Natal do Club

Natal do Club

Com a chegada do Natal, o cinema assume um papel especial na celebração desta época, trazendo desde histórias que aquecem os corações até reflexões a respeito da solidariedade, esperança e união. Assim como fizemos no Halloween, o Club do Filme se reúne novamente, desta vez para apresentar a seleção Natal do Club. Nesta lista, nossos colunistas exploraram o universo natalino em suas mais variadas formas, escolhendo filmes que transitam por décadas, gêneros e estilos narrativos. Prepare-se para revisitar clássicos inesquecíveis e descobrir obras que celebram esta data.

Abaixo, você encontrará os filmes escolhidos para tornar o seu Natal ainda mais especial.

 

A Felicidade Não Se Compra (1946) – dir: Frank Capra

Bruno Barros

George Bailey é um homem generoso que dedica a sua vida a ajudar os outros. Em um momento de desespero na véspera de Natal, George planeja tirar a própria vida. No entanto, é salvo por um anjo que lhe mostra como seria o mundo sem ele.

No filme, o Natal representa redenção, união e esperança. É nessa data comemorativa que o espírito de solidariedade se manifesta de forma mais evidente na comunidade a qual George pertence. A celebração reforça os laços afetivos e ensina a valorizar aquilo que realmente importa.

Considerado um grande clássico do cinema, A Felicidade não Se Compra ensina que todos nós podemos fazer a diferença no mundo, sobretudo na vida de quem amamos. Além disso, influenciou vários filmes e séries com a sua abordagem, em que o otimismo e a esperança ocupam o centro da narrativa.

 

⁠De Ilusão Também se Vive (1947) – dir: George Seaton

Fábio Piovani

De Ilusão Também se Vive (1947), dirigido por George Seaton, é um clássico filme de Natal que segue a história de Kris Kringle (Edmund Gwenn), um homem que é contratado para ser o Papai Noel em uma loja de departamentos de Nova York. Kris, que afirma ser o verdadeiro Noel, é internado em um hospital psiquiátrico por questionar sua identidade. Na esperança de ter sua liberdade novamente, o homem vai ao tribunal para provar quem realmente é. Durante o julgamento, o juiz e o público começam a se questionar sobre a sanidade de Kris, enquanto a única pessoa que crê em sua verdadeira natureza é a pequena Susan (Natalie Wood).

Seaton transforma o arquétipo do filme de tribunal em um filme de natal. Enquanto o julgamento se desenrola, somos transportados para nossa própria infância, quando a crença no Papai Noel ainda existia. De Ilusão Também se Vive (1947) transborda a magia do Natal encantando-nos em cada detalhe. É um filme que celebra a inocência das crianças e a fé em milagres com uma estrutura nada convencional, finalizando com uma mensagem tocante sobre acreditar no impossível.

 

Duro de Matar (1988) – dir: John McTiernan

Duda Cavalcanti

Quem é apaixonado pela série de TV Friends (1994-2004) com certeza já ouviu falar em Duro de Matar, filme dirigido com muita avidez pelo John Mctierman, pois é um dos favoritos de alguns dos personagens do seriado. John McClane, protagonizado por Bruce Willis, é um detetive de Nova York que viaja a Los Angeles para se encontrar com Holly, sua esposa, interpretada por Bonnie Bedelia, que trabalha para uma empresa japonesa. Contudo, ao chegar no prédio da Nakatomi Trading, percebe que o edifício está sendo assaltado por um bando de terroristas e decide atrapalhar os planos para resgatar sua mulher.

O cinema de ação dos anos 1980 tem grandes méritos, um deles é construir a narrativa sem enrolação alguma. A racionalidade e a objetividade fazem a história de Duro de Matar tomar corpo com muito charme e adrenalina. É um filme de ação coeso em si mesmo, do roteiro à direção e do elenco à finalização. Não há nada fora do lugar. Os segmentos de ação aliados aos momentos emocionais são muito bem alternados; dessa maneira, temos a junção perfeita de um ótimo filme natalino fora do comum. Afinal, é o melhor filme de natal que não é, necessariamente, sobre o Natal!

Como diria o nosso protagonista: “Yippee-ki-yay, motherfucker!”

 

Decálogo III (1989) – dir: Krzysztof Kieślowski

Thiago Campelo

Decálogo é, originalmente, uma minissérie lançada, em 1989, para a TV polonesa e encabeçada pelo célebre Krzysztof Kieslowski (1941-1996). Conhecida como a principal obra do diretor, a série desdobra-se, como o título revela, em 10 episódios de cerca de 1 hora “baseados” nos mandamentos bíblicos. No entanto, não se trata da simples representação das ordenanças divinas numa Polônia do final da Guerra Fria. Kieslowski e Piesiewicz (corroteirista) usam o tema para arquitetar um belo e denso debate sobre questões éticas e morais de pessoas comuns que habitam um grande bloco residencial de Varsóvia. Aqui não se fala de deus, mas cria-se uma complexidade narrativa bastante ambígua em torno daquilo que é ordinário, o que se considera como universal e, talvez, o divino.

No terceiro episódio, Guardarás os Domingos e os Dias Santos, nenhum dos personagens buscam a santificação ou simplesmente passar a véspera de Natal como manda a cartilha religiosa. Ao contrário, a mentira e o desejo imperam enquanto artimanha para sobreviver à angústia de uma noite festiva passada só. Ewa (Maria Pakulnis) é uma mulher torturada pela solidão, que busca a ajuda de seu ex-amante, Janusz (Daniel Olbrychski), para encontrar o esposo desaparecido. Após a Missa do Galo, ambos partem numa jornada natalina guiada por uma espécie de jogo investigativo que atravessa a ausência do companheiro de Ewa e se embrenha nos sentimentos do ex-casal.

Entre os símbolos das comunhões da missa católica e da ceia em família, ressalta-se o isolamento dos dois personagens que, em meio a esse contexto, vivem a sua noite privada imersos em seu próprio tabuleiro de mentiras. Os planos são majoritariamente claustrofóbicos e mesmo nos enquadramentos mais abertos a sensação de solidão se faz presente. A fotografia, por vezes maneirista, de Piotr Sobociński também ressalta de forma soturna essa ambiguidade das festas invernais e da agonia desse reencontro natalino. Em suma, Kieslowski manipula a decadência das leis cristãs contrapondo-as sofisticadamente à banalidade das relações afetivas.

 

O Mundo Estranho de Jack (1993) – dir: Tim Burton

Juliana Filigoi

Nessa animação de Tim Burton, lançada no ano de 1993, conhecemos a criatura Jack Skellington, que vive na Cidade do Halloween, um local onde habitam diversas criaturas monstruosas celebrando o Dia das Bruxas por todo o ano.

Jack começa a sentir um grande vazio em sua localidade por estar repetidamente comemorando o Halloween; então, conhece a Cidade do Natal, que é um lugar de muita felicidade e de magia. Ensandecido com a ideia da festividade natalina, o pequeno esqueleto cria o caos ao planejar, com seus conterrâneos, um sequestro do Papai Noel para que o Natal seja tomado pelo verdadeiro pandemônio.

Vale a pena assistir pela genialidade de Burton e pelas músicas, que têm um papel divertido e fundamental na história. É um filme que engloba todas as idades mostrando que a magia do Natal é a verdadeira aceitação de quem somos e a valorização de nosso ambiente e onde vivemos.

 

Apenas Amigos (2005) – dir: Roger Kumble

Hugo França

O debate sobre o que define um “filme de Natal” ressurge todo fim de ano. Nessa época, a data comemorativa quase se transforma em um gênero cinematográfico, marcado pelos símbolos natalinos como cenário predominante. Contudo, há aqueles defensores ferrenhos de que um filme só pode ser considerado “filme de Natal” se evocar explicitamente o espírito da data ou tratar o tema como elemento central da narrativa. Por outro lado, há quem, como eu, defenda que filmes como Duro de Matar, Turbulência, etc, onde os símbolos natalinos servem apenas para contextualizar a época em que a história se passa, também merecem espaço nas listas desse “gênero”.

Apenas Amigos parece se encaixar no meio termo. Embora o Natal esteja presente ao longo de sua narrativa, o filme concentra-se essencialmente em sua comédia romântica. A história acompanha Chris Brander, um jovem que passou a adolescência inteira apaixonado por sua amiga de infância, Jamie Palamino. Preso na famigerada “friend zone”, Chris não consegue conquistar Jamie, que não facilita a situação. Dez anos depois, ele retorna à sua cidade natal como um homem transformado: um agente de celebridades bem-sucedido e confiante. No entanto, apesar de acreditar que sua nova versão tornará fácil conquistar Jamie, as coisas não saem como ele planejou.

Dirigido por Roger Kumble, o filme conquista por sua simplicidade despretensiosa e pela precisão em chegar exatamente onde quer. Sem exagerar no humor com piadas excessivas (as famosas sacadinhas nos filmes atuais), Apenas Amigos encontra um equilíbrio entre momentos cômicos e toques mais sérios quando o romance ganha destaque. É um exemplo de como a comédia pode assumir um papel secundário sem perder sua relevância na narrativa. Embora se insira em um lugar-comum do gênero e da época, o pano de fundo natalino adiciona um charme especial. Assistir ao filme nessa época do ano torna a experiência ainda mais divertida. Além disso, o longa faz uma breve crítica ao vazio de determinadas subcelebridades e o processo, igualmente vazio, de várias de suas composições.

 

Feliz Natal (2008) – dir: Selton Mello

Elpidio Rocha

Estreia do ator consagrado na direção, o filme conta a história de Caio, que retorna à casa paterna na véspera de Natal. É um reencontro dramático com Miguel (o pai que abandonou a família e vive com a amante), Mércia (a mão viciada em álcool e remédios) e Theo – o irmão bem sucedido financeiramente e amargurado com o casamento. Definitivamente, a “festa de família” tem um clima pesado e claustrofóbico em que os personagens precisam acertar as contas uns com os outros – e Caio é o elemento deflagrador das ações dramáticas.

Mello assume as influências de John Cassavetes, Lucrecia Martel e Luiz Fernando Carvalho construindo um drama de interpretações seguras e diálogos afiados. Não é o filme ideal para a alegria natalina protocolar, mas certamente o público vai se identificar com algum(a) personagem da história.

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