CRÍTICA – DESEJO PROIBIDO

CRÍTICA – DESEJO PROIBIDO

O filme Desejo Proibido (2023), que estreia hoje (06 de abril de 2023), tem como sua maior publicidade o fato do diretor, Tomasz Mandes, ser aquele mesmo que dirigiu o filme 365 dias. E como era de se esperar o filme, aqui, é, também, desprovido de qualquer criatividade e bom senso, a começar pelo seu roteiro.

Olga (Magdalena Boczarska) é mulher madura, entre 40 e 50 anos, e pela sua enorme casa percebemos que faz parte da classe alta daquela sociedade em que vive, mas é possível, já nesse primeiro momento, perceber a solidão da personagem. Sem criar nenhuma expectativa no público quanto a trama, Mandes, já nas primeiras cenas, alterna ora com Olga em sua casa ora com Max (Simone Susinna) numa praia, de forma que, de imediato, o espectador já consiga fazer previsões acertadas sobre o destino de cada um desses personagens.

Passados alguns minutos, temos mais informações sobre Olga. Ela é juíza, tem diferenças com sua mãe, bem como com sua filha também, a qual não sabemos do paradeiro. O trabalho em cima de Olga, ainda que de forma superficial, traz autenticidade para o drama. Suas inseguranças são criveis. Suas relações de amizade fortalecem nossa empatia. Então ela (personagem/atriz) é o grande acerto do filme e talvez o único.

É preocupante como um filme como esse, que tenta ir por um caminho – o de trabalhar a sexualidade através do gênero e, sobretudo, da idade -, acaba facilmente caindo no mesmo lugar comum de tantos outros filmes que abordam esse tipo de trama (um drama erótico tal qual o filme The Voyeurs), a exploração da nudez e de cenas de sexo. A mulher acaba sendo subjugada, o homem é o grande conquistador, aquele que traz um sentido para a vida daquela pobre mulher. O discurso além de equivocado é totalmente vazio. Olga é uma mulher bem resolvida, bem relacionada e bem-sucedida. Não chegou ao cargo de juíza à toa e não tem, claramente, devoção a ser subordinada e muito menos vocação para ser enganada e nesse sentido o filme trai justamente o background da sua principal personagem.

Embora as cenas entre os dois personagens possam exalar sensualidade, evocadas por uma trilha sonora bem colocada – sempre anunciando as cenas antes mesmo que o primeiro botão seja aberto -, em certo momento já passa a soar enfadonha e cafona, uma vez que novamente o filme perde a oportunidade de surpreender, de criar expectativas. Em vez disso nos entrega tudo o que vai acontecer segundos antes de acontecer.

É exatamente o que acontece com Maya (Katarzyna Sawczuk), filha de Olga. O diretor estraga qualquer suspense sobre essa personagem ao coloca-la diversas vezes em evidência. Aliás é uma pena o que criam em cima dessa personagem. Quando o filme parecia não ter como ficar pior, Mandes escolhe colocar mãe e filha disputando Max. E embora, através de um dialogo solto no final do filme em que tenta desfazer essa impressão inicial, é claro que a escolha do diretor está em elevar o homem e fazer com que mulheres briguem entre si. E para isso Mandes não poupa em cenas que Maya se insinua para Max, nua, mesmo sabendo que ele está com sua mãe. Realmente é um desserviço o que esse diretor propõe aqui.

Como citei anteriormente, a única parte lógica desse filme e que segue uma linha pouco questionável do inicio ao fim é Olga. É nela que percebemos o filme se desenvolver. Antes uma mulher monocromática, apostando no preto e no cinza, que passa a usar roupas despojadas e de cores mais abertas. Seus movimentos deixam de ser discretos e passam a ser mais efusivos, ela se torna mais impulsiva. De fato, mesmo tendo tudo o que poderia ter, Olga se sentia presa. A relação com Max – que poderia ser com qualquer outro – a faz sair dessa rotina acinzentada que a aprisionava.

Se com Olga e, até mesmo, com Maya percebemos, diante do desenvolvimento das personagens, um passado que explica o comportamento delas, nada temos sobre Max, a não ser que é um italiano vivendo na Polônia. Novamente Mandes direciona a personagem Olga para o completo oposto do que ela é. Ela se relaciona com alguém que tem envolvimento direto com um de seus casos. Max nunca lhe deu qualquer informação sobre quem é ou de onde veio. Além disso terá a oportunidade, em determinado momento, de falar a verdade, mas escolhe se omitir. Algo que no filme nem chega a ser questionado. Pior. Há um acesso de raiva em Max, no qual ele é extremamente violento, mas algumas cenas depois ele está falando em como Olga o tornou melhor. Enfim, a hipocrisia.

Existem muitos filmes machistas, misóginos, mas em sua grande maioria se escondem por trás de tramas elaboradas, com ideias que propõem reflexões. Desejo Proibido nem se esforça. Explora uma ideia totalmente deturpada da mulher e só falta criar um altar para colocar Max – a figura do Macho Alfa – em um pedestal.


Filme: Heaven in Hell (Desejo Proibido)
Elenco: Magdalena Boczarska, Simone Susinna, Katarzyna Sawczuk, Janusz Chabior, Sebastian Fabijanski, Elzbieta Jarosik
Direção: Tomasz Mandes
Roteiro: Tomasz Mandes, Mojca Tirs
Produção: Polônia
Ano: 2023
Gênero: Drama, Romance
Sinopse: Depois de se envolver com a filha de Olga, Max (Simone Susinna) começa a desenvolver um sentimento por Olga (Magdalena Boczarska) e inicia um romance com ela sem saber da relação entre as duas. Os dois embarcam em um romance tórrido, até que a filha de Olga descobre e põe tudo a perder.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Paris Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 4,0

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