17º CINEBH – PUENTES EN EL MAR

17º CINEBH – PUENTES EN EL MAR

Puentes en el Mar (Ruiz, 2022) apresenta um mundo onde cada passo precisa ser pensado duas vezes. Em Tumaco, município de uma região colombiana imersa em uma guerra de facções, vivem Alicia (Catalina Mosquera) e seu filho Michael (Jailer Cortés). Como mãe, o maior medo de Alicia é perder Michael para alguma eventualidade da guerra. Entretanto, ao proteger seu filho demais é quando mais o coloca em risco.

A dualidade em Puentes en el Mar (Ruiz, 2022)

Puentes en el Mar (Ruiz, 2022) é uma obra que, ironicamente, tem sua maior força e sua maior fraqueza simultaneamente nos seus personagens. Isto é, quando trata de um macrocosmo, uma visão mais geral da sociedade, o filme engata. Entretanto, quando a diretora Patricia Ayala Ruiz foca no microcosmo, nas minúcias dos personagens, perde um pouco da gana.

Assim sendo, o tal macrocosmo citado, engloba toda a relação daquela sociedade colombiana com a política ao seu redor. Por conseguinte, tais recortes abraçam bastante a questão da briga entre facções que rola naquele território. Ainda que tal questão sociopolítica não seja abordada em detalhes, não chega a atrapalhar essa relação. O espectador pode até não entender de fato quais são aquelas facções, e por qual motivo brigam, mas compreende como aquilo afeta o social ao redor.

A violência (in)visível

Uma vez que seja possível visualizar os impactos daquilo — ressaltados por uma palheta azul na fotografia que salienta a falta de vida (ou dignidade) naquilo tudo — a situação ganha força. Inegavelmente, aquele é um mundo mergulhado na violência. Uma violência brutal, que engole todos que estão ali. O mundo não liga se eles tem família, amigos, vida; é cruel com eles igualmente.

Decerto, aquilo tudo é tão impetuoso que não é necessário nem visualizar a violência para sentir seu baque. Por exemplo, uma das cenas mais atrozes do filme, envolvendo uma explosão, ocorre fora da câmera. Mesmo assim, o espectador se pega chocado quando ela ocorre. 

Desse modo, quando é mostrada a união daquele povo em prol da sobrevivência, Puentes en el Mar (Ruiz, 2022) brilha com uma luz de esperança. Independente de quem aquelas pessoas são, ou se se conhecem, existe uma conexão forte ali. Em outras palavras, o altruísmo daquela sociedade fica bem tocante para o espectador. Eles se ajudam, mesmo que isso possa pôr suas próprias vidas em risco.

A fragilidade do microcosmo de Puentes en el Mar (Ruiz, 2022)

Todavia, ao nos aproximarmos daqueles personagens, com exceção do adolescente Michael, vemos que não existe tanto uma profundidade neles. Tanto Michael, quanto sua mãe Alicia, abrem espaço para a identificação do espectador e tem suas motivações bem exaltadas. Contudo, a personagem de Alicia, parece servir apenas para propiciar o início da jornada de Michael. A partir do momento que a trajetória do menino desanda, Puentes en el Mar (Ruiz, 2022) deixa a mãe um pouco de lado. 

Dessa maneira, acaba ficando até um pouco conflitante, pois nesses momentos de microcosmo a obra dá muito enfoque ao núcleo familiar. Porém, Alicia parece participar do filme a distância. Ela tem seus sofrimentos e suas ações, mas são atitudes sem impacto. É quase como se, a partir de certo ponto de Puentes en el Mar (Ruiz, 2022), sua presença deixasse de ser necessária.

O mesmo vale para, praticamente, qualquer personagem além de Michael. Mesmo que exista um certo esforço por parte do roteiro em tentar mostrar um pouco dos dois lados da moeda, um deles é superficial. Uma vez que existe um personagem, amigo de Michael, para assumir esse papel de elucidar a dualidade da coisa toda, mas desempenha-o no raso. Isto é, justamente por atribuir esse contraste a um personagem, e não o desenvolver muito, a problemática também fica inerte. 

Como resultado, o personagem principal, Michael, é o único que ganha seu destaque. Assim sendo, todos os outros, e a relação de Michael com eles, fica meio jogado ali na tela. Entretanto, quando o filme se afasta do personagem e dessas relações, e foca no senso de comunidade existente ali naquele local, se revela de outra maneira. Ruiz não parece conseguir muito trabalhar as minúcias do seu mundo, mas quando oferece uma visão completa dele, é uma visão de muita esperança e força.


 Pôster do filme "Puentes en el Mar", de Patricia Ayala Ruiz. Filme: Puentes en el Mar
Elenco: Catalina Mosquera, Jailer Cortés, Pedro Luis Dájome
Direção: Patricia Ayala Ruiz
Roteiro: Patricia Ayala Ruiz
Produção: Colômbia, México
Ano: 2023
Gênero: Drama, Guerra
Sinopse: Alicia tenta proteger seu filho a todo custo dos perigos de uma guerra entre facções. Porém, é ao protege-lo que ela o coloca mais em risco.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Pathos Audiovisual
Streaming: Indisponível
Nota: 6,0

Sobre o Autor

Share

One thought on “17º CINEBH – PUENTES EN EL MAR

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *