17º CINEBH – DIÓGENES

17º CINEBH – DIÓGENES

Diógenes (Barbuy, 2023) nos leva ao Peru, em uma pequena e isolada cabana na região de Aiacucho. Nela reside Diógenes (Jorge Pomacanchari) e seus dois filhos: Sabrina (Gisela Yupa) e Santiago (Cleiner Yupa). O trio vive afastado da sociedade, sobrevivendo da venda de tábuas pintadas.

O ar onírico em Diógenes (Barbuy, 2023)

Após a sessão de Diógenes (Barbuy, 2023), no 17º CineBH, houve um bate-papo com o diretor, Leonardo Barbuy. Eventualmente, o diretor comenta que a ideia do filme veio para ele em um sonho. Em resumo, acho que essa é a maior síntese possível do filme, sonho. Entretanto, mesmo possuindo essa aura onírica muito forte, talvez “pesadelo” se encaixe melhor em Diógenes (Barbuy, 2023).

Todos os aspectos formais da obra contribuem para essa ambientação até mesmo surrealista. Isto é, a maneira como Barbuy trabalha com as questões técnicas de seu filme realçam a artificialidade daquele mundo. A começar, por exemplo, com a escolha pela ausência de cor. 

As cores escondidas no preto e no branco

Diógenes (Barbuy, 2023) se desdobra em uma região sulista dos Andes Peruanos. Em outras palavras, um local com muito sol. Contudo, grande parte do filme se desenrola no interior de uma cabana. Dessa maneira, ao optar pela fotografia P&B, se revela uma manipulação da luz naqueles espaços. 

Ou seja, os pontos ensolarados ficam estourados, mal dando pra ver o que há neles. Enquanto que, os pontos escuros, ficam ainda mais enegrecidos. Assim sendo, o diretor consegue gerar no seu filme não só um contraste visualmente lindo, mas que reforce o aspecto de isolamento daqueles personagens (afinal, quase não dá para vislumbrar o exterior) e a sensação onírica. Como se, talvez, estivessem presos em um sonho.

Diógenes (Barbuy, 2023) e o pesadelo

Inegavelmente, tal sensação de aprisionamento é reforçada pela câmera. Primeiramente pela proporção de tela. Quadrada, opressiva, esmagando nossos personagens. Analogamente, a movimentação da lente que captura aquele mundo também contribui muito para esse aspecto. A câmera é lenta e precisa. Como resultado, é quase como se ela não tivesse espaço para se mover no meio daquele sufoco todo. Ou seja, a câmera economiza seus movimentos com o maior cuidado possível, como se qualquer passo errado pudesse desencadear um pandemônio.

Decerto, todas essas questões de Diógenes (Barbuy, 2023) proporcionam não só uma sensação opressiva, mas também uma ambientação misteriosa. É impossível saber o que vem a seguir (até literalmente falando, visto as limitações da câmera). Assim como, ao alinharmos com outras questões formais, cria-se um clima assustador. 

A trilha sonora (que tem uma linha bem voltada para a cultura local), até mesmo a ausência de som, as atuações sóbrias (mas ótimas) do elenco principal, e outras questões técnicas, aumentam ainda mais todo esse estranhamento por aquele mundo. Igualmente, as situações pelas quais a narrativa veleja levantam um assombro ainda maior; é tudo um grande pesadelo. E o espectador é convidado a embarcar naquele surrealismo com os personagens.

Marcas de um passado não tão distante

O aspecto assustador de Diógenes (Barbuy, 2023) ganha uma outra face quando visto sob uma ótica histórica. Naquela região, iniciando na década de 80, houve uma guerra civil que deixou inúmeras marcas na população indígena local (população das quais os personagens fazem parte). Talvez chamar de guerra seja injusto, quando está mais para “genocídio”.

Sendo assim, tanto a opressividade da câmera quanto o aspecto onírico ganham outro sentido. Até mesmo outras questões técnicas, como as citadas anteriormente. Diógenes (Barbuy, 2023) é um pesadelo, mas não só pelos acontecimentos vistos diante da câmera, mas também por aqueles não vistos. Nesse sentido, apenas a vivência daqueles protagonistas naquele local já é, por si só, assustadora.


Pôster do filme "Diógenes", de Leonardo Barbuy. Filme: Diógenes
Elenco: Gisela Yupa, Cleiner Yupa, Jorge Pomacanchari
Direção: Leonardo Barbuy
Roteiro: Leonardo Barbuy
Produção: Peru, França, Colômbia
Ano: 2023
Gênero: Drama, Terror
Sinopse: Em uma pequena cabana no interior do Peru, uma família tenta sobreviver isolada da sociedade
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Mosaico Productora
Streaming: Indisponível
Nota: 8,0

Sobre o Autor

Share

One thought on “17º CINEBH – DIÓGENES

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *