidade bastante importante: a da filha da doméstica que passa na USP e que não se vê em um lugar de servidão. Oposta à personagem de sua mãe, Jéssica expôs, no filme de Muylaert, uma espécie de “atrevimento” com o qual a casa grande não está acostumada. Uma obra de grande importância, Que Horas Ela Volta? é um filme necessário a todos não somente pela arte, mas pela reflexão que oferece.
Que Horas Ela Volta? está disponível para streaming nas plataformas Netflix, Globoplay e Prime Video.

  1. O Sonho de Wadjda (2012) Haifaa al-Mansour

Uma das coisas que mais me impactou após assistir ao filme O Sonho de Wadjda foi descobrir que ele fora o primeiro filme da Arábia Saudita feito por uma mulher. A obra, que data do ano de 2012, foi escrita e dirigida pela cineasta Haifaa al-Mansour. Wadjda é uma criança de 12 anos que tem como “sonho” ter uma bicicleta para apostar corrida com seu amigo Abdullah. Olhando assim, o sonho da protagonista aqui parece tão simples que não é “quase nada”, porém, a realidade absurda de sua situação é que em seu país – que tem o islamismo como religião predominante – é que garotas não podem andar de bicicleta. Dessa forma, a narrativa que se desenha em O Sonho de Wadjda dá conta da busca dessa protagonista em andar em uma bicicleta. Um dos pontos mais altos do filme está justamente em focar seu enredo na jovem Wadjda, que como qualquer criança de 12 anos, é atrevida e questionadora sobre o mundo que a cerca. Há muitos pontos no filme de al-Mansour que podem se tornar melodramáticos, porém, analisando do contexto geral, esta obra tem enorme importância dada a proporção do trabalho em questão, que foi o de abrir o caminho para outras cineastas produzirem também. Acima de tudo, O Sonho de Wadjda é um filme que vale totalmente a pena assistir.
O Sonho de Wadjda está disponível para streaming nas plataformas Reserva Imovision Mubi.

  1. Rafiki (2018) Wanuri Kahiu

Escrito e dirigido por Wanuri Kahiu, Rafiki é uma espécie de “Romeu e Julieta”, só que com duas Julietas. O filme do Quênia traz a história de duas jovens mulheres provindas de famílias que são rivais politicamente. Apesar da rivalidade, Kena e Ziki são amigas, porém acabam por se apaixonar uma pela outra, iniciando assim um romance secreto por diversos motivos. Além de serem duas mulheres e suas famílias não se gostarem, há ainda o fato de ambas as famílias das protagonistas fazerem parte da igreja. O filme de Kahiu aborda uma quantidade grande de temas como a descoberta da sexualidade, a catequização em África, a chegada a vida adulta e as angústias que ela traz. Com bastante sensibilidade, Rafiki explora as histórias dessas jovens tão diferentes que buscam conexão e consolo uma na outra. É um filme romântico, dramático e até meio bobo em alguns momentos, mas importantíssimo para o gênero em que se enquadra. Não sendo somente um coming of age, a obra de Wanuri Kahiu – censurada em seu país de origem, Quênia – é também uma transgressão dentro de uma sociedade conservadora e opressiva que fora também oprimida e mutilada pela imposição do cristianismo.
Rafiki não está disponível para streaming.

  1. Katatsumori (1994) Naomi Kawase

Por último, trouxe um filme um pouco diferente dos outros da lista. Katatsumori é um documentário da cineasta japonesa Naomi Kawase. O média-metragem faz parte de uma série com 5 filmes sobre a família da diretora. Focado em sua tia-avó, que lhe criou desde quando era uma bebê abandonada por seus pais, o documentário exala sensibilidade ao abordar a relação de Naomi e Uno Kawase. É impossível não se identificar com diversas passagens do filme, ainda que ele seja, de muitas maneiras, experimental. Filmado, escrito, editado, produzido e dirigido por Naomi Kawase, então com cerca de 25 anos de idade, Katatsumori é um retrato íntimo de sua relação de proximidade e cumplicidade com Uno. Como uma carta de amor e gratidão à sua tia-avó-mãe, Kawase pavimenta o caminho para a carreira exemplar e prolífica que construiu no cinema, se tornando um dos principais nomes do cinema contemporâneo japonês.
Katatsumori não está disponível para streaming, porém, é possível assisti-lo, com legendas em inglês, pelo Youtube.


Há, é claro, muitas outras produções que poderiam compor esta lista, porém, minha contribuição, por enquanto, consiste nestes filmes que listei acima. Espero que gostem!

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