A MODA E O AUDIOVISUAL

A MODA E O AUDIOVISUAL

A moda e o cinema sempre caminharam de mãos dadas. Ambos vendem sonhos e realidades e transmitem suas mensagens, sendo muito mais do que só mera estética. Ao assistir um filme de época, por exemplo, podemos facilmente entender o período em que a história se passa, as características dos personagens e seus contextos sociais pelas vestimentas. 

Revendo O Diabo Veste Prada percebi que sua relação com o mundo da moda é muito mais do que só como pano de fundo ou como representação de uma certa segurança e independência adquirida pela protagonista. É um filme que traz discussões sobre estabelecimentos de padrões estéticos e como eles refletem diretamente na vida de cada um dos personagens. Para ser aceita como assistente da editora-chefe da revista mais conceituada de moda, a personagem de Anne Hathaway precisa se render aos padrões estético-sociais exigidos para poder circular por esse meio. Isso a faz se tornar mais confiante, o que reflete diretamente em suas roupas mais ousadas, mas também traz a tridimensionalidade da personagem ao perceber que ela está deixando de ser ela mesma. 

No Brasil, essa relação é bem mais estreita. A cultura das novelas no país facilita muito essa percepção e isso não é de hoje. Quem nunca viu uma tendência lançada por alguma personagem da Giovanna Antonelli que atire a primeira pedra. Seja desde os acessórios da Jade de O Clone (2001), até as capinhas de celular da delegada Helô de Salve Jorge (2012). É claro que isso também é mérito de toda a equipe de arte das novelas e, certamente, da atriz, já que para o público “vestir a camisa” da personagem, é necessária identificação. Como produto midiático e marketing, é maravilhoso! Quanto mais promoção para a novela e para as personagens, mais lucros para a emissora.

Um filme que me intriga é Her, de Spike Jonze. Ele se passa numa espécie de futuro, mas seus figurinos são super setentistas. Isso também quer dizer algo. Ao meu ver é um filme que trata de amor, mesmo que seja entre um homem e uma inteligência artificial, e o amor independe do tempo. O amor humaniza. Ainda mais um amor romântico, platônico. Nesse caso as roupas vão muito além do que representar  ideia de uma época, mas traz consigo uma oportunidade para os espectadores analisarem, refletirem e questionarem.

Por outro lado, é muito engraçado assistir Sex and The City em 2023. É uma série que retrata a moda feminina dos anos 90 de todas as maneiras possíveis e isso é incrível. Carrie, a influencer  que existe antes mesmo desse termo ser criado, com certeza é a rainha do street style das ruas de Manhattan. Charlotte é a romântica perfeita, clássica e sofisticada. Miranda é uma workaholic bem-sucedida, advogada com ar de androginia. Samantha é sexy, vaidosa e empoderada. Ou seja, diversos tipos de estilos em um só lugar. Todas as personagens, inclusive, frequentavam a elite nova iorquina, lançando moda por onde passavam. Isso é o retrato de uma geração que, além de se espelhar, queria ser como elas.

 Hoje em dia, inclusive, com o spin-off And Just Like That…, com elas na faixa dos 50 anos de idade em um mundo tomado pelas redes sociais e por novos movimentos de mudança social, muitas das maneiras de se ver, sentir e perceber a moda mudaram. O trabalho para construção dos personagens e seus figurinos é muito maior, já que hoje em dia os modismos surgem e desaparecem muito mais rápido. Além disso, por conta da horizontalidade das mídias, o público é moldado a partir de personalidades e seus comportamentos, não só estilo. Fora esse lado, repensar o consumismo exacerbado presente na série original é essencial para essas novas perspectivas de moda. A moda sustentável e econômica está aí e veio para ficar! Hoje em dia, comprar sapatos impulsivamente só porque terminou com o Mr. Big não é mais tão legal – e ecologicamente correto – para Carrie Bradshaw e para os espectadores. No mais, acompanhar a evolução estética das personagens ao longo dos anos, que acompanha o desenvolvimento pessoal de cada uma, é divertidíssimo.

Por isso, a moda é muito mais do que só um aspecto de uma produção audiovisual. Ela é uma estratégia de marketing, fenômeno de comportamento e até uma forma de provocação dentro das narrativas. Se você está lendo isso e nunca teve essas percepções, ou até já percebeu e quer ir atrás de mais referências, convido você a analisar seus filmes favoritos. Ele se passa em alguma época? Se sim, as roupas fazem sentido com ela ou não? Se a resposta for não, qual seria o por quê? Seu personagem favorito continuaria sendo o mesmo se não fosse pelas suas vestimentas?  Qual o motivo? Enfim, acho que é um exercício legal e interessante para investigar esses aspectos.

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