CRÍTICA – INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO

CRÍTICA – INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO

Marcando o retorno do lendário arqueólogo vivido por Harrison Ford em sua quinta e possivelmente última aventura, “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”, não decepciona, ao contrário do quarto filme da franquia, mas ainda é inferior à trilogia dirigida por Steven Spielberg. Dirigido por James Mangold, o filme mergulha na nostalgia ao fazer várias referências aos longas anteriores e consegue encerrar bem a franquia, apesar de algumas inconsistências narrativas. Em “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”, o renomado arqueólogo e aventureiro Indiana Jones (Harrison Ford) embarca em uma missão inesperada, enfrentando os desafios de uma nova era e sua iminente aposentadoria. Enquanto luta para se adaptar a um mundo que o deixou para trás, ele se depara com um antigo rival que ameaça obter um artefato histórico poderoso. Determinado a evitar que isso aconteça, Jones une forças com sua afilhada Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge) e parte em uma corrida contra o tempo para preservar a história e deter o vilão Jürgen Voller (Mads Mikkelsen).

Logo na abertura, somos apresentados novamente ao jovem Indiana Jones, capturado por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Embora o uso de CGI ainda não seja muito refinado, a sequência inicial proporciona momentos de pura adrenalina, apesar de apresentar uma mise-en-scène um tanto confusa. É difícil acompanhar espacialmente algumas cenas de ação, pois muitas vezes não fica claro onde os personagens estão localizados e em relação ao que, enquanto estão combatendo. No entanto, James Mangold consegue trazer freneticidade ao ritmo da trama por meio de uma montagem paralela, criando um senso de urgência e perigo. Indiana Jones precisa escapar de um trem lotado de nazistas armados enquanto carrega um objeto desconhecido e ajuda seu amigo. Tudo isso ocorre em cima do trem, em meio a bombas, soldados armados e túneis que se tornam verdadeiros obstáculos.

Aliado a isso, Mangold trabalha de forma eficaz na construção e no cuidado da apresentação de alguns elementos icônicos do cinema. Em determinado momento, Indiana Jones recupera seu chapéu e chicote, elementos que representam a essência do personagem. A maneira como esses itens são capturados pela câmera ressalta sua importância e valor simbólico, reforçando a iconografia que os acompanha ao longo da saga. Nesse momento, uma trilha sonora leve com um trecho do tema composto por John Williams desperta uma onda de nostalgia, remetendo a memórias de aventuras passadas.

Memórias essas que, juntamente com a noção de pertencimento do protagonista, compõem a temática principal do quinto filme. Na cena ambientada na sala de aula, “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” explora de forma inteligente a dinâmica geracional. O enquadramento em contra-plongée, em que os alunos são retratados como superiores a Indiana Jones, revela uma diminuição da relevância e uma certa desvalorização de suas conquistas ao longo do tempo. Essa abordagem visual reflete a maneira como a nova geração enxerga as realizações do protagonista, inclusive as mostradas na cena inicial do filme.

Dentro da sala de aula, testemunhamos alunos desinteressados e apáticos, que não respondem às perguntas de Indiana Jones e até mesmo mastigam chicletes de forma desrespeitosa. Logo em seguida, a aula é interrompida abruptamente quando alguns alunos trazem uma televisão exibindo uma notícia de grande impacto, capturando a atenção de todos. Essa transição simbólica, em que o projetor utilizado por Jones vai gradativamente saindo de cena para dar lugar à televisão, reforça o conflito geracional e o desinteresse que o arqueólogo enfrenta por parte da nova geração. A festa de aposentadoria de Indiana Jones também serve como uma representação visual de como tem sido sua vida nos últimos anos. Os convidados vestidos predominantemente em tons monocromáticos de marrom e cinza, a escassez de balões e aplausos tímidos transmitem a mesma ideia.

