CRÍTICA – GATO DE BOTAS 2: O ÚLTIMO PEDIDO

CRÍTICA – GATO DE BOTAS 2: O ÚLTIMO PEDIDO

2022 foi um ano bastante feliz para os fãs do Shrekverso. O lançamento do segundo filme solo do personagem Gato de Botas foi algo muito esperado e, surpreendentemente diferente do primeiro longa, Gato de Botas 2: O último pedido (Puss in Boots: The last wish, 2022) foi muito bem recebido por público e crítica, garantindo assim uma indicação de melhor animação na 95ª edição do Oscar.

Como uma grande fã de Shrek e dos personagens de seu universo, assisti ao filme do Gato com muito boa vontade não uma, mas duas vezes. Na primeira vez com o áudio original, na segunda vez dublado. Posso dizer que, nesse caso, o filme não perde em nada se assistido de qualquer uma das formas. É claro que, assistir com o áudio original em inglês é tentador, uma vez que o nosso querido Wagner Moura concede sua voz a um dos personagens mais importantes para a história, o antagonista ao gato, o lobo misterioso e sombrio que o persegue e lhe faz, pela primeira vez em nove vidas, sentir medo.

O enredo de Gato de Botas 2 traz a história da última vida do gato. Após viver por anos de forma desregrada e despreocupada, o protagonista se encontra em sua nona vida (no Brasil, a tradição diz que os gatos tem sete vidas, lá fora são nove). Assim, o médico (ou barbeiro) que o examina lhe recomenda a aposentadoria, sem mais aventuras ou diversão, apenas viver calmamente até que a morte chegue para ele. É dessa forma, fragilizado por essas palavras que o Gato, que ri na cara da morte, encontra pela primeira vez com o Lobo, que logo de início já consegue fazer seus pelos arrepiarem e esse sentimento até então desconhecido por ele surgir. Para recuperar suas nove vidas, ele precisará partir em uma nova aventura, em busca da estrela mágica do último pedido.

Desde o início do filme, somos apresentados a esse personagem já conhecido, um Gato valente que ajuda a todos e mantém sua própria lenda viva, o herói mais destemido, como diz a música que ecoa em nossos ouvidos mesmo depois do filme acabar. Como dito antes, já conhecemos a personalidade desse personagem, mas o roteiro de Gato de Botas 2 parece focado em nos mostrar principalmente o lado mais egoísta do protagonista, ao mesmo tempo em que também exibe sua própria solidão. Ainda que seja uma lenda querida e adorada por onde quer que passe, esse personagem não consegue pensar em amigos próximos com quem possa contar.

Ao iniciar sua busca pelo último pedido, Gato encontra uma velha conhecida, Kitty Pata Mansa, que de maneira peculiar, está ao seu lado. Também encontra, no caminho, Cachinhos Dourados e a família de Ursos e João Trombeta, o grande vilão aqui. Não podemos deixar de mencionar o cachorrinho que se disfarça de gato e força uma amizade com o protagonista: mais tarde chamado de Perrito, esse cachorrinho tem uma história triste e ainda assim é o personagem mais puro do filme, ocupando então o lugar de animal chato falante ao lado de Gato e Kitty.

Um dos pontos altos do filme está na técnica de animação utilizada. Na maioria do tempo, assistimos à animação tradicional em 2D dos estúdios DreamWorks, porém, nas cenas de ação, os quadros exibidos se parecem com uma história em quadrinhos em movimento e isso só agrega à produção. O uso das cores é bem elaborado e a explosão de brilho e contrastes é animadora e satisfatória, não há como ficar entediado assistindo. Outro ponto a se mencionar é a presença das referências à cultura pop e a outros filmes, característica comum aos filmes de Shrek. Uma das minhas favoritas está no exército de João Trombeta, que traz Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015, George Miller) para o universo colorido de Gato de Botas.

A narrativa expõe, durante o percurso destes três grupos, as fraquezas, egoísmos e ambições desses personagens. A jornada do Gato que antes era sobre recuperar suas vidas e usá-las em seu próprio benefício vai mudando ao longo do caminho, junto com seu coração que passa a entender melhor as relações que o destino coloca em sua vida. Da mesma forma, a jornada de Cachinhos e os Ursos também é atingida pelo decorrer das batalhas, mudando completamente seu rumo.

O único divergente ali é João Trombeta. Assim como é mostrado que pessoas podem mudar de opinião e encontrar o lado bom dentro de si, também vemos que existem àqueles que não estão dispostos a mudar por ninguém. É curioso como o roteiro aqui coloca bem esse personagem em meio aos outros, em certo momento, João Trombeta chega a reclamar de sua infância, que teve pais presentes, uma mansão, uma fábrica de tortas para ele herdar e amor incondicional. Diferente de Perrito – que teve o exato oposto em sua família –, esse personagem é mesquinho e mau.

Ao se encaminhar para os minutos finais, o reencontro com o Lobo é inadiável. Após todo o caminho percorrido, os três grupos conseguem chegar à estrela, onde o antagonista espera somente pelo Gato. Em uma batalha final, o protagonista tem que lutar de igual para igual com esse Lobo, que ingenuamente espera encontrar o mesmo Gato com quem conversara outras vezes ao longo do caminho.

A morte, que é sempre a mesma, não pode competir com o Gato, que é o herói mais destemido. Ao seguir a jornada de descoberta de si próprio, o protagonista chega à conclusão de que junto aos seus amigos ele é, sim, mais forte. E sua bravura no final vence a morte, não sem reconhecer que um dia ele não será páreo para ela. O medo que antes cercava a existência do fim, acabou se transformando em uma consciência de que ele chegará e que viver da melhor forma é o certo a se fazer. O grande acerto do roteiro de Gato de Botas 2 está em abordar tais temas de forma leve, uma vez que o filme é direcionado principalmente – mas não somente – ao público infantil. O gancho da cena final é nostálgico e emociona, gerando muitas expectativas para o futuro desse universo cinematográfico tão querido por grande parte do público.


  Filme: Gato de Botas 2: O último pedido (Puss in Boots: The last wish)
Elenco: Antonio Banderas, Salma Hayek, Wagner Moura, Harvey Guillén, Florence Pugh, Olivia Colman, Ray Winstone, Samson Kayo, John Mullaney, Da’vine Joy Randolph.
Direção: Joel Crawford
Roteiro: Tommy Swerdlow, Etan Cohen, Paul Fisher, Tom Wheeler.
Produção: EUA
Ano: 2022
Gênero: Animação, Aventura, Comédia, Família.
Sinopse: O Gato de Botas descobre que sua paixão por aventura teve um preço: ele já gastou oito das suas nove vidas. Por causa disso, o Gato embarca em uma jornada épica para envolver o místico Último Desejo para restaurar suas nove vidas.
Classificação: Livre
Distribuidor: Universal Pictures, DreamWorks
Streaming: Indisponível
Nota: 8,5

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