CRÍTICA – WISH: O PODER DOS DESEJOS

CRÍTICA – WISH: O PODER DOS DESEJOS

O filme que conta a história de Asha foi idealizado para celebrar os cem anos do Walt Disney Animation Studios, que intimamente chamamos apenas de Disney. Essa história viria não apenas para comemorar o aniversário do estúdio, mas também para enaltecer a riqueza artística que foi cunhada por um século no cinema. Devido a isso, era uma produção de grande responsabilidade para todos os envolvidos, visto que é um marco único para uma empresa que marcou diferentes gerações desde seu início. Os realizadores, Fawn Veerasunthorn e Chris Buck, planejaram um filme repleto de referências a outras obras do estúdio, assim como apostaram fielmente na nostalgia e no conforto que tudo isso traria para os espectadores. Contudo, um bom filme não se sustenta a base de referências, ele precisa ter vigor para existir e cativar por si só.

‘Wish: O poder dos desejos’ é uma comédia musical de animação, nela iremos acompanhar a protagonista Asha que habita no Reino de Rosas, próximo ao Mar Mediterrâneo. Em determinado momento do filme, ela descobre que o governante do reino, o Rei Magnífico, não é quem ele forjava ser. O rei possui o poder de realizar desejos, sejam eles quais for, entretanto, ele faz isso apenas com os que o convém. Quando Asha descobre esse segredo, ele torna-se seu inimigo e ela precisa descobrir como lidar com tudo. A premissa do filme pode suscitar interesses em quem ler, contudo, na prática, tudo se desenrolou da maneira mais genérica e previsível possível, fazendo com que nós tenhamos e saibamos que já assistimos essa história outras diversas vezes.

Lamentavelmente, Asha não nos conduz a nada novo. Na verdade, a protagonista não é uma Nova Personagem, ela é simplesmente o mesmo arquétipo de personagem feminina que a Disney tem feito há cerca 13 anos. Desde Enrolados (2010), dirigido por Nathan Greno e Byron Howard, nós assistimos a mesma e única personalidade feminina que a Disney se propõe a criar. É cansativo, pois, não temos a oportunidade de assistir a personagens diversas, plurais e que possuam sua própria unicidade no mundo fictício em que vive, e dentro da história do estúdio. Afinal, é mais fácil se utilizar do estereótipo da garota engraçada, curiosa e desengonçada, ou seja, que faz rir, do que construir alguém com nuances e vivências inexploradas. É importante pontuar que representatividade em protagonismo não é o suficiente, é preciso que a representação nos conduza a novos horizontes e possibilidades.

Aliado a isso, o Reino de Rosas é desafortunadamente construído. Nós não somos levados à sua história, à sua cultura, às suas crenças, a seus habitantes. O filme não parece ter a intenção de se debruçar nesses aspectos para enriquecer e solidificar aquele universo. Os realizadores se contentam em contar a história do reino em dez segundos, recorrendo à referência de livros de contos de fadas, contudo, do jeito mais fraco possível. A construção de mundo é falha, assim como, também, o desenvolvimento de todos os personagens secundários, sendo totalmente caricatos. Inclusive, até mesmo os laços familiares de Asha foram afetados pelo roteiro pobre que o filme possui, fazendo com que nós não criemos vínculo algum por nenhum deles.

Se não houve nenhum tato para desenvolver a protagonista do filme, muito menos houve intenções em conceber um bom vilão. Basicamente, a única coisa que sabemos sobre ele é seu aspecto egocêntrico e narcísico, e, pasmem, não houve sutileza alguma em nomeá-lo. Dessa forma, fica difícil enxergar e saber de onde vem o caminho repentino da sua maldade. Não há diálogo direto com suas motivações e seu egoísmo não é explorado, portanto, o que parece é que sua personalidade muda drasticamente e se solidifica enquanto alguém de má índole. Ambos, Asha e Magnífico, não possuem boas motivações e propósitos, tudo é desorientado. A mensagem principal do filme, sobre sonhos e desejos, acaba não tendo a força que poderia ter, justamente pelo desdobramento vago das intenções do vilão. Portanto, o ensinamento principal da Disney, de acreditar e ter fé, tristemente, não foi conduzido com a maestria que merecia.

O fato do filme ser também um musical não agrega em absolutamente nada, isso porque todas as músicas são extremamente tediosas, cansativas e o completo oposto de: animadas. Ao contrário dos grandes clássicos musicais do estúdio, aqui, infelizmente, não há nenhuma música memorável, não há um grande número que nos conquista a atenção e o encantamento de uma boa animação musical. É lamentável, porque a vontade que fica, após ouvir duas canções seguidas, é que a próxima demore para começar, porém, o melhor seria se não houvesse próximas. Na sessão que eu estava, havia algumas crianças, duas estavam sentadas próximas a mim, e é triste dizer que em momento algum elas esboçaram risadas, emoção ou estardalhaços que normalmente vemos bastante em filmes como esse. Além disso, é notável que alguns personagens estão no filme apenas para, por consequência da bilheteria, vender brinquedos. A entidade em formato de estrela que, pasmem, se chama Estrela, parece que foi arrancada de um jogo de vídeo game, isso porque ela está completamente deslocada do resto da animação.

A Disney apostou em referenciar os seus cem anos de história e acertou em errar a cada instante, pois, um filme não se sustenta a base de referências, ele precisa ter vigor para existir e cativar por si só. Nada existe enquanto paixão e vontade aqui, é somente um filme genérico e sem vida, mesmo tendo brilho e purpurina para todo lado. Na memória, preferirei pensar que o filme de celebração do centenário foi o curta-metragem “Era uma vez um Estúdio” (2023), dirigido por Dan Abraham e Trent Correy, pois, em nove minutos, eles conseguiram fazer um trabalho muito mais cativante e envolvente do que fizeram nesse longa-metragem.


Filme: Wish: O poder dos desejos
Elenco: Ariana DeBose, Chris Pine, Alan Tudyk, Angelique Cabral, Victor Garber
Direção: Fawn Veerasunthorn, Chris Buck
Roteiro: Fawn Veerasunthorn, Chris Buck, Allison Moore, Jennifer Lee
Produção: Estados Unidos
Ano: 2023
Gênero: Comédia, Fantasia, Musical
Sinopse: Essa é a história de Asha, de 17 anos, uma otimista com uma inteligência afiada que se preocupa infinitamente com sua comunidade. Em um momento de desespero, Asha faz um apelo apaixonado às estrelas, que é respondido por uma força cósmica, uma pequena bola de energia ilimitada chamada Estrela. Juntos, eles enfrentam o mais formidável dos inimigos para salvar sua comunidade e provar que quando a vontade de um humano corajoso se conecta com a magia das estrelas, coisas maravilhosas podem acontecer.
Classificação: Livre
Distribuidor: Walt Disney Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 3

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