Não há como assistir ao longametragem A Crônica Francesa (2021), de Wes Anderson, e não defini-lo como: uma carta de amor ao jornalismo impresso. Principalmente, para quem já realizou uma graduação na área e atuou em redações de jornais e revistas. Na verdade, ver as páginas de um periódico de jornalismo literário serem “traduzidas” para a tela do cinema ao estilo Anderson pode ser uma experiência um tanto poética para nós. Afinal, esse longa exala sentimentos de idealismo e empolgação que qualquer estudante, que escolhe esse curso por paixão, experimenta em seus primeiros anos de formação.
Mas A Crônica Francesa não é uma obra que vale ser vista apenas por jornalistas. Se engana quem pensa que esse é um daqueles filmes-homenagem carregados de um sentimentalismo que torna a exibição de 1h47min algo extremamente entediante. É preciso lembrar que estamos falando de Wes Anderson. Como de costume, o diretor opta por contar histórias de personagens disfuncionais, em suas aventuras e desventuras, utilizando-se de diálogos bastante peculiares e senso de humor que provoca o riso em momentos que isso não deveria acontecer.
Nesse longametragem, Anderson dá vida à revista A Crônica Francesa, um veículo de comunicação produzido por profissionais estadunidenses que trabalham em uma pequena cidade fictícia da França do século XX, chamada Ennui-sur-Blasé. As tramas dessa publicação são narradas a partir da morte de seu editor-chefe, Arthur Howitzer Jr (Bill Murray), que solicita em testamento que seu obituário seja também o último texto publicado pelo periódico. Para contar essa história, o diretor utiliza como recurso narrativo a divisão do filme em seções típicas de jornais e revistas, sendo as escolhidas: obituário, turismo, arte, política e gastronomia.
Apesar de A Crônica Francesa ser uma homenagem emocionante e muito bem construída, é preciso ser sincera: os minutos iniciais do longa não são lá tão empolgantes assim. Seu início tem um ritmo lento, dando a sensação que a obra se resume apenas a um filme de impecável senso estético. Como em outros trabalhos de Anderson, esse longametragem conta com uma meticulosa simetria, abuso de tons saturados e pastéis, além das lindas miniaturas de Simon Weisse. No entanto, no decorrer do longa, o diretor passa a apresentar também um enredo que conta com histórias divertidas e reflexões sobre o fazer jornalístico, como a impossibilidade de se alcançar a imparcialidade.
Mas você deve estar se perguntando: o que levou Wes Anderson a prestar uma homenagem ao jornalismo? Na verdade, o diretor é um grande fã da revista The New Yorker, que publica críticas, ensaios, reportagens e ficções semanalmente nos Estados Unidos. Uma das referências a essa publicação no filme está nas diversas capas de A Crônica Francesa que são apresentadas junto aos créditos finais. Todas contam com diagramação e ilustrações que remetem ao estilo inconfundível da The New Yorker. Alguns profissionais de destaque da imprensa mundial também inspiraram o diretor. Um exemplo é a jornalista da revista parisiense L’oeil, Rosamond Bernier, que é representada no longa pela crítica de arte J.K.L. Berensen (Tilda Swinton).
Para que esse longametragem estivesse à altura de seus homenageados, Anderson se preocupou não só com a estética de sua obra – através da utilização dos artifícios mencionados anteriormente e de outros recursos artísticos, como animações e técnicas teatrais –, mas também com a qualidade da atuação, selecionando um elenco composto por alguns dos melhores atores de Hollywood na atualidade, como Benicio Del Toro, Adrien Brody, Tilda Swinton, Frances McDormand, Christoph Waltz, Timothée Chalamet, Saoirse Ronan, Elizabeth Moss, entre outros.
Há quem diga que os filmes de Wes Anderson são estéreis e sem humanidade, devido à sua busca pela perfeição, que nem sempre é tão perfeita assim. Basta lembrar das miniaturas de Simon Weisse, que se propõem a apresentar pequenos defeitos, como as construções da vida real. Sendo assim, é possível perceber que a humanidade de Anderson está justamente nos detalhes de suas obras, principalmente quando seus personagens mais peculiares se deparam com questões que acabam se revelando extremamente reais. A Crônica Francesa é só mais um exemplo disso.
Filme: The French Dispatch (A Crônica Francesa) Elenco: Bill Murray, Tilda Swinton, Frances McDormand, Benicio Del Toro, Timothée Chalamet Direção: Wes Anderson Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola e Hugo Guinness Produção: Estados Unidos, Alemanha Ano: 2021 Gênero: Comédia, Drama, Romance Sinopse: A Crônica Francesa retrata histórias publicadas em uma revista estadunidense com redação localizada em uma cidade francesa fictícia do século XX. Classificação: 14 anos Distribuidor: Searchlight Pictures Streaming: Star+ Nota: 8,7 |
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