CRÍTICA – 12.12: O DIA

CRÍTICA – 12.12: O DIA

Na última quinta-feira (22/01), os cinemas brasileiros receberam a estreia do filme sul coreano 12.12: O dia (서울의 , 2023). Dirigido por Kim Sung-soo (The Flu, 2013), o longa-metragem foi a submissão da Coreia do Sul à categoria de filme internacional na edição de 2025 do Oscar, não conseguindo, ao fim, uma vaga entre os indicados.

12.12: O dia é uma obra histórica, baseada em eventos reais, que narra o golpe de estado que se iniciou na Coreia do Sul, em dezembro de 1979, após o assassinato do presidente em atividade e a instauração da lei marcial no país. Contando com um elenco de peso, o filme ambienta-se quase que por completo em um único dia, ou melhor, uma noite, na qual a tensão se acumula inquieta e perturba o espectador.

Algo que chama bastante a atenção para essa produção é a temática escolhida para ser representada. Embora nós, aqui do Ocidente, não tenhamos tanto conhecimento sobre a história dos países asiáticos, é sabido que este é um tema conflituoso dentro da Coreia do Sul. O embate gerado dentro da narrativa de 12.12 se dá entre o recém nomeado comandante de defesa da capital Lee Tae-shin (Jung Woo-sung – The good, the bad and the weird, 2008) e o comandante de defesa e segurança – e líder do grupo secreto Hanahoe – Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min – The wailing, 2016), responsável, posteriormente, pelo golpe de estado de 17 de maio de 1980, um dos massacres mais conhecidos do país.

Um ponto importante do filme reside no fato de que ele não apresenta, em nenhum momento, o povo sul coreano. Há, em certas sequências, a inclusão de personagens relacionados às vidas pessoais dos protagonistas, como suas esposas, mas, em praticamente todo o longa, somos cercados por homens em uniformes militares e agindo de forma robótica, cercados por concreto, armas e a toxicidade exacerbada do universo militar.

A violência, bastante comum em produções sul coreanas no geral, não é o ponto central de 12.12: O dia. Na verdade, esse gênero é até pouco explorado no filme, se levarmos em consideração outras obras como Oldboy (2003) ou até mesmo a série da Netflix Round 6 (Squid Game, 2021). Acredito que um dos objetivos da narrativa apresentada por Kim Sung-soo vem mais de mostrar a ineficiência de uma instituição que deveria ser o lugar reservado à segurança do país, além da escalada do poder pelos militares, algo que é muito bem colocado a partir do personagem de Hwang Jung-min.

De fato, o embate entre esses personagens não vem do lugar comum bem X mal, embora o filme escolha um vilão e um “mocinho”. Lee Tae-shin é apresentado como um homem que não se envolve em política e, por isso, é escolhido para o comando de segurança da capital pouco antes da insurreição. Esse personagem é, talvez, um dos mais fracos do filme, e com isso não estou dizendo que ele não é um bom personagem; na verdade, o ponto forte de Lee Tae-shin está na sua fraqueza.

A atuação de Jung Woo-sung é totalmente condizente com o perfil de seu papel, e nesse ponto reside um certo incômodo em relação a essa figura específica. Embora ele lute, de todas as formas, para proteger Seul, sua imagem é constantemente ofuscada por medo, insegurança e até mesmo, talvez, falta de preparo para realizar sua “missão”.

Quando relembro que a história retoma acontecimentos reais, imagino que, se Lee Tae-shin fosse mesmo da forma que é representado em 12.12: O dia, o fato de ter sido escolhido para o comando de segurança da capital soa um tanto quanto duvidoso, embora seu superior, que o escolheu e confiou a capital em suas mãos, foi também uma das vítimas do grupo Hanahoe.

Quem realmente brilha no filme é Hwang Jung-min. O ator, que geralmente tem uma atuação voltada ao humor, mesmo quando interpreta vilões, deixa de lado qualquer resquício de graça em sua interpretação. Os sentimentos em relação ao seu personagem caminham entre a raiva, o desprezo e até o nojo. Sua performance não soa exagerada, ainda que o tipo de personagem aqui esteja na linha tênue entre um grande vilão e um canastrão.

Recordar é (re)viver e, embora 12.12: O dia nos mostre que em muitas vezes o “mal” vence – da mesma maneira que Ainda Estou Aqui nos mostra também – nós ainda temos a arte para não deixar que o mundo se esqueça. Os acontecimentos retratados neste filme e os que vieram posteriormente pelas mãos do mesmo líder reverberam até hoje dentro da sociedade sul coreana. Talvez, por isso, o filme tenha sido o mais assistido no país no ano de seu lançamento, 2023, e o sexto filme mais assistido da história da Coreia do Sul.


Filme: 서울의 봄 (12.12: O dia)
Elenco: Hwang Jung-min, Jung Woo-sung, Lee Sung-min, Park Hae-joon, Kim Sung Kyun, Kim Eui-sung, Jung Dong-hwan, Ahn Nae-sang, Choi Byung-mo.
Direção: Kim Sung-soo
Roteiro: Kim Sung-soo, Lee Ji-min, Kim Seong-tae, Hong In-pyo, Hong Won-chan, Lee Young-jong.
Produção: Coreia do Sul
Ano: 2023
Gênero: Crime, Drama, História, Suspense
Sinopse: Na Coreia do Sul, em 1979, o comandante de segurança Chun Doo-gwang e os oficiais que o seguem organizam um golpe. Lee Tae-shin, o teimoso comandante de defesa da capital Seul, acredita que os soldados não devem tomar ações políticas e luta contra Chun Doo-gwang.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Sato Company
Streaming: Indisponível
Nota: 7,3

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