CRÍTICA – BEEKEEPER: REDE DE VINGANÇA

CRÍTICA – BEEKEEPER: REDE DE VINGANÇA

A Tela Legitima de David Ayer

Após um período afastado dos grandes lançamentos, em grande parte devido às críticas desfavoráveis de “Esquadrão Suicida” (2016) e “Bright” (2017), David Ayer retorna à cena cinematográfica com sua mais recente obra, “The Beekeeper”, estrelada por Jason Statham. O novo filme de Ayer segue uma narrativa semelhante a outras que surgiram com o sucesso de “John Wick” – um homem comum tentando sobreviver em meio às tramas de um universo corrompido. O protagonista, Mr. Clay, trabalha com abelhas e, ao final do dia, compartilha momentos com uma aposentada que o trata como um filho. Após um incidente tenso, Mr. Clay decide caçar todos os que estão no topo desse suposto mundo corrompido, ou mundo tecnológico.

A identificação empática com os personagens não se mostra uma tarefa difícil, mesmo diante de uma direção de atores que não se destaca tanto ao longo da carreira de Ayer. Ele faz uso de estereótipos já enraizados nos filmes de ação para cultivar uma sensação de familiaridade e simpatia. Mesmo os antagonistas, muitas vezes repudiados pela falta de colaboração com os heróis, ganham uma camada de fascínio ao ocuparem uma posição que instiga nosso apreço pelo entretenimento e pela influência. Os antigos nerds das salas de aula agora se transformam em manipuladores digitais em uma Wall Street cibernética, onde poucas regras regem além da necessidade de agradar ao homem com o microfone que exige números bancários. Por se tratar de uma obra maniqueísta, por mais que tenha uma terceira via, o diretor utiliza planos quase que didáticos para exibir ambas as faces, uma face que deseja justiça e a outra que está mais preocupada com seu império. 

Um aspecto indiscutível da maestria do diretor reside em suas cenas de ação, mesmo em filmes mais antigos como “End of Watch” (2012), onde a ação não ocupa tanto espaço quanto em “The Beekeeper”, no entanto, quando essas cenas são apresentadas na tela, elas evocam sentimentos eufóricos. Os movimentos de ação são executados por um personagem quase imortal que, mesmo desarmado, consegue escapar de situações complexas no calor do momento ou em meio a uma roda de agentes do FBI. Além disso, percebo a violência de Ayer como uma espécie de ‘’vingança pessoal’’ contra uma geração que, de certa forma, impactou negativamente sua carreira. Em determinados momentos, é como se Jason Statham representasse o próprio diretor, travando uma batalha contra as novas tendências digitais de avaliar obras, questionar a formalidade da interpretação artística e desconsiderar suas banalidades. 

Outra temática recorrente na obra é a exploração de questões ligadas à justiça. O confronto entre Mr. Clay e a filha da mulher que o criou, agora trabalhando no FBI, é delineado em breves palavras entre eles. Curiosamente, seus diálogos, que poderiam ocorrer face a face, são, na verdade, revelados ao longo de encontros casuais com outras pessoas ao longo dos dias. Suas reflexões internas continuam a orbitar os temas que os envolvem, principalmente o atual sistema e as figuras que o compõem. Há até uma analogia envolvendo uma abelha rainha, mas a explanação é tão explícita para o espectador que a presença subjetiva é minimizada.Nos minutos finais, Mr. Clay enfrenta uma coalizão de anti-heróis (agentes do governo) e vilões (subordinados do antagonista) em uma casa de praia, um cenário de guerra irônico para alguém que havia se aposentado das operações secretas militares por anos. Um ponto intrigante é que a filha se abstém de disparar sua arma, mesmo quando confrontada por outros indivíduos ao longo do filme. Parece que ela está mais inclinada a permitir a vingança ocorrer, mesmo que isso signifique ir contra seu próprio senso de justiça, tanto no contexto profissional quanto em suas convicções pessoais que a impulsionam como indivíduo.
A obra conclui-se com uma perspectiva de novos encontros entre o The Beekeeper e possíveis novos problemas no sistema, ou melhor dizendo, novos problemas nas colmeias urbanas de um estado político que deixou de priorizar a antiga justiça. 


Filme: The Beekeeper (Beekeeper – Rede de Vingança)
Elenco: Jason Statham, Josh Hutcherson, Amber Sienna, Emmy Raver-Lampman, Jeremy Irons, Taylor James e Arian Nik
Direção: David Ayer
Roteiro: Kurt Wimmer
Produção: Estados Unidos
Ano: 2024
Gênero: Ação
Sinopse: A tentativa brutal de vingança de um homem gera riscos para toda a nação depois que ele é revelado como sendo ex-agente de uma organização poderosa e clandestina conhecida como “Beekeepers”.
Classificação: 18 anos
Distribuidor: Diamond Films Brasil
Streaming: Indisponível
Nota: 6,0

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