E se o enredo do filme gira em torno da busca por uma máquina capaz de trazer a possibilidade de voltar ao passado, Mangold aproveita para trazer diversas referências de filmes anteriores. Uma delas é a presença de uma figura jovem, uma criança nativa do país em que grande parte da história se desenrola, trazendo à mente lembranças do segundo filme da saga. Nesse caso, Teddy desempenha um papel semelhante ao de Short Round. Outra referência ocorre quando Indiana Jones se infiltra em um leilão clandestino no Marrocos para interromper a venda de um dos artefatos que ele está procurando. Utilizando seu chicote, ele manipula e ameaça vários homens. Após uma pausa momentânea, os vilões reagem sacando suas armas e atirando freneticamente em Jones, evocando uma clara alusão à cena icônica do primeiro filme da franquia, na qual Indiana Jones, em vez de lutar contra o espadachim de forma convencional, saca sua pistola e atira no espadachim.

Aliado a essas alusões e referências, o filme cria suas próprias cenas memoráveis. Desde uma emocionante perseguição em que Indiana Jones escapa de motos montado em um cavalo em meio a um desfile, até uma sequência que envolve carros, motos e até mesmo um tuc tuc, carro de três rodas, conduzido pelo próprio Jones, oferecendo uma bela combinação de ação e humor, características marcantes da franquia.

Com uma atuação sólida, Mads Mikkelsen confere sutileza e complexidade a Jurgen Voller, um nazista que se manteve encoberto por décadas. Inicialmente, Voller demonstra suas ações malignas de forma discreta. A forma retraída com a qual ele dita suas ações malignas no início vai sendo substituída por um tom cada vez mais perverso e menos disfarçado. É como se a verdadeira essência de Voller, antes oculta, fosse aos poucos sendo revelada e Mikkelsen faz isso de modo quase imperceptível.

Entretanto, “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” apresenta alguns problemas narrativos no segundo ato. Embora a trama seja um pouco confusa, pois necessita de alguma complexidade para esconder o mistério, o grande problema reside na falta de variedade em sua estrutura. Ao longo da maior parte do filme, acompanhamos Indiana Jones em sua busca pelo artefato cobiçado tanto por ele quanto por Jurgen Voller e sua equipe. Enquanto Voller já possui uma parte do objeto, Indiana precisa encontrar a segunda parte e um mapa que o conduzirá à abertura de uma fissura temporal para voltar ao passado. A cada avanço conquistado por Indiana Jones, Helena e Teddy, os vilões surgem de maneira semelhante para frustrar seus planos. Essa repetição neutraliza qualquer elemento de surpresa que poderia ser trazido, além de afetar até mesmo o senso de perigo que os vilões deveriam representar. O espectador rapidamente começa a antecipar a chegada desses antagonistas, não apenas quando vão chegar, mas também como vão chegar, tornando tudo um tanto previsível.

Apesar dos problemas no segundo ato, o desfecho de “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” é recompensador. A sensação de pertencimento a outro mundo, ou até mesmo a um mundo passado, são temas que presentes na cena final, marcada por uma bela surpresa para o público e fãs da franquia. É uma bela homenagem e um digno encerramento da franquia, embora possa não alcançar o mesmo nível das trilogias anteriores. Mas ainda assim, é agradável a forma como Harrison Ford se despede do personagem, tirando o gosto amargo deixado por Reino da Caveira de Cristal.


Filme: Indiana Jones and the Dial of Destiny (Indiana Jones e a Relíquia do Destino)
Elenco: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Antonio Banderas, John Rhys-Davies, Toby Jones, Boyd Holbrook, Ethann Isidore, Mads Mikkelsen, Karen Allen, Shaunette Renée Wilson, Thomas Kretschmann
Direção: James Mangold
Roteiro: James Mangold, David Koepp, Jez Butterworth, John-Henry Butterworth
Produção: Estados Unidos
Ano: 2023
Gênero: Aventura, Ação, Ficção
Sinopse: Indiana Jones e o Chamado do Destino passa em 1969, onde o já conhecido arqueólogo e aventureiro americano vivido por Harrison Ford vive no cenário da Corrida Espacial. Jones está preocupado com o fato de o governo dos Estados Unidos ter recrutado ex-nazistas para ajudar a vencer a União Soviética na competição para chegar ao espaço.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Walt Disney
Streaming: Indisponível
Nota: 7,0

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *