CRÍTICA – HOW TO HAVE SEX

CRÍTICA – HOW TO HAVE SEX

Euforia transmutada em um existencialismo doloroso permeia How to Have Sex, uma jornada coming of age (termo designado à filmes com temática da chegada da juventude e amadurecimento) imersa em ansiedade, e que alerta para desafios na transição da adolescência para a vida adulta. Dirigido pela jovem cineasta Molly Manning Walker, que aqui estreia em longas-metragens. Como uma semi autobiografia, How to Have Sex se concentra em alguns dias do trio de amigas britânicas Tara, Skyle e Em, que planejam o que deveria ser as melhores férias de verão de suas vidas.

Adotando uma comunal estética naturalista, são trabalhados temas semelhantes aos de Spring Breakers (2012) de Harmony Korine: um drama juvenil com tensões sexuais sutilmente (e às vezes nem tanto) encobertas. Aos poucos, o que prometia ser uma viagem divertida e libertadora, acaba se tornando em um perigoso e traiçoeiro estado de êxtase e de armadilhas sexuais. E o filme trabalha muito bem com essa ideia de deslocamento, afinal, muitas vezes não somos nós mesmos em ambientes frenéticos e eufóricos, tendo que nos adaptar e lidar com situações incômodas.

A perspectiva feminina abraçada é envolvente e acertadamente capaz de gerar envolvimento. Aliás, catarses podem ser obtidas por espectadores de todas as idades: ansiedade nos espectadores mais jovens, que estão iniciando suas incursões na vida jovem-adulta, e quem sabe, o desbloqueio de memórias desconfortantes (ainda que cirúrgicas) para adultos. Com toda essa ânsia, o filme realiza a sutil constatação de que a cega satisfação de desejos carnais nem sempre leva a desfechos saudáveis, principalmente quando imerso em âmbitos sem o devido consentimento e confiança, aqui, rodeado por garotos imaturos que sequer trancam as portas ao irem à cama com suas ficantes, e recebem visitas indesejadas dos parceiros, comprovando sua aversão pelo afeto e pela maturidade. É explorado, no geral, os malefícios do excesso e da falta de cuidado.

Aproveitando a organicidade da interação das protagonistas com as paisagens, o diretor de fotografia Nicolas Canniccioni capta com frescor a efervescência desde os momentos de tumulto, aos de maior contemplação, como na belíssima cena inicial em que as três amigas tomam um banho de mar ao amanhecer. Todavia, a ainda inexperiência da diretora é naturalmente percebida, como pelo uso não variável da estética “realista” e alguns desfoques que passam do ponto, chamando atenção da câmera para si mesma.

Ainda que seu destaque seja nas cenas que habilmente transitam entre exuberância e um desespero internalizado, em um ponto de vista amplo, a fita não varia muito. Com isso, quero dizer que as 1h30min de duração acabam sendo simplórias, sabendo pincelar bem espontâneos momentos de tensão, mas sem nunca expandir para nuances mais profundas. As emoções se limitam aos acontecimentos da viagem, e tudo fica ali dentro desse quadrado – o que não o faz disfuncional, já que muito bem interpretado (em especial pela Mia McKenna-Bruce); mas o torna simples e nada extraordinário. E por fim, acaba acertadamente por subverter o sentido do título.


Filme: How to Have Sex
Elenco: Mia McKenna-Bruce, Lara Peake, Enva Lewis, Samuel Bottomley e Shaun Thomas
Direção: Molly Manning
Roteiro: Molly Manning
Produção: Reino Unido, Grécia
Ano2023
GêneroDrama
Sinopse: Três jovens amigas vão para o que deveria ser as melhores férias de verão de suas vidas.
Classificação16 anos
Distribuidor: Mubi
Streaming: Mubi
Nota: 7,0

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