CRÍTICA – MAESTRO

CRÍTICA – MAESTRO

Cinebiografias são um gênero complicado no cinema. Ao mesmo tempo em que apresentam uma história – aparentemente – real, elas também não entram nos domínios do documentário. Entregues muitas vezes como homenagens, elas podem se mostrar verdadeiros “presentes de grego” aos homenageados. Maestro, novo filme de Bradley Cooper – que protagoniza e dirige a obra – se propõe a uma homenagem ao maestro Leonard Bernstein e à sua relação com a atriz Felicia Montealegre. O filme chega aos cinemas brasileiros em 7 de dezembro e será adicionado ao catálogo da Netflix em 20 de dezembro.

A história de Leonard, dividida em momentos coloridos e em preto e branco, dá conta de um período bastante longo da vida do maestro, desde os tempos em que era um aprendiz e compositor de musicais. Em sua introdução, somos apresentados a um Leonard idoso – colorido – que relembra dos momentos no passado com sua esposa Felicia – interpretada por Carey Mulligan – para logo a imagem em cores ser trocada pela monocromática.

Apesar de o filme seguir uma ordem cronológica de eventos na vida de Leonard e Felicia, abordando momentos importantes das vidas dos dois personagens, percebe-se uma certa bagunça no roteiro assinado por Cooper e Josh Singer – roteirista focado em histórias da “vida real” como Spotlight (2015) e First Man (2018). Assim como muitas outras biografias, há uma necessidade, aqui, de mostrar os eventos de maneira limpa e “família”, ao apenas pincelar a apresentação de fatos como a bissexualidade e uso de drogas por parte de Bernstein.

Para além deste problema, há ainda a questão da representatividade que foi centro de uma pequena discussão mais cedo este ano. O fato de Bradley Cooper, ao interpretar um judeu, utilizar diversas próteses para se tornar mais parecido com Leonard Bernstein foi um incômodo para parte do público que se sentiu ofendido por estas próteses. Sabemos que em Hollywood isso não é um problema, visto que a Academia parece apreciar bastante, e até premiar tais representações. Vide o caso de 2018, quando um amontoado de próteses recebeu o Oscar de melhor ator na premiação.

Há, é claro, pequenos pontos positivos na narrativa e apresentação de Maestro, como por exemplo o uso de preto e branco e de cores para marcar momentos e tempos diferentes na vida de Leonard e Felicia. Não há como negar que a direção de fotografia é muito bem aplicada ao roteiro não muito bem escrito e atuado do filme. O design de som também agrada aos ouvidos e tenta conduzir da melhor maneira possível as escolhas do roteiro confuso do filme.

Infelizmente, não há tantos pontos altos quando se trata da atuação entregue. Bradley Cooper não é dos melhores atores da atualidade, apesar de sempre estar presente em premiações. Carey Mulligan, que de fato mereceu suas indicações passadas, parece estar perdida em meio a um roteiro que não lhe exige muito como atriz, ainda que as melhores cenas do filme sejam conduzidas por ela. Apesar de ter sentido muito sono durante a exibição, uma das cenas de Mulligan quase me levou às lágrimas.

O elenco de apoio do filme também não é das escolhas mais acertadas, principalmente Sarah Silverman como Shirley Bernstein – irmã do maestro. Sua atuação fora do tom dá o “ar de sua graça”, para a sorte do público, poucas vezes. Acredito que o pior estava reservado para Matt Bomer. O galã de olhos azuis que quase não tem falas parece ser apenas um souvenir em cena, aparecendo para compor uma narrativa que não se sustenta, seja pela falta de química entre Bomer e Cooper, seja pela falta de tato ao lidar com essa parte da vida de Bernstein.

Muito curioso é o fato de que o segundo filme de Bradley Cooper como diretor tenha recebido como produtores executivos grandes nomes do cinema como Steven Spielberg e Martin Scorcese. O cenário de fundo para a produção desse filme parecia perfeito, ainda que o seu resultado tenha saído bastante aquém da perfeição. A vantagem que Cooper parece ter frente a outros realizadores é realmente digna de nota. Sorte? Talvez. Há muitos outros fatores que podem ser levados em consideração sobre a insistência da máquina do entretenimento mantê-lo sempre por perto, as vistas do público.

Um dos pontos que agrada em Maestro, para não ser injusta aqui, é a aplicação de Cooper nas cenas em que rege orquestras ou toca o piano. Há notícia de que o ator/diretor estudou por cerca de seis anos para interpretar uma cena de seis minutos onde rege uma grande orquestra. De fato, esta é uma das melhores cenas de seu filme, que infelizmente dura pouco, se levarmos em consideração a longa duração de 2h10min que passam muito lentamente durante sua exibição.

Há muitos problemas de execução em Maestro e, ao final, não sabemos dizer que história se pretendia contar com esse filme. A homenagem idealizada por Bradley Cooper acaba por se transformar em uma colcha de retalhos sem vida, que não conta história nenhuma. São imagens bonitas e uma trilha sonora bem colocada, porém, depois de sua exibição, esquecer o que foi assistido não é uma tarefa muito difícil, na verdade, não é sequer necessário se esforçar, uma vez que as imagens vão se esvaindo de nossa mente de forma ligeira.


  Filme: Maestro
Elenco: Bradley Cooper, Carey Mulligan, Matt Bomer, Sarah Silverman.
Direção: Bradley Cooper
Roteiro: Bradley Cooper, Josh Singer
Produção: EUA
Ano: 2023
Gênero: Drama
Sinopse: Esta história de amor acompanha o complexo relacionamento entre Leonard Bernstein e Felicia Montealegre Cohn Bernstein.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Netflix
Streaming: Indisponível
Nota: 5,0

